Teresa Ponce de Leão, em entrevista à Lusa, salienta no entanto que da potência instalada em Portugal metade é proveniente de energia renovável, dividida em partes iguais entre hídrica e eólica. “Já tivemos dias em que a totalidade do consumo no país foi abastecida a partir de energias renováveis”, afirma, acrescentando que Portugal tem feito um grande esforço “para que as interligações (elétricas) da rede europeia sejam viáveis”. “Para podermos aproveitar todo esse recurso que temos em energias renováveis e podermos exportar para o resto dos países”.
Na semana passada Portugal, Espanha e França assinaram em Madrid uma declaração segundo a qual se comprometem a trabalhar para tirar a Península Ibérica do isolamento quanto a interconexões elétricas.
Teresa Ponce de Leão sublinha que a Europa está dependente da energia fóssil que chega de outros países e que serão uma mais-valia essas interconexões.
“Estou a falar dos recursos do sul, em particular da Península Ibérica, que para já é uma ilha porque não temos ligações para exportar, mas também dos recursos do mar do norte e do seu potencial eólico”, afirma a responsável, que se congratula por ver a França hoje mais sensibilizada para as energias renováveis, em detrimento do nuclear.
Não quer dizer que as renováveis sejam infinitas. Questionada pela Lusa a presidente do LNEG diz que no caso da energia eólica ainda não se atingiu o limite mas que a potência já está toda distribuída pelos investidores.
No caso da eólica o LNEG identificou “os locais com viabilidade económica, as restrições geomorfológicas, as naturais (parques naturais por exemplo), o acesso aos locais, e a partir daí identificámos o potencial sustentável, que andaria por volta dos cinco mil e tal megawatts”, explica a responsável, salientando que a evolução da tecnologia vai permitir tirar mais partido dos parques eólicos.
Onde há um “potencial enorme” é na energia solar e na biomassa, diz a presidente do LNEG, entidade responsável pela investigação no domínio da energia e da geologia, quer para políticas públicas quer para apoiar as empresas. “Investigamos para transferir conhecimento para a sociedade”, diz Teresa Ponce de Leão, que conta para isso com quase 300 pessoas, sendo 110 delas investigadores.
É o LNEG que identifica potenciais zonas de investimento em renováveis (central fotovoltaica da Amareleja por exemplo), que mapeia as zonas mais favoráveis para aproveitar a energia das ondas, que está a desenvolver em parceria um estudo para eventual aproveitamento da “energia geotérmica profunda” na Madeira, ou um projeto para a construção de uma bio-refinaria, na zona centro.
Teresa Ponce de Leão dá outros exemplos. O LNEG investiga novas tecnologias de painéis solares a partir de novos materiais, mais baratos e rentáveis, e assim “criar oportunidades para a indústria nacional”.
A responsável garante que hoje os painéis solares estão muito mais acessíveis, e acredita que quando os edifícios públicos se renderam à energia solar os privados também o farão. “A energia eólica também começou com um ou dois parques”, lembra.
Ponce de Leão garante que em poucos anos há lucros visíveis. E dá o exemplo do edifício solar do LNEG no Lumiar. Um edifício de escritórios com quase uma década, sem custos extraordinários de construção e que depende em menos de 20 por cento da energia da rede.