“A filha número dois está a seguir a filha número um na carreira. Não sei porque gastei tanto dinheiro na educação delas.” Foi mais ou menos isto o que disse o empresário Roddy Campbell, pai da modelo britânica Edie Campbell, de 24 anos, e de Olympia, 18, que recentemente se estreou nas lides da passarela. Estima-se que, ao todo, a educação privada de ambas tenha custado qualquer coisa como 250.000 libras (perto de 350 mil euros).

As palavras do pai, tornadas públicas esta segunda-feira, causaram um impacto tal que a também modelo Rebecca Pearson escreveu um artigo de opinião no Telegraph onde argumenta que as declarações em causa foram “ofensivas”. Pearson fala sobre um dos maiores equívocos associados à indústria da moda, isto é, o facto de as pessoas comummente acharem que a massa cinzenta não tem espaço de manobra nesse universo: “Isso não podia estar mais errado. De facto, eu concordaria que — mais do que nunca — nós, modelos, precisamos de uma educação sólida que nos ajude a navegar rapidamente nesta indústria em rápida mudança.”

Eddie Campbell / © Getty Images

Em defesa do seu ponto de vista, Pearson critica que, regra geral, as pessoas não veem o que se passa nos bastidores de desfiles ou de sessões fotográficas e dá exemplos das provações por que passam as modelos — até porque, enquanto adolescentes, têm de se adaptar rapidamente a viver em cidades estrangeiras. A modelo afirma ainda que há mais concorrência no mercado, com atrizes, bloggers e apresentadoras a “roubarem-lhes” os trabalhos. Por esse e outros motivos, os comentários de Roddy Campbell “reduzem as raparigas na indústria da moda a nada mais do que objetos. Manequins. Mulheres para quem a educação não foi necessária”, argumenta.

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Rebecca Pearson traz ainda ao debate o facto de as carreiras em questão terem uma curta duração, pelo que é fundamental que as modelos se adaptem — findos os desfiles — a diferentes realidades. Talvez por isso algumas delas tenham optado por mostrar competências noutras áreas, desde a representação ao empreendedorismo. E não é a única a pensar assim. Candice Swanepoel, anjo da marca de lingerie Victoria’s Secret, argumenta que ser bonita não é o suficiente para se ser bem sucedida na indústria da moda. Citada pela edição norte-americana da Vogue, a loira sul-africana defende que as modelos devem abraçar uma consciência para os negócios de modo a garantir longevidade.

As modelos que também são empresárias

Cara Delevingne
Desfila, representa e canta. Começou a dar que falar em 2011 quando apareceu em campanhas de moda para a Burberry e para a H&M, conta o Business Insider. Um ano depois desfilava para marcas como Chanel, Dolce & Gabbana, Fendi e Stella McCartney. Com a carreira longe de acabar, Cara — e as suas icónicas sobrancelhas — dá os primeiros passos no universo da representação: primeiro com um pequeno papel na última adaptação cinematográfica de Anna Karenina, filme protagonizado por Keira Knightly, e agora na vez de protagonista na longa-metragem Cidades de Papel (mesmo que o seu sotaque norte-americano esteja a ser alvo de conversa).

https://twitter.com/highsnobiety/status/577453659887419392

Agyness Deyn
Em agosto de 2014, o site The Cut escrevia que a modelo estava desaparecida da passarela desde 2009. Mas à falta de desfiles somaram-se quatro anos de investimento numa carreira de atriz e uma linha de roupa chamada Title A. A roupa destina-se a mulheres, ainda que seja inspirada no design masculino.

Miranda Kerr
No verão do ano passado, a imprensa dava conta que Kerr era a terceira modelo mais bem paga no mundo, a acumular 7 milhões de dólares num ano, apenas superada por Gisele Bundchen e — empatadas num segundo lugar — Doutzen Kroes e Adriana Lima. Aquela que foi a primeira modelo australiana a usar as asas de anjo da marca Victoria’s Secret não perdeu tempo e em outubro de 2009 lançou uma linha própria de cuidados para a pele, Kora Organics.

https://twitter.com/menvillemag/status/577150920988971010

Cindy Crawford
Muito recentemente foi vítima de photoshop, quando uma fotografia falsamente editada circulou pela Internet a mostrar uma Cindy com as supostas marcas do tempo. A verdade é que, mesmo aos 49 anos, aquela que foi uma das primeiras supermodelos, ao lado de nomes como Linda Evangelista ou Claudia Schiffer, continua em forma. E com queda para o negócio. Se em tempos disse ser presidente de uma companhia cujo produto principal era a própria Cindy Crawford, hoje tem outras responsabilidades em seu nome: linhas de roupa, produtos de beleza e até uma linha de design de interiores.

Elle Macpherson
Ficou universalmente conhecida, em 1986, pela alcunha “O Corpo” devido às medidas perfeitas e pelo facto de ter sido capa da Sports Illustrated cinco vezes. Mas Elle Macpherson foi além da carreira de modelo: transformou a sua reputação numa marca de enorme sucesso e hoje é diretora criativa da empresa de lingerie Elle Macpherson Intimates. O negócio em questão já rendeu milhões de euros, mas há ainda outras iniciativas associada à imagem da supermodelo — chegou a apresentar e a ter o cargo de produtora executiva de reality shows associados à moda, em ambos os lados do Atlântico. Macpherson criou todo um império com a ajuda de vídeos de exercícios para promover a boa forma física, produtos de beleza e até coleções de roupa interior.

Tyra Banks
O rosto é facilmente reconhecível, não fosse Tyra Banks uma apresentadora de televisão de sucesso — quem não se lembra do America’s Next Top Model e das suas múltiplas temporadas? Em 2012, Tyra ingressou na universidade de Harvard para estudar estratégia, liderança, marketing e finanças, entre outras matérias. Isto porque, tal como disse ao site Fast Company, a ex-modelo quer deixar um legado em vida. O certo é que ela tem a sua própria linha de cosméticos, uma startup 100% autofinanciada.

Kate Moss
Aos 41 anos, celebrados em janeiro último, é considerada uma das supermodelos mais icónicas do mundo. Isso é, pelo menos, o que escreve o britânico Metro. A carreira que começou em plena adolescência, quando foi descoberta aos 14 anos no aeroporto JFK, não vê forma de abrandar — recentemente foi convidada para ser a capa da edição que celebrou o 40º aniversário da revista Playboy. Mais do que modelo, Kate Moss já provou ter competências noutras áreas: serve de exemplo a primeira coleção para a marca Topshop, em 2007, a qual foi repetida outras duas vezes. Além disso, o ano passado decidiu participar no filme natalício The boy in the dress (“O rapaz no vestido”, em português), a primeira longa-metragem em que entrou, mas não a estreia enquanto atriz.

 Claudia Schiffer
Aos 44 anos, a supermodelo parece estar a seguir os passos das colegas de profissão: lançou uma linha homónima de malhas em 2011 e vai agora criar uma coleção cápsula para a Tse. A modelo alemã vai colaborar com a marca de roupa criada em 1989 por duas temporadas, sendo que as primeiras peças chegam ao mercado neste outono.