A procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, considerou que os comentários publicados no Facebook por um grupo de magistrados do Ministério Público (MP), a propósito da prisão de José Sócrates, foram um exercício da “liberdade de expressão”, refere o Diário de Notícias.

A 14 de abril, o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), responsável pela gestão e disciplina dos procuradores do MP, abriu um inquérito a um grupo de magistrados pela forma como se referiram nas redes sociais à prisão de José Sócrates.

Em causa estavam vários posts escritos no Facebook após a detenção do ex-primeiro ministro, a 21 de novembro, e que incluíam frases como “há dias perfeitos” ou ainda “com toda a razão, afinal ele estava habituado aos mais requintados restaurantes em Paris”, a propósito do pedido para que existisse uma melhor alimentação no Estabelecimento Prisional de Évora.

“Que corrupio na cadeia de Évora. Estarão todos com o rabo preso? Dizem que quem lá vai são os entalados do regime. Se assim é, ainda a procissão vai no adro”, escreveu no Facebook um dos magistrados.

A deliberação, porém, não foi unanime. Dos 19 membros do CSMP, dois abstiveram-se e quatro votaram contra. Joana Marques Vidal opôs-se ao inquérito, considerando que “em face dos elementos disponíveis, dificilmente se pode configurar alguma infração disciplinar, em particular em espaços onde coexiste a liberdade de expressão“, refere a ata do plenário.

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“Ademais, no âmbito do processo disciplinar, os meios de prova legalmente admissíveis em ambiente digital prefiguram uma baixa expectativa de resolução do caso, em especial no que respeita à determinação dos respetivos autores”, referiu ainda Joana Marques Vidal.

O advogado de Sócrates, João Araújo, foi um dos primeiros a chamar a atenção para a postura dos magistrados. Numa entrevista dada em fevereiro à RTP, Araújo disse tratarem-se de “uma garotada que invadiu os tribunais e que se entretém com estas parvoíces em vez de estar a despachar processos”.

Na mesma entrevista, o advogado classificou ainda os grupos de Facebook onde os comentários eram publicados como “a coisa mais desbragada que se pode imaginar com juízes e procuradores a dizerem as coisas mais absurdas”.