“O povo grego é sábio e tem capacidade para tomar as decisões acertadas para o bem do nosso país. Uma decisão positiva do povo grego não será apenas positiva para a Grécia, será positiva também para a Europa.”

Não é Alexis Tsipras em 2015, mas sim George Papandreou em 2011, então primeiro-ministro da Grécia.

Passou-se a 1 de novembro de 2011. Menos de uma semana antes, no dia 27 de outubro, foi elaborado um plano de resgate em que a troika faria um empréstimo de 100 mil milhões de euros e um perdão de metade da dívida grega. Em troca, Atenas teria de implementar mais medidas de austeridade — ainda mais do que aquelas a que se comprometeu a 3 de maio de 2010, data de assinatura do primeiro memorando grego.

Por isso, em vez de assinar logo um segundo plano de resgate, Papandreou quis antes consultar os cidadãos gregos para saber se eles estavam de acordo.

A reação da Alemanha e da França não tardaram. A chanceler germânica, Angela Merkel, e o então Presidente francês, Nicolas Sarkozy, fizeram uma conferência de imprensa a dois onde demonstraram alguma reticência quanto ao plano grego.

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Merkel pediu uma clarificação da consulta popular anunciada por Papandreou, dizendo que esta devia “ser sobre se a Grécia quer ou não ficar no euro”. “É preciso que não haja dúvidas quanto ao referendo que foi anunciado”, disse, condição sem a qual não seriam libertadas as seis tranches do novo empréstimo. Sarkozy apontou na mesma direção, dizendo que o dinheiro só chegaria a Atenas se “toda a incerteza que paira sobre este referendo desaparecer”.

O fim de Papandreou

A nível interno, o anúncio de um referendo para decidir se a Grécia aceitaria ou não um novo memorando também não foi bem recebido. O líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, na altura líder da oposição e que em junho de 2012 passaria a ser primeiro-ministro do país, disse que a consulta popular anunciada por Papandreou provocaria uma “cisão nacional”. O resto da oposição pediu eleições antecipadas.

Nem dentro do PASOK, o partido de Papandreou, a ideia de um referendo foi consensual. Na altura, o ministro das Finanças socialista, Evangelos Venizelos, disse que tinha sido apanhado de surpresa por este anúncio. Pouco depois, foi o próprio Venizelos a liderar um movimento interno que exigia ao primeiro-ministro não só que desistisse do referendo, mas também que se demitisse.

No dia 3 de novembro de 2011, uma semana depois de prometer uma consulta popular, Papandreou deixou a ideia cair por terra. E, no dia seguinte, o seu governo foi sujeito a uma moção de confiança. Passou por pouco, mas a imagem política do socialista nunca mais foi a mesma a partir daí.

A Nova Democracia exigiu-lhe eleições antecipadas e Papandreou respondeu-lhes com um convite para um governo interino. O acordo foi firmado no dia 7 de novembro. Papandreou demitiu-se e deu o lugar a Lucas Papademos, um tecnocrata independente que durou até às eleições de 17 de junho de 2012.

Aí, já com Evangelos Venizelos, os socialistas do PASOK tiveram o primeiro grande rombo eleitoral da sua história. Em 2009, sob a liderança de Papandreou, tiveram 44% dos votos e uma maioria absoluta. Três anos depois passaram a ser o terceiro partido mais votado, com apenas 12,3%. Dessa vez, a Nova Democracia de Samaras ficou em primeiro com 29,7%. Logo atrás, com 26,9%, ficou um partido até aí pouco conhecido liderado por um homem nada familiar: o Syriza de Alexis Tsipras.