Um quadro de Paula Rego no qual a pintora alude à morte do marido, em 1988, foi arrematado num leilão em Londres esta quarta-feira por 1,6 milhões de euros, um novo recorde da artista da portuguesa.
“The Cadet and his Sister” [O cadete e a irmã], um acrílico sobre papel em tela, de 1988, aborda o tema da despedida, mostrando um cadete vestido com o uniforme do Colégio Militar, de partida para o combate, que se despede da irmã enquanto ela se ajoelha e ata os sapatos.
A composição remete para um importante acontecimento na vida pessoal da pintora portuguesa, porque, nesse mesmo ano, faleceu o seu marido, o também artista Victor Willing, de esclerose múltipla.
Esse ano foi igualmente importante na carreira de Paula Rego, pois passou a ser representada pela galeria Marlborough Fine Art, em Londres, e distinguida com uma grande retrospetiva do seu trabalho pela Serpentine Gallery, na capital britânica.
Propriedade de um colecionador privado americano, “The Cadet and his Sister” tinha uma estimativa inicial de entre 846 mil euros e 1,130 milhões de euros, mas acabou por ser arrematado por 1.614.795 euros, um novo recorde da artista, adiantou à agência Lusa fonte da Sotheby’s, organizadora do leilão.
Uma outra obra de Paula Rego, “Looking Out” (1997), um pastel sobre papel em suporte de alumínio, com estimativa entre 707 mil euros e 989 mil euros, foi arrematado por uma licitação final de 1.360.941 euros.
“Looking Out”, criada por Paula Rego em 1997, faz parte de uma série de trabalhos da pintora inspirados no livro “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós, que conta a história de um jovem padre que mantém uma relação amorosa clandestina com uma empregada, Amélia.
Esta tela – emblemática de toda a obra de Paula Rego em que denuncia a condição feminina – retrata Amélia, sozinha, debruçada na janela de uma casa, dando uma imagem de frustração e aprisionamento, enquanto espera o dia do parto.
As obras faziam parte do Leilão de Arte Contemporânea da Sotheby’s, que decorre entre hoje e amanhã e que tem em leilão obras de Francis Bacon, Lucien Freud e David Hockney.
“One Dollar Bill (Silver Certificate)” [Nota de Um Dólar (Certificado de Prata)], pintado por Andy Warhol em 1962, foi arrematado por 29,4 milhões de euros, o valor de venda mais alto de sempre de uma obra contemporânea num leilão em Londres.
A obra, uma reprodução de uma nota de dólar norte-americano, destaca-se por ser a única pintada à mão pelo artista conhecido pelos seus trabalhos de Pop Art e tinha uma estimativa de entre 18,4 milhões e 25,4 milhões de euros.
Outro recorde para um trabalho em papel foi estabelecido por “Head of Gerda Bohm (1961), um retrato que o britânico Frank Auerbach pintou da prima Gerda, e que disparou de uma estimativa de entre 353 mil e 495 mil euros para um preço final de 3,1 milhões de euros.
O valor total obtido no primeiro dia de leilão foi, segundo a Sotheby’s, de 130.376.500 libras (183.870.149 milhões de euros).