Quase metade dos alunos do sexto ano chumbou no exame nacional de matemática – 45% não conseguiu ter uma avaliação positiva na prova que marcou o final do ano letivo passado. E, mesmo entre os que passaram, o cenário não é animador: numa escala de o a 100% a média da avaliação dos exames fixou-se em 51%. “Os números governam o mundo”, escreveu o filósofo e matemático grego Pitágoras. Mas governam nas escolas?

Inês Santos dá explicações de matemática a alunos de vários anos de escolaridade. Em 2013, decidiu investir na sua formação e inscreveu-se no MBA promovido pela Universidade Católica e pela Universidade Nova de Lisboa, o The Lisbon MBA. Foi lá que Inês conheceu Bruno Franco. Foi lá que também conheceu João Ramos. Foi lá que nasceu a Mathvolution.

“A Inês é explicadora e sentia que grande parte do seu tempo podia ser otimizado se conseguisse automatizar o processo de escolha de exercícios, respetiva correção e induzir quais eram as dificuldades dos alunos. Ela achava que se conseguisse automatizar isto, conseguiria encontrar uma forma mais rápida de chegar às dificuldades”, conta Bruno Franco, 38 anos, ao Observador.

Para encontrar os exercícios adequados às dificuldades de cada aluno, Inês perdia grande parte do seu tempo à procura deles em manuais, livros de exercícios ou na internet. Por que não criar um algoritmo capaz de automatizar esta procura e otimizar o tempo de cada sessão de apoio ao aluno? Por que não inclui-lo numa plataforma que catalogasse os exercícios por tipo de dificuldade dos alunos?

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A Mathvolution nasceu assim, num exercício académico que teve direito a uma simulação de mercado e ao desenvolvimento de um plano de negócios. Ainda sem que houvesse efetivamente plataforma. Quando o ano acabou, Bruno Franco encontrou um ex-colega num evento de empreendedorismo da Beta-i – Associação para a Promoção do Empreendedorismo.

“Raptei-o para desenvolver a plataforma”, conta. Se houve “momento chave” para transformar a ideia em negócio, foi aquele. Quando a ideia começou a ganhar forma – leia-se, plataforma – decidiram avançar com o projeto.

“Eu achava que havia potencial porque entregávamos valor numa área como a da educação. Antes de avançarmos, fomos a alguns eventos de empreendedorismo e fizemos uma apresentação do projeto a vários investidores. E o feedback foi muito positivo, mas era preciso termos tração para que investissem”, conta. Ou seja, tinham de provar que a plataforma funcionava.

Desistiram de apresentar a ideia aos investidores e foram pô-la em prática. Arrancaram com um teste piloto num agrupamento de escolas de Carcavelos e desenvolveram a primeira versão do Mathvolution, com exercícios de matemática online para alunos do sexto ano – um ano considerado “fulcral” para a progressão do aluno em termos de consolidação de conceitos, explica Bruno Franco.

Recolheram feedback das escolas, provaram que o conceito funcionava e melhoraram-no. Hoje, a Mathvolution tem mais de 1700 exercícios e, lançada a 28 de setembro, conta com mais de 900 utilizadores.

“A adesão está a ser surpreendente e já estamos a faturar. A Mathvolution é baseada num modelo freemium [serviços base gratuitos, mas serviços premium com um custo] e no serviço gratuito os alunos podem aceder a 700 exercícios até nível três. No outros níveis, pagos, temos mais mil. E já temos pessoas a pagar por estes níveis”, conta.

Nos objetivos a curto prazo, está a expansão da plataforma em Portugal, com a inclusão de exercícios do quinto e do sétimo ano, e além fronteiras, com a probabilidade de, nos próximos dois anos, o Brasil ser o primeiro a testar a plataforma. “Temos a preocupação de que a a matemática chegue a todos”, diz.

À procura de 400 mil euros para internacionalizar

Bruno Franco saiu da empresa onde trabalhava e está dedicado a 100% ao Mathvolution. Inês Santos continua a dar explicações de matemática, João Ramos está dedicado ao projeto em part-time, bem como João Gomes, o último membro a juntar-se à equipa. O investimento foi realizado com capitais próprios, mas já submeteram uma candidatura à Portugal Ventures, para cerca de 400 mil euros.

Com o novo investimento, querem partir para outras ideias: um algoritmo inteligente que deteta automaticamente quais as dificuldades do aluno e o encaminha para os exercícios adequados, elaborado em parceria com investigadores da Faculdade de Ciências.

“Por exemplo, se o aluno está a fazer exercícios do sexto ano e o algoritmo deteta que a dificuldade está em conceitos que se aprendem no quarto ano, então a ideia é direcionar automaticamente o aluno para exercícios desse ano”, diz Bruno Franco.

Os exercícios da Mathvolution estão agrupados por nível de dificuldade permitindo uma evolução gradual do aluno. Os alunos podem acompanhar o seu desempenho, rever questões e identificar os temas em que tiveram maiores dificuldades. E os seus tutores – pais, professores, explicadores – podem fazer o mesmo.

Apesar de não existir uma app da plataforma, Bruno Franco diz que o site está apto para ser consultado em tablets.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.