Na verdade — e como bem sabe quem já laureou a pevide por aquelas paragens –, o Douro oferece vistas fabulosas em qualquer altura do ano. Isso não impediu, contudo, os responsáveis da Traveler, a revista de viagens do grupo Condé Nast, de eleger a região como uma das 8 mais bonitas em todo o mundo para ver as folhas cair. Diz a publicação:

Protegido dos ventos fortes do Atlântico pelas serras do Marão e de Montemuro, o Vale do Douro é uma das principais regiões vinícolas de Portugal e um lugar único para apreciar a queda das folhas. Em vez de grandes árvores, as colinas aqui estão cobertas por filas cuidadas de vinhas em socalcos. No outono, as vinhas surgem como escadas coloridas a partir do rio. Passeie ao longo das colinas onduladas no ar ameno de outono e complete o dia com uma garrafa do melhor vinho da região.”

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É este tipo de paisagem que pode esperar do Douro (ou parte dele), em pleno outono. (foto: Veronique Mergaux / Flickr)

Perante elogios deste calibre resta ao Observador fazer a metade do trabalho que a Traveler não fez. Ou seja, dizer o que é que se pode fazer, de facto, no Douro, além de contemplar a paisagem património mundial da UNESCO. A saber:

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Onde ficar

Viajar pela região vinhateira do Douro é, pese o cenário idílico, bem cansativo. As distâncias geográficas entre os vários pontos de interesse podem não ser impressionantes, mas as estradas serpenteantes socalco acima socalco abaixo são capazes de moer o mais experiente dos viajantes. Assim, é recomendável investir em descanso de qualidade. Seguem três sugestões.

Comecemos pelo Six Senses, antigo Aquapura, adquirido no ano passado pela cadeia asiática homónima. Instalado num solar do século XIX, na quinta de Vale Abraão (celebrizada pelo filme de Manoel de Oliveira), reabriu em julho deste ano depois de uma ligeira renovação. Destaca-se não só pela variedade de quartos, suítes e vilas como pelo spa, pelas duas piscinas, uma delas interior, e por uma Wine Library que conta com várias centenas de referências.

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A imponência do solar onde está instalado o Six Senses é evidente.
(foto: ©Tiago Pais / Observador)

Também junto a Peso da Régua, a Quinta do Vallado, que chegou a pertencer a Dona Antónia Adelaide Ferreira, a famosa Ferreirinha, alberga aquilo a que os seus responsáveis chamam um wine hotel, dividido por dois edifícios, o original e um outro concluído em 2012. Já perto de Foz Côa, em Castelo Melhor, a mesma Quinta do Vallado detém a Casa do Rio, que abriu em julho deste ano e se destaca não só pela construção, totalmente em madeira, como por parecer totalmente suspensa sobre o rio. São apenas seis quartos, é certo, mas o cachet é elevado e o cenário único.

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A Casa do Rio fica na Quinta do Orgal, adquirida pela Quinta do Vallado em 2009.
(foto: Jorge Castro / quintadovallado.com)

O que fazer

Se o tempo estiver de feição, é imperativo navegar no Douro. Atenção: a ideia não é simular as atribuladas viagens dos barcos rabelos, que transportavam as pipas de vinho até ao Porto, mas antes apreciar aquela que é a zona demarcada mais antiga do mundo a partir do rio. Isto só é possível, diga-se, graças às barragens construídas nas décadas de 50 e 60 do século passado, que tornaram o Douro bem mais navegável do que até aí. Há várias hipóteses neste campeonato: dos programas da Pipadouro, a bordo de duas embarcações vintage, que têm rotas, durações e propósitos variáveis, ao luxo proposto pela Douro Azul, cuja oferta inclui, entre outros, passeios a bordo de iates dignos de oligarca russo.

Outras sugestões de atividades na região, como provas de vinho, ou piqueniques, estão bem documentadas. Tanto na Quinta do Pôpa, como na Quinta Nova ou na Quinta do Panascal há propostas do género. Igualmente importante será passar pelo incrível talho Qualifer, no centro do Pinhão, e entregar-se às mãos de Fernando Rebelo, homem que tem enchidos para combater todos os males, do cieiro às varizes. E basta provar para acreditar.

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Fernando Rebelo, dono do Qualifer, garante que cada um destes enchidos tem propriedades únicas. Holísticas, inclusive. (foto: © Tiago Pais/Observador)

Para chegar ao Pinhão, vindo de Peso da Régua (cidade que pode ser considerada, ainda que não oficialmente, uma espécie de capital da região) implica uma viagem pela Estrada Nacional 222, distinguida em abril último como a melhor do mundo. Para desfrutar dela em segurança convém não se acelerar demasiado nem concentrar toda a atenção na paisagem em redor, o que, convenhamos, pode não ser tarefa fácil.

Feita a estrada, resta sugerir outro tipo de viagem — educativa, neste caso — para aprender mais sobre a história da região, no Museu do Douro. A respetiva exposição permanente, chamada “Douro, Matéria e Espírito”, recupera não a memória do que foi o Douro desde que os romanos ali plantaram as primeiras vinhas como ajuda a perceber o que é que torna muitos dos seus vinhos únicos a nível mundial.

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A exposição permanente do Museu do Douro divide-se em dois pisos. O de baixo dedicado à história da região e o de cima ao Vinho do Porto. (foto: © Tiago Pais / Observador)

Onde comer

Não é difícil comer bem no Douro, mas, como em tudo na vida, é melhor saber ao que se vai para não perder tempo à procura. Primeiro, dois restaurantes unidos pelo cenário: situam-se ambos em antigos armazéns de estações ferroviárias. O Castas e Pratos, em Peso da Régua, é também garrafeira e wine bar, com um manancial de referências impressionante e uma cozinha, da responsabilidade do chef Tiago Moutinho, que usa os produtos e sabores típicos da região numa cozinha moderna e criativa. O Cais da Villa, em Vila Real, segue o mesmo conceito tripartido, com uma cozinha igualmente cuidada e contemporânea, de autoria do jovem chef Daniel Gomes.

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Além deste espaço interior, o Cais da Villa tem ainda uma esplanada com capacidade para mais de 100 pessoas (foto: DR)

Seguindo viagem, é impossível falar em restaurantes do Douro sem mencionar o DOC, de Rui Paula, chef que muitos conhecerão enquanto jurado de MasterChef e que na Folgosa do Douro, entre Pinhão e Peso da Régua, exibe a sua cozinha transmontano-duriense, como lhe chama, numa estrutura plantada à beira-rio, onde a garrafeira também é de respeito: são mais de 600 referências, quase todas (mas não todas) produzidas naquelas margens.

Já os apetites mais substanciais e tradicionais, não ficarão mal servidos no Repentina, em Poiares, onde o cabrito assado exige encomenda prévia mas garante satisfação. Nem, tão pouco, na Tasquinha do Matias, em Ucanha, perto de Tarouca, onde a anfitriã Filomena se revela, todos os dias, uma cozinheira de mão cheia, capaz de surpreender quem vem de longe com pratos como os milhos à lavrador, a marrã à tasquinha ou a portentosa vitela na telha. A aletria, à sobremesa, é o ponto final ideal para a refeição. E para este texto.