Os resultados dos testes de stress do Novo Banco identificaram um desvio de 1398 milhões de euros no cenário mais adverso, revelou o Banco Central Europeu este sábado. No cenário base, a instituição liderada por Stock da Cunha passou no teste, com um rácio core tier 1 de 8,24%, acima do mínimo exigido. 

A insuficiência de fundos próprios que foi identificada nos testes do esforço ocorre no pior cenário testado apenas para 2017. A necessidade de reforço de fundos agora conhecida fica aquém dos montantes que eram apontados por analistas e que variavam entre os 1500 e os 2000 milhões de euros,

De acordo com um comunicado do Banco de Portugal, esta falha de capital será ultrapassada via implementação do plano estratégico, que já está em marcha e que deverá ser apresentado nas próximas semanas, mas também através do processo de venda da participação detida pelo Fundo de Resolução no Novo Banco a um investidor privado. Ou seja, o esforço de recapitalização passará também para o comprador, o que terá impacto no preço de venda. 

“As medidas a executar no quadro do plano estratégico complementarão o reforço de fundos próprios que decorrerá do processo de venda da participação acionista detida pelo Fundo de Resolução no Novo Banco”.

Com a clarificação das necessidades adicionais de capital, estão criadas as condições no imediato para preparar nova etapa no processo de venda. Este processo será conduzido por Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado das Obras Públicas.

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Venda dos seguros

No curto prazo está já prevista a venda da participação do Novo Banco na GNB – Companhia de Seguros (ex-BES Vida) e de outras participações não estratégicas para atividade do grupo Novo Banco. Não são referidas quais, mas entre os negócios que foram já colocados no mercado está a participação de 40% na concessionária Ascendi. 

A reorganização estratégica e o reforço de fundos não comprometem a atividade normal do Novo Banco, acrescenta o comunicado.

A instituição liderada por Stock da Cunha sublinha que a retoma do processo de venda da participação acionista pelo Fundo de Resolução engloba o reforço dos seus capitais próprios, considerando que ainda que agora ficou afastado um dos principais fatores de incerteza que condicionou o desfecho da primeira tentativa de venda. 

O Novo Banco já está a trabalhar no plano de reorganização estratégica que deverá ficar concluído nas próximas semanas. Os cinco bancos onde foram identificados défices neste exercício do BCE têm duas semanas para apresentar planos de capital que especifiquem as medidas pertinentes. O prazo limite para implementar essas soluções é de nove meses. 

Os testes de esforço ou stress colocaram à prova a solidez financeira do banco em dois cenários com diferentes evoluções de variáveis económicas de 2015 e 2017. O cenário adverso testa vários choques. A nível da União Europeia:

  • Subida das taxas de juro da dívida pública de vários países.
  • Degradação adicional e significativa do crédito malparado na União Europeia, com a procura doméstica deprimida e sistemas bancários mais vulneráveis.
  • Adiamento da adoção de reformas que suscite dúvidas em relação à sustentabilidade das finanças públicas em várias economias da União Europeia.
  • Ajustamento insuficiente do balanço dos bancos que limite a obtenção de financiamento em mercado, a um custo razoável. 

Os cenários testados ao nível do mercado português foram:

  • Queda acumulada da atividade económica de 2,8 pontos percentuais.
  • Taxa de desemprego acima dos 14%, a partir de 2016.
  • Uma subida significativa das taxas de juro de longo prazo, até chegar a valores de 3,5% e 4%, com impacto no financiamento da economia e na valorização das carteiras dos bancos.
  • Redução acumulada do preço dos imóveis para habitação de 13%.

As fragilidades e insuficiências detetadas nesse processo determinam as necessidades de mais capital para cada banco. O teste, coordenado pelo Banco Central Europeu, é feito aos chamados bancos sistémicos em cada sistema bancário nacional. O exame do Novo Banco foi adiado um ano por causa da resolução do BES (Banco Espírito Santo) e do tempo que demorou afinar o balanço e património da instituição. 

Novo Banco será vendido com perda maior

Num comentário aos resultados dos testes de esforço, Pedro Ricardo Santos, gestor da corretora XTB Portugal, considera que esta necessidade, apesar de esperada, “trará não só pressão para a venda rápida do Novo Banco, como essa venda será feita por um valor longe daquele que foi injetado pelo Fundo de Resolução” (4900 milhões de euros). Isto porque as necessidades de aumento de capital são transferidas para o novo dono, o que irá abater ao preço oferecido, aumentando as perdas do acionista. 

Na prática, conclui o analista, as exigências conhecidas este sábado, “obrigarão a um esforço financeiro de todos os bancos acionistas do fundo e, no caso concreto da Caixa Geral de Depósitos, com reflexos indiretos na carteira dos contribuintes”.