No último ano têm chegado vários barcos de pesca vazios ao Japão. São já considerados como “navios fantasma” e fazem parte de um mistério com contornos, no mínimo, macabros. No entanto, só agora a situação começa a ganhar destaque na imprensa e as autoridades estão a concentrar esforços para encontrar as causas deste fenómeno.
Foram várias as embarcações que chegaram a vários pontos da costa japonesa, na zona do Mar do Japão (entre o Japão e as Coreias) com cadáveres em avançado estado de decomposição. Algo que se verifica com alguma regularidade nas últimas cinco semanas, avança a CNN.
Mas há ainda algumas questões por confirmar: Quem são os mortos e de onde vieram? Algumas pistas sugerem que as embarcações e a respetiva carga têm origem na Coreia do Norte, mas as dúvidas persistem.
Segundo a Guarda Costeira japonesa a situação, já dura há vários anos, mas apenas existem registos dos últimos cinco. Em 2014 foram encontrados 65 corpos e durante este ano já foram descobertos 34. Nestes últimos 5 anos foram encontrados, no total, 283 barcos nestas condições, mas as autoridades não revelam o número de mortos que continham.
Uma das situações que está a gerar maiores dores de cabeça às autoridades é o curto espaço de tempo em que aparecem estes autênticos cemitérios flutuantes – em cinco semanas chegaram 12 barcos de pesca.
Um porta-voz da Guarda Costeira japonesa revelou à CNN que “pensamos que possivelmente sofreram um acidente devido ao tempo, mas não podemos confirmar devido às más condições dos corpos”.
As mesmas autoridades têm trabalhado também para perceber há quanto tempo morreram estas pessoas. Os últimos a serem encontrados parecem ter morrido uma a duas semanas antes de serem descobertos. Mas a Guarda Costeira referiu que alguns dos dez corpos descobertos em três barcos no dia 20 de novembro pareciam estar lá há pelo menos três meses. Por isso, neste âmbito, o mistério permanece.
E também em relação à origem das embarcações permanecem muitas dúvidas. Algumas pistas apontam para a Coreia do Norte. Num dos barcos, noticiou a emissora japonesa NHK, foi encontrada uma frase estampada em coreano onde se podia ler “Exército Popular Coreano” (esta é a expressão que se refere às forças armadas norte coreanas) e um farrapo de roupa com uma bandeira da Coreia do Norte.
No entanto, as descobertas não chegam para provar nada. Pelo menos para a Guarda Costeira. À CNN um porta-voz explicou que “só podemos afirmar que possivelmente são da Península da Coreia uma vez que a frase escrita nos cascos estavam em coreano, mas não pudemos identificar a nacionalidade dos barcos”.
Em relação à idade e ao género das pessoas mortas, estão a ser levadas a cabo autópsias para os identificar. É que o elevado nível de decomposição não permitiu perceber a idade e o sexo dos cadáveres. No entanto muitos especialistas dizem já que é provável que estes sejam pescadores norte coreanos.
A CNN conta aliás, que nos últimos meses o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, tem tentado implementar medidas para aumentar os esforços piscatórios no país.
Por isso, existe a convicção que o números de mortos ao longo da costa japonesa pode aumentar. Principalmente pelo facto de, a partir de outubro e até fevereiro, ser o período principal para a pescas de várias espécies na zona da Península da Coreia. Um professor da Universidade Nacional de Bukyong na Coreia do Sul, Kim Do-hoon, refere mesmo, em declarações à Reuters, que “Kim Jong Un tem vindo a promover as pescas, o que poderia explicar porque há mais barcos de pesca a sair. Mas os barcos norte-coreanos funcionam muito mal, têm maus motores, arriscando vidas para ir mais longe para apanhar mais. Às vezes andam à deriva e os pescadores morrem à fome”.
Outros dos mistérios em toda esta história é o de perceber porque é que os barcos vão todos, ou quase todos, parar à costa do Japão. Mas esta é, provavelmente, a questão mais fácil de responder. Como explica a CNN, o fluxo de correntes no Mar do Japão faz com que barcos à deriva vindos da Coreia possam chegar facilmente à costa do Japão.