O Presidente da República, Cavaco Silva, recusou comentar a atual situação do Banif, referindo que é preciso prudência quando se fala em público sobre o sistema bancário.
“É preciso medir bem as palavras quando se fala do sistema bancário, porque o seu funcionamento é decisivo para o funcionamento da nossa economia e consequentemente para o crescimento do emprego e da nossa produção”, disse Cavaco Silva.
O chefe de Estado falava no final de uma visita à empresa Kerion, no concelho de Aveiro, no âmbito da 8.ª jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica, dedicada à cerâmica e metalomecânica. Questionado pelos jornalistas sobre a atual situação do Banif, Cavaco Silva limitou-se a reafirmar que a estabilidade do sistema financeiro deve ser uma prioridade nacional.
“O bom senso e o conhecimento das funções do sistema bancário aconselham muito cuidado nas palavras que se pronunciam em público. Eu recentemente mais do que uma vez tive ocasião de sublinhar que a estabilidade do sistema financeiro devia ser uma prioridade nacional e é isso que eu continuo a dizer”, adiantou, referindo-se a uma das exigências que fez a António Costa antes de o indigitar primeiro-ministro: a de assegurar a estabilidade do sistema financeiro.
A polémica do BES
Recorde-se que, a 21 de julho de 2014, no início da crise que afetou o BES – e que obrigou à divisão do banco num “banco bom”, que viria a chamar-se Novo Banco, e num “banco mau”, Aníbal Cavaco Silva fez declarações que foram entendidas como um voto de confiança no banco, com base em informações que teria do Banco de Portugal. “O Banco de Portugal tem sido perentório e categórico a afirmar que os portugueses podem [podiam] confiar no Banco Espírito Santo, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeiro mesmo na situação mais adversa”. O presidente, à data, admitiu ainda a possibilidade da crise no banco ter “algum efeito” para a “economia real, por exemplo em relação àqueles que fizeram aplicações em partes internacionais do grupo que estão separadas do banco em Portugal”.
Os efeitos, contudo, viriam a ser significativamente maiores do que o previsto, e as palavras de Cavaco Silva – que, mais tarde, sublinhou que “nunca fez nenhuma declaração sobre o BES”, mas sim “sobre o Banco de Portugal” – foram alvo de várias críticas: muitos consideraram que Cavaco não devia ter tranquilizado os portugueses com as informações vindas do Banco de Portugal, que não se confirmariam. E que foi depois das suas palavras que muitos acabaram a comprar ações, num investimento que se revelaria fatal.
Aviso ao PS: cuidado com o investimento externo.
Cavaco Silva relativizou ainda a intenção do governo PS em aumentar o de rendimento das famílias: uma intenção que, diz, era conhecida já antes da campanha eleitoral: “Qualquer que fosse o partido que ganhasse as eleições” tencionava fazê-lo, sublinhou o presidente da República, “na medida em que Portugal tinha completado com sucesso o programa de ajustamento”.
Mas deixou um aviso ao novo Governo PS:
“Temos de ter muito cuidado nas nossas decisões, para não afugentar investidores internos, porque se não tivermos investimento externo temos de pedir emprestado muito mais. Isso cria-nos dificuldade”, sublinhou, porque “o investimento acaba por não subir aquilo que é necessário que cresça em Portugal, e o nível de vida das pessoas [consequentemente] não melhora”, avisou