Uma nova encarnação do saudoso ZX Spectrum vai ser lançada no mercado no próximo verão. O projeto está a ser promovido na plataforma de crowdfunding Indiegogo, onde já vai a caminho de triplicar as 100 mil libras necessárias para viabilizar o fabrico das primeiras unidades. A ZX Spectrum Vega+ é uma consola portátil desenhada por Rick Dickinson, designer industrial dos computadores que há três décadas fizeram sucesso em Portugal, e vai custar 100 libras (cerca de 126 euros). A versão a comercializar será em preto, mas quem garantir já a compra da sua consola, através da campanha de crowdfunding, pode optar por modelos exclusivos em vermelho, branco e azul, que não chegarão ao mercado. Recorde-se que um outro modelo já tinha sido posto à venda em 2015, mas a Vega+, com mil jogos instalados (pode descarregar mais da Internet com um cartão SD) e ligação HDMI à televisão, tem um design mais apelativo.
Animados por esta novidade — se é que assim lhe podemos chamar — , reavivamos na memória algumas curiosidades da história daquele que foi, para muitos de nós, o primeiro computador.
1. O ZX Spectrum não era uma consola, mas um computador
A 3 de abril de 1982, Clive Sinclair apresentava ao mundo um computador de oito bits, com pouco mais de meio quilo, que se ligava diretamente à televisão. Os gráficos a cores e o seu baixo preço face à concorrência foram decisivos para o enorme sucesso que teve na Europa (nos Estados Unidos, o Commodore era mais popular), tendo vendido mais de seis milhões de unidades. Embora tenha ficado para a história quase exclusivamente devido aos jogos, o microcomputador serviu para diferentes usos, chegando a informatizar pequenos negócios e a fazer parte de aulas de informática nas escolas, principalmente no Reino Unido, o seu país de origem. No entanto, o seu processador de texto, as folhas de cálculo e os programas de desenho eram aplicações muito limitadas.
2. Foi uma de muitas invenções de Clive Sinclair
O inventor do ZX Spectrum, atualmente com 75 anos, focou-se sempre na produção de artigos portáteis para as massas, a preços acessíveis. Nos anos 70, foi responsável por uma calculadora de bolso que, não sendo a primeira no mundo, era a primeira que cabia efetivamente no bolso. Fez também um protótipo de televisão portátil, que não chegou a ser produzida. Depois do sucesso de vendas do ZX Spectrum, que lhe valeu uma fortuna e o título de “sir” pelo contributo para a indústria inglesa, acabou por vender a patente desse negócio à Armstrad. As suas últimas invenções foram na área do transporte pessoal: a mota elétrica Sinclair C5 e a bicicleta Zike revelaram-se um fiasco, com apenas 17 mil e dois mil exemplares vendidos, respetivamente; a bicicleta elétrica A-bike foi lançada em 2015 e assume-se como a mais leve e portátil do mercado.
3. Tinha oito cores, com dois níveis de brilho
O ZX Spectrum podia utilizar oito cores diferentes no ecrã, codificadas de 0 a 7, e cada cor tinha dois níveis de brilho. A resolução do computador era de 256×192 píxeis.
4. Era relativamente fácil criar jogos
A linguagem de programação BASIC que o ZX Spectrum utilizava era tão simples (qualquer coisa como: “IF x THEN GOTO 10”) que muitos jovens se dedicavam a criar os seus próprios jogos, partindo das instruções do volumoso manual. Foi assim que surgiram alguns clássicos que depois foram comprados e aperfeiçoados por empresas de videojogos. No site World of Spectrum, que reúne milhares de jogos, pode encontrar vários exemplos de criações nacionais, como o Para Cima ou Para Baixo?, inspirado no concurso televisivo Jogo de Cartas.
5. Enquanto o programa “entrava”, o ecrã enchia-se de riscas
Para jogar num ZX Spectrum, era preciso ligá-lo a um leitor de cassetes comum — só os últimos modelos a ser produzidos, já com 128k, é que traziam leitor incorporado. Carregar um jogo era um teste à paciência: durante vários minutos, o ecrã enchia-se de riscas coloridas e ouvia-se um som estridente. Era também uma roleta russa, porque o processo terminava demasiadas vezes com insucesso (“oh, não entrou”, lamentávamos), mas rebobinávamos a cassete e voltávamos a tentar até resultar. Quando escrevíamos LOAD ” ” e carregávamos no Enter, era isto que víamos e ouvíamos:
https://www.youtube.com/watch?v=RELCIRAvxFg
6. Houve programas de rádio a transmitir programas para o ZX Spectrum
Como a cassete era o suporte utilizado para carregar os programas, bastava um rádio com duplo deck de cassetes para copiar os jogos. Mas a pirataria não acontecia só entre amigos: em vários países, como a Inglaterra, a Holanda e a Sérvia, houve rádios a transmitir aquele som estridente (que traduzia os zeros e uns da programação) durante uns minutos, para que os ouvintes gravassem para uma cassete e assim ganhassem acesso a jogos ou outras aplicações. Este artigo do site britânico Kotaku recorda como funcionava, e faz a comparação: se hoje enviássemos através da rádio o jogo GRID para PS3, Windows ou Xbox 360, adaptando-o para o formato utilizado nos anos 80, seriam necessários quatro anos de transmissão e uma cassete com dois milhões de minutos para o gravar.
7. Quem se lembra das teclas mais utilizadas para jogar?
Em boa parte dos jogos, podíamos escolher as teclas de comandos. Outras vezes, dividíamos o teclado com os nossos adversários de lutas ou corridas virtuais, e as mãos tinham de se apertar. Mas quem jogou terá certamente na memória as letras Q-A-O-P-M: Q para cima, A para baixo, O para a esquerda, P para a direita e M para saltar.
8. O Manic Miner foi o primeiro jogo a ter música de fundo
Lançado em 1983, o jogo tinha como protagonista o mineiro Willy (depois herói em Jet Set Willy), que atravessava vários níveis de plataformas a recolher objetos num contra-relógio de oxigénio. Para conseguir ter a música de fundo que pode recordar aqui abaixo, o processador do computador tinha de alternar constantemente entre a música e a ação do jogo (por não conseguir processar as duas coisas em simultâneo), daí o seu ritmo cortado.
9. Como “morreu” o Spectrum?
Em 1986, a patente do ZX Spectrum foi adquirida por cinco milhões de libras pela Amstrad, que ainda lançou alguns modelos novos: o Spectrum +2, com leitor de cassetes incorporado, e o Spectrum +3 com uma drive de disquetes de três polegadas. Com o mercado de videojogos e computadores pessoais a lançar produtos mais interessantes, e sem conseguir repetir o sucesso do modelo de 48k, a produção do Spectrum terminou em 1990.
10. Quase todos os jogos estão disponíveis online e em aplicações para smartphone
Não precisa de comprar a nova consola para ter acesso aos jogos que marcaram a sua infância. Além da base de dados exaustiva do site World of Spectrum, basta pesquisar num motor de busca pelo nome do jogo que lhe apetece voltar a jogar, e facilmente encontra um emulator — a título de exemplo, experimente nestes links o Chuckie Egg ou o Manic Miner. Existem também aplicações para que possa jogar no seu iPhone ou Android.