Foi uma visita de cumprimentos relâmpago, mas que deu para que houvesse um “acordo total” em todos os assuntos tratados entre o Presidente da República e o Rei de Espanha. Entre eles, a situação do sistema financeiro português, mais particularmente o investimento dos espanhóis nos bancos portugueses, o acordo a uma candidatura de Guterres à ONU e a uma visita de Estado dos reis de Espanha a Portugal. Nos incómodos de Marcelo ficaram temas da atualidade nacional: pronunciar-se sobre o debate da eutanásia não é “adequado” por agora; explicar se teve mão nas alterações legislativas aos exames nacionais é só para mais tarde. E Orçamento do Estado? “O mundo não acaba amanhã.”

Depois de um encontro e jantar com o Rei de Espanha, Filipe VI, Marcelo Rebelo de Sousa conta que transmitiu ao chefe de Estado espanhol a sua posição sobre a presença espanhola na banca portuguesa. “É conhecida a minha posição sobre essa matéria. É importante haver uma participação significativa, o que é diferente de haver um exclusivo. É uma posição de fundo. Nenhuma economia deve ter uma posição exclusiva noutra economia”, disse em resposta a perguntas aos jornalistas, num encontro com na Embaixada portuguesa em Madrid.

Contudo, Marcelo insiste que é “importante a presença espanhola em Portugal” porque “tem vindo a aumentar e é uma das formas de estreitamento das relações entre os dois países”.

Mais tarde, quando questionado sobre o negócio da Caixabank no BPI, o chefe de Estado insistiu na sua posição dizendo que “uma coisa é um exclusivo, outra coisa é uma presença mais ou menos significativa”.

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Um novo Presidente ainda a entrar na pele

Marcelo Rebelo de Sousa está agora a entrar na sua segunda semana enquanto Presidente da República e ainda vai dando mostras de que o cargo lhe está a entrar na pele. Esta primeira visita oficial do novo Presidente da República foi ao ritmo do chefe de Estado, um frenesim entre Roma e Madrid. Mas também mostrou como Marcelo, que se diz “institucionalista”, está a fazer a adaptação.

Primeiro, de manhã, depois do encontro com o Papa, deixou nas entrelinhas uma inconfidência. Não dizendo aos jornalistas se o Papa tinha aceitado o convite para ir a Portugal no centenário do 13 de maio, acabou por dizer que tinha ficado “muito feliz” com a resposta.

Eutanásia? Ainda não é momento “adequado”

O que o Presidente não contou foram os pormenores da conversa. Mas esses acabaram por entrar na visita adentro quando o Vaticano fez saber que tinha debatido com o chefe de Estado a “contribuição da Igreja na vida do país com especial referência para o debate na sociedade sobre a dignidade da vida humana e da família”. O que quer dizer? Neste momento, há dois assuntos em cima da mesa que encaixam no perfil da frase: a eutanásia e a procriação medicamente assistida.

Já em Madrid, questionado pelos jornalistas, Marcelo desviou o assunto, escudou-se na privacidade da audiência e admitiu que por agora não considerou “ser adequado” pronunciar-se.

Outro dos assuntos para os quais Marcelo ficou sem resposta foi sobre a sua alegada interferência na legislação sobre os exames escolares. Diz que só falará em território português “que não na embaixada” e quando “tiver de apreciar o documento”.

E pode ser em breve, mas mais perto estará a promulgação do Orçamento do Estado para este ano, que poderá acontecer já para a semana, depois das redações finais no Parlamento.

“O mundo não acaba hoje – há mais dias. É o início de um mandato de 5 anos. Não é uma corrida de velocidade, não direi que é uma maratona, mas é uma prova de resistência”.

Espanha apoia Guterres

Ainda na conversa com o Rei de Espanha, Marcelo Rebelo de Sousa assegura que há apoio do monarca a uma candidatura do português. “Tendo sido falado já em Lisboa, foi falada aqui a candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU. A posição espanhola é de apoio a essa candidatura”, garantiu o Presidente.

A sintonia entre os dois excedeu “as expectativas”, disse Marcelo, e ficou selada com um convite para uma visita de Estado dos reis a Portugal. Ficou apenas por marcar a data da visita, que será ou no final deste ano ou no início do próximo.