María Petrovna tinha 57 anos quando foi obrigada a deixar a cidade onde vivia por causa do maior acidente nuclear da História. Na madrugada de 26 de abril de 1986, ela e os seus 600 vizinhos foram mandados embora das casas onde moravam em Chernobyl porque os níveis de radiação a que estariam expostos seriam demasiado perigosos. Fatais. Quando as autoridades ucranianas chegaram a sua casa, a 4 de maio, uma semana e meia depois do acidente María obedeceu e partiu para uma população vizinha onde a radiação não chegaria. Mas voltou a casa na primavera seguinte. E é onde permaneceu até agora, conta o ABC.

Em 1986, a cidade de Pripyat – onde estava instalada a central nuclear – foi atingida por uma quantidade de radiação 400 vezes maior que a da bomba atómica de Hiroshima, na sequência de um incêndio num dos reatores da instalação. Nos dias seguintes, a atmosfera cobriu-se de partículas radioativas que provocaram a morte imediata de mais de 30 pessoas e o surgimento de doenças e deformações graves em centenas de ucranianos.

María Petrovna morava a apenas 25 quilómetros do reator, por isso estava dentro da “zona de exclusão” de onde se deveria retirar toda a gente para uma das 12 cidades destacadas para receber as pessoas em perigo. Ela partiu com apenas alguns dos seus pertences, quando as autoridades chegaram a sua casa vestidos com fatos brancos e materiais de medição de radiações e a levaram para outra terra num autocarro. No ano seguinte decidiu voltar. E não estava só- Juntou-se a outras 150 pessoas que queriam regressar à terra onde nasceram. Eles, ao contrário dos outras ucranianos, não tinham medo, garante María: “O chefe dos colcoz roubavam tudo o que queriam e só nos evacuaram para nós nos esquecermos. Aqui está tudo limpo, não há nada contaminado”.

Das 150 pessoas que voltaram para a terra de María a seguir ao acidente nuclear, só quatro continuam ali. Agora com 87 anos, María Petrovna vive de uma pequena pensão e dos mantimentos que a filha – que mora em Kiev – lhe leva de vez em quando. Alguns dos habitantes nas cidades vizinhas também a ajudam, dando-lhe pão, leite e lenha para fazer fogueiras. Além disso, plantou uma horta com cebolas, tomates e batatas. Mas nada disto basta: María está doente. Muitos tentam convencê-la a sair, mas ela não quer: “Até o médico me disse que o melhor sítio para mim é aqui, que em qualquer outro lugar morreria”.

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