O antigo chanceler alemão, Helmut Kohl, avisou este sábado que a Europa não se pode tornar numa “nova casa” de milhões de migrantes, numa crítica velada às políticas liberais de asilo da chanceler Angela Merkel.

As declarações de Kohl, que serão publicadas no jornal Tagesspiegel de domingo, acontecem em vésperas da chanceler alemã se encontrar, na terça-feira, com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, um político da direita e forte opositor da abertura de Angela Merkel à entrada de migrantes no espaço europeu.

“A Europa não se pode tornar numa nova casa para milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo”, afirmou Kohl na entrevista, citada pela AFP. A política liberal da Alemanha para os refugiados levou, no ano passado, a 1,1 milhões de pedidos de asilo da Síria, Iraque, entre outros.

No início deste ano, o primeiro-ministro da Hungria, país que construiu um muro na fronteira para deter os migrantes, tinha afirmado que um incontrolável fluxo migratório expunha a Europa a riscos de “terrorismo, criminalidade, anti-semitismo e homofobia”.

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O próprio alerta de Kohl está expresso no prefácio da versão húngara do seu livro sobre a Europa. A solução para a crise migratória, argumenta Kohl, não está na Europa, mas tem de vir das regiões onde se dá o êxodo.

“As políticas nacionais do cavaleiro solitário têm de ficar no passado”, acrescentou o pai da Reunificação alemã, sem se referir diretamente às políticas de Merkel. Muitos dos migrantes “vêm de ambientes culturais diferentes”, apontou.

“A maior parte” deles tem “uma crença que é diferente da judaico-cristã, a qual faz parte da fundação da nossa ordem social e dos nossos valores”, sublinhou Kohl, que aos 86 anos raramente é visto em público. O antigo chanceler alemão deixou a vida política ativa em 2002.

Arquiteto da Reunificação alemã e figura histórica da União Democrática Cristã (CDU), Kohl é considerado o mentor da ascensão política de Angela Merkel nos anos 1990.