Uma manifestante sueca, de origem africana, colocou-se frente a uma marcha de 300 neo-nazis fardados, na Suécia, numa imagem que está a correr o mundo.

A fotografia de Tess Asplund, de 42 anos, com um punho fechado erguido, a bloquear caminho aos líderes do Movimento de Resistência Nórdico (NRM), este domingo, tornou-se viral na Suécia.

“Foi um impulso. Eu estava tão irritada… Tive de sair para a rua. Só pensava: ‘Nem pensar, eles não podem marchar aqui'”, contou Asplund, entrevistada pelo jornal britânico The Guardian. “Eu estava cheia de adrenalina. ‘Nenhum nazi vai marchar aqui, não é correto'”, acrescentou ainda durante a entrevista.

No vídeo abaixo é possível ver o momento em que foi tirada a fotografia, incluindo dois fotógrafos a empurrarem um manifestante para conseguirem captar a imagem.

https://www.youtube.com/watch?v=fcBmWAk8v-k

A manifestante admitiu que sentiu dúvidas sobre a sua ação, depois de pensar um bocado sobre o que havia feito: “Os nazis estão muito chateados e eu ando a pensar: ‘Fogo, se calhar não devia ter feito aquilo, eu só quero paz e sossego’. Estes tipos são grandes e loucos”.

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O protesto de Aspund surge num momento em que a extrema-direita sueca se manifesta cada vez mais, publicamente, informa a Expo, uma fundação antirracista de Estocolmo. O fotógrafo da fundação, David Lagerlöf, foi quem tirou a fotografia que está a ser considerada como um símbolo da resistência contra a extrema-direita.

Na Suécia, o partido Democratas Suecos, contra a imigração, representa a escolha de 15% a 20% da população e vários sites suecos têm uma ideologia e um discurso marcadamente racista. “O NRM representa o espetro mais extremista desta ideologia na Suécia”, informa Daniel Poohl da Expo.

A fotografia foi comparada com uma fotografia de 1985 conhecida como tanten med väskan (“A senhora com o saco”). Nesta fotografia, tirada durante uma manifestação neo-nazi na Suécia, pode ver-se uma mulher a bater na cabeça de um skinhead com a mala.

A woman hitting a neo-Nazi with her handbag, Sweden, 1985 - Hans Runesson

‘Tanten med väskan’, a fotografia que se tornou icónica de uma mulher a bater num neo-nazi com a mala

Poohl afirma que, nos dias de hoje, a fotografia de Asplund é mais poderosa do que a da mulher a bater com a mala: “Vivemos numa sociedade multicultural, por isso faz sentido que seja uma mulher negra” a aparecer como símbolo de resistência.

O NRM é conhecido por perseguir pessoas antirracistas, afirma Asplund, que confessa ter tido amigos que foram atacados pelo grupo neo-nazi e que tiveram de mudar de morada. A manifestante acrescentou ainda que já lhe ligaram durante a noite de números privados a gritar com ela. “Não é fácil falar sobre o ódio”, confessa a manifestante.

Tess Asplund faz parte do Afrophobia Focus, um grupo que tenta combater o racismo contra negros na Suécia. As Nações Unidas declaram em 2015 que o país escandinavo tem um grave problema de ‘afrofobia’ — hostilidade contra pessoas provenientes da África subsariana. “O racismo foi normalizado na Suécia, tornou-se normal usar aquela palavra começada por N [nigger]” contou Asplund, que afirmou que um dia estava no metro e um homem utilizou a palavra para se referir a ela, enquanto lhe gritava para se despachar e sair da frente. “Ninguém prestou atenção. Eu pensava que a Suécia ia ter uma mentalidade mais aberta em 2016, mas algo mudou”, acrescenta a manifestante que espera que a fotografia tenha um efeito positivo na luta contra o racismo.

“Talvez o que eu fiz se torne num símbolo que diga que podemos fazer alguma coisa — se uma pessoa o pode fazer, todos podem.”