A falha de Santo André, a mais famosa falha geológica da Califórnia (Estados Unidos), continua a acumular tensão. Se acontecer um sismo (ou melhor dizendo, quando acontecer um sismo), o mais provável é que a área afetada seja muito maior do que o maior terramoto registado, em 1857. O assunto foi abordado na Conferência Nacional de Terramotos, que decorreu de 4 a 6 de maio, em Long Beach (Califórnia). Os investigadores alertaram para a necessidade de investir em prevenção.

A tensão criada pelo movimento da placa (tectónica) do Pacífico, que se afasta da placa norte-americana, vai sendo aliviada por terramotos, mas não no caso da falha de Santo André, com 1.300 quilómetros. A mais perigosa e mais longa falha no estado da Califórnia está a acumular tensão há 300 anos, pelo menos em alguns pontos.

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Representação da falha de Santo André (a vermelho) na Califórnia. A placa norte-americana está a movimentar-se para sudeste e a placa do Pacífico para noroeste (setas) – David K. Lynch/Geology.com

“As nascentes do sistema de Santo André ficaram com uma ferida muito, muito fechada. E o sul da falha de Santo André, em particular, parece estar trancada, carregada e pronta a disparar”, disse, durante a conferência, Thomas Jordan, diretor do Centro de Terramotos da Califórnia do Sul, citado pelo L.A. Times.

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O maior sismo registado na falha de Santo André, com uma magnitude de 7,9, aconteceu em 1857. E desde aí tem estado sossegado, demasiado sossegado, na opinião de Thomas Jordan. É praticamente inevitável que um grande terramoto aconteça, ainda que ninguém consiga prever quando, portanto o melhor é estar preparado para um sismo de magnitude 8.

Num relatório de 2008, o instituto de investigação geológica norte-americano (U.S. Geological Survey) previu que um sismo de 7,8 na região sul da falha de Santo André causaria 1.800 mortes, 50 mil feridos e 200 mil milhões de dólares de prejuízos (cerca de 175 mil milhões de euros). Adicionalmente, alguns serviços ficariam severamente danificados, como o sistema de saneamento, que poderia levar seis meses a ser recuperado.

Simulação de um sismo de magnitude 7,8 na falha de Santo André, divulgado pelo Centro de Supercomputação de San Diego

“Infelizmente, neste país, muitas vezes, a vontade de melhorar as coisas só chega depois de ocorrer um desastre”, disse à BBC Mundo Peggy Hellweg, responsável pelas operações do Laboratório Sismológico de Berkeley, no norte da Califórnia. “Um sistema de alerta precoce seria muito útil”, continua. “Os nossos sistemas de alerta de sismo deveriam ser melhores. Não temos sensores nos sítios que são necessários. Não temos uma infraestrutura robusta.” E sem um alerta precoce, não é possível avisar a população para tomar medidas de segurança.

O sismo de 1857 terá durado um a três minutos e foi tão forte que as rochas se liquefizeram. A nova simulação prevê um sismo de dois minutos com um impacto grande na cidade e na baía de Los Angeles. A pensar nos potenciais impactos de um terramoto, a cidade implementou novas regras nos edifícios, em outubro de 2015, como noticiou o L.A. Times. São 15 mil os edifícios que têm de ser adaptados para resistirem a um sismo violento.

A título de comparação, prevenir que um sismo, e consequente onda gigante, destruísse os edifícios junto ao porto de ferry boat de São Francisco (Califórnia), custaria três mil milhões de dólares (cerca de 2,6 mil milhões de euros), noticiou o L.A. Times.

O risco de sismo na falha de Santo André até já teve honras de cinema. Mas Thomas Jordan, que foi consultado antes da realização do filme “San Andreas“, afirmou: “Provavelmente não deram muita atenção aos meus conselhos”. Um sismo nesta falha nunca poderia causar um tsunami que devastasse São Francisco como o que é mostrado no filme. “Os tsunamis realmente grandes, como aquele que atingiu o Japão, são causados por terramotos que têm origem num grande deslocamento no fundo dos oceanos”, disse o investigador citado pela revista Smithsonian. Mais, mesmo um sismo superpotente na falha, não será sentido na costa este dos Estados Unidos.

Ainda assim, convém estar preparado. Jennifer Andrews, sismóloga do Instituto de Tecnologia de Califórnia (Caltech), disse à BBC Mundo que é provável que um grande terramoto na região sul da falha de Santo André aconteça dentro dos próximos 30 anos.