Fernando Santos nunca o escondeu em entrevistas recentes. Nem os futebolistas da Seleção. Em competições anteriores, Portugal pensava jogo a jogo, de “mata-mata” em “mata-mata”. Em algumas chegou longe, noutras não. Agora pensa na final de Paris. O Europeu é para ganhar, ponto.
“Eu acredito — e os jogadores também acreditam, basta ouvi-los — que podemos chegar à final e vencer. Portugal não é favorito. Não temos essa presunção de ser favoritos. Mas temos a ambição de lutar por esse objetivo, que é o de vencer. Queríamos chegar em primeiro lugar no apuramento — e chegámos. E agora queremos chegar em primeiro no Europeu. Temos os pés assentes no chão. Mas também sabemos que temos qualidade para defrontar qualquer adversário”, explicou o selecionador.
Mas esta não foi a primeira resposta de Fernando Santos na conferência em que anunciou os convocados para o Euro 2016. A primeira, a segunda, a terceira (e por aí fora) foram sobre as ausências nesta convocatória. E também sobre uma meia-surpresa: Renato Sanches. Mas o selecionador fechou-se em copas e nunca individualizou. “Antes de mais, quero deixar uma palavra de gratidão a todos os jogadores que ajudaram na qualificação e não vão estar presentes no Europeu. Quanto ao Renato Sanches, todos os jogadores que aqui estão foram escolhidos depois de muita ponderação. São vinte e três. Não vou aqui destacar nenhum jogador individualmente. Temos que pensar que estes são os eleitos.”
Tiago esteve lesionado e voltou recentemente à competição no Atlético de Madrid. Bernardo Silva lesionou-se recentemente e vai parar três semanas. Nem um nem outro vão a França. “Nós monitorizámos mais de 40 jogadores. Os jogos que fizeram, as lesões que tiveram. Houve vários jogadores que aqui não estão por várias razões. Um dos fatores em análise na convocatória foram as lesões. E o Bernardo, por exemplo, entrou nesta análise. Tiago? Custa muito não levar alguns jogadores. Mas as convocatórias são assim mesmo: não se pode agradar a todos”, lamentou Fernando Santos.
Duas das questões mais interessantes que foram colocadas a Fernando Santos na conferência dizem respeito à tática a utilizar, 4-4-2 ou 4-3-3, e à inexperiência da Seleção: muitos dos convocados nunca estiveram numa fase final.
“Diz-me que dez destes 23 jogadores nunca participaram numa fase final. É verdade. Mas alguns já participaram em fases finais ao nível da formação. Há aqui uma mistura clara da experiência com a irreverência própria da juventude. Portugal tem futuro. E o futuro passa por ter ambição de ganhar. Quanto à tática, contra a Bulgária e a Bélgica ficou claro que não há um plano A ou B. Temos uma forma de defender e de atacar. Mas é o próprio jogo que vai definir como vamos jogar. Mas se se olhar aos últimos jogos, é evidente que estamos mais próximos de um 4-4-2, sem avançados fixos”, garantiu.
Por fim, a preparação para o Euro. Vai ser dura. Só assim se poderá chegar a França na melhor forma. Mas faseada, para que os jogadores não desmotivem. “A questão física é muito importante. O que vamos procurar é, no treino, conseguir treinar as estratégias e fazer a recuperação física dos atletas. Não basta ter a tática bem definida se não tivermos a cabeça e o corpo fresco para poder trabalhar o resto.”
Fernando Santos detalhou também como vai ser a preparação até à partida para a França. E há até direito a alguns “bombons” para os jogadores: “A primeira semana de treinos é de regime de livre. Os jogadores não estão todos concentrados num hotel. Podem estar sozinhos, acompanhados, não tenho nada a ver com isso. Os treinos são diários, mas fazem o que quiserem depois disso. É uma primeira semana sem a carga psicológica do estágio. Depois disso, nas outras semanas, o que vamos dar é dias e noites livres. Podem ir a casa, estar com as famílias. Mas a ideia é que os jogadores possam descomprimir antes de partirmos para França.”
Mas deixa um alerta para dentro, Fernando Santos: à-vontade não é à-vontadinha: “Isto vai funcionar com rigor, aplicação, concentração, mas também alguma liberdade.”