O Tesouro português pagou juros superiores a 3% para emitir dívida a 10 anos, um pouco mais do que no último leilão comparável (feito em junho). Isto no mesmo dia em que a Alemanha pagou, pela primeira vez, juros negativos para emitir dívida com esse mesmo prazo.

Os títulos a 10 anos foram colocados a uma taxa de 3,09%, com a emissão de 584 milhões de euros. Foram, também, emitidos 571 milhões de euros em dívida a seis anos, ajudando o IGCP a obter 1.155 milhões de euros em dívida, dentro do montante indicativo que era pretendido.

O IGCP tinha emitido dívida com um prazo próximo de 10 anos, pela última vez, em junho (na altura, uma linha com maturidade em outubro de 2025). Nessa altura, os títulos saíram com uma taxa de 2,859%.

Noutro termo de comparação, a última emissão nesta linha de obrigações, utilizada hoje e que vence em 2026, foi um pouco antes, em maio, e aí a taxa foi de 3,252%.

Seja como for, olhando além da taxa absoluta, mesmo em relação a esse leilão de maio houve uma deterioração do risco de Portugal — já que a tendência dos juros em toda a zona euro tem sido de um alívio bem maior: em Espanha, por exemplo, caíram de mais de 1,6% em maio para cerca de 1,1% hoje.

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Como têm evoluído os juros de Portugal, comparados com Espanha

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As compras por parte do Banco Central Europeu (BCE) no mercado (não diretamente aos Estados) têm contribuído para baixar os juros a que se financiam os países da zona euro. Outras medidas de estímulo monetário, como a taxa dos depósitos negativa, também têm contribuído para essa situação. Mas, apesar da importância dos estímulos do BCE, tem sido possível observar divergências nos custos de financiamento relativos dos vários países.

Esta quarta-feira foi, também, o dia em que o Tesouro alemão se financiou a juros negativos pela primeira vez. Já há várias semanas que o mercado transacionava, entre si, dívida alemã com juros negativos mas hoje foi a primeira vez que esse resultado se verificou numa emissão efetiva por parte do Estado alemão.

“O que se retira daqui é que Portugal continua a ser uma boa alternativa para os investidores de dívida pública, dado que os países com melhor rating que o nosso apresentam taxas negativas nos prazos longos”, comenta Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa, em reação enviada às redações.

Numa entrevista ao Observador, o economista-chefe do Natixis, Patrick Artus, comentou que, com o BCE a manter os juros de Portugal não muito longe de 3%, é “errado” dizer que Portugal não tem sofrido uma pressão específica nos mercados financeiros, tendo em conta a comparação com os outros países.