O 127.º curso de Comandos foi retomado, após a conclusão dos exames médicos realizados aos militares. As atividades da instrução recomeçam esta quinta-feira, 15 de setembro. A informação avançada pelo Exército em comunicado foi confirmada quase em simultâneo pelo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, na comissão parlamentar em que esteve a ser ouvido ao longo da tarde de quarta-feira.

No Parlamento, o ministro confirmou a reabertura da instrução porque as “razões que levaram a interromper o curso estão encerradas”. Por isso, o ministério defende um “regresso gradual à normalidade”.

Segundo o Exército, não há motivos médicos para manter o cancelamento: “A avaliação não revelou contra indicações clínicas que impeçam a continuidade do Curso (excluindo, naturalmente, os militares que estão ou estiveram internados no Hospital das Forças Armadas e que continuam o seu processo de recuperação)”, disse o Exército em comunicado.

O ramo informou ainda que foram efetuados vários exames ao estado geral de saúde dos militares daquele curso, assim como avaliações da degradação das funções orgânicas e ainda uma entrevista individual com um clínico. Os resultados foram avaliados por médicos de várias especialidades.

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O 127º curso de Comandos estava suspenso enquanto decorriam os exames médicos aos militares, após terem morrido dois recrutas na semana passada, na sequência do treino intensivo.

Durante a reunião da Comissão de Defesa, Azeredo Lopes falou também sobre as duas investigações abertas pelo Exército na sequência dos incidentes do início do mês. Um dos inquéritos está centrado dos “factos ocorridos no dia dos incidentes”. Essa investigação pretende esclarecer “em que termos e condições aconteceu o que aconteceu”. O segundo inquérito, desencadeado pelo Exército, consiste num trabalho que servirá para avaliar “a natureza da formação ministrada nos cursos de Comandos, para detetar o que deverá vir a ser corrigido no futuro”.

Azeredo Lopes não avançou, contudo, datas para que esses inquéritos estejam concluídos. O ministro limitou-se a assinalar que o segundo inquérito, por ser “mais abstrato e geral”, deverá “levar mais tempo a produzir efeitos”.

Negligência ou severidade?

Depois de ter pedido a extinção dos Comandos, o BE levantou esta quinta-feira algumas questões sobre os acontecimentos que levaram à morte de Hugo Abreu e, mais tarde, de Dylan da Silva.

O deputado João Vasconcelos questionou o ministro sobre se, na origem da morte dos dois militares, poderá ter estado uma falha falha dos instrutores do curso. “Estas mortes e feridos devem-se à severidade do curso ou terá havido negligência?“, questionou o deputado. Outra hipótese levantada pelo Bloco: “Terá havido um erro na avaliação dos sintomas” por parte dos elementos do corpo médico do Campo de Tiro de Alcochete? Os militares terão sido “transferidos a tempo?”.

Azeredo Lopes deixou o deputado sem respostas. Mesmo quando questionado sobre a hipótese de as urgências do Hospital da Forças Armadas poderem vir a ser reabertas.

A questão levantada pelo BE foi retomada pelo PCP, pela voz de António Filipe, como um “ponto perturbador” que resulta dos incidentes de domingo, 4 de setembro. “O facto de os Comandos que vieram a falecer terem sido assistidos nos hospitais civis e não no Hospital das Forças Armadas é um elemento perturbador”, disse António Filipe. Mais: o facto de o Exército “ter recorrido ao INEM [para transportar os militares até ao hospital] torna evidente que não existe um sistema de evacuação próprio de Comandos”. Algo que suscita “alguma apreensão” ao PCP.

O ministro não respondeu. O mesmo princípio vale para todas as dúvidas colocadas pelos partidos à esquerda do PS: enquanto não houver resultados do inquérito, não há esclarecimentos a este respeito.