O Congresso dos Deputados de Espanha aprovou, este sábado, a investidura de Mariano Rajoy para líder do Governo, depois de 10 meses de impasse político.

O líder do PP conseguiu a maioria simples dos votos, com 170 votos favoráveis, 111 contra e 68 abstenções. O resultado foi obtido com a abstenção de quase todos os deputados do PSOE e com o apoio do Ciudadanos.

Após a votação, Rajoy declarou à imprensa que reconhece as limitações de governar em minoria, mas espera “converter a situação difícil em oportunidade”.

“Esperamos que não seja apenas um sessão de investidura, mas que possamos, como em outros países europeus onde ninguém tem maioria, governar e trabalhar de maneira conjunta”, afirmou.

Rajoy acredita que “todos devemos fazer um esforço” para garantir a estabilidade do Governo, mas reconheceu que “há coisas que não se pode renunciar” e citou a “unidade de Espanha” e os “compromissos com Europa” como linhas vermelhas na negociação com outros partidos. Avançou ainda que vai apresentar o seu novo executivo esta quinta-feira.

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15 deputados socialistas desobedeceram a disciplina de voto e votaram contra a investidura de Rajoy, entre os quais oito do grupo parlamentar principal e sete do PSC, o ramo do PSOE na Catalunha. Entre os socialistas, duas deputadas próximas a Pedro Sánchez abstiveram-se utilizando a frase “Por obrigação” antes de indicar o seu voto.

Sánchez foi o único deputado que não votou este sábado, após renunciar ao lugar de deputado para evitar a obrigação de respeitar a orientação de voto do seu partido.

Como aconteceu

Rajoy iniciou a sua intervenção no Congresso afirmando que “tinha confiança de que, ao término da votação, poderia anunciar aos espanhóis que temos presidente de Governo”. Solicitou não apenas “uma investidura”, mas um “Governo capaz de governar” com a aprovação do Orçamento de Estado.

Espanha precisa de algo mais que uma investidura, necessita de um Governo capaz de governar. Não peço um cheque em branco, mas um governo, que não é o mesmo. O voto de investidura não é uma rejeição de responsabilidade. Deve ser um compromisso de futuro e um compromisso para todos”, afirmou.

Pediu ainda um Governo previsível, não “a lua”. “Não peço a Lua. Peço um Governo previsível, que as suas linhas sejam conhecidas desde o princípio, para que todo o mundo saiba o que vai acontecer e o que não, e que todo o mundo saiba a que abster-se”, referiu.

Antonio Hernando, porta-voz do PSOE no Congresso, confirmou a abstenção do partido na votação deste sábado, ao dizer que esta era a “responsabilidade” dos socialistas para acabar o “bloqueio político”. Avisou que Rajoy não conta com a confiança do partido: “O Partido Socialista vai dedicar-se a vigiar cada passo que dê”, assegurou.

Pablo Iglesias, líder do Podemos, dedicou a maior parte do seu discurso ao PSOE. “O PSOE vai terminar humilhado, hoje. Permitiu que as elites façam-lhe o trabalho. Demonstrou ser enormemente desleal ao sistema deste país”. E deixou um recado: “[O PSOE] Construiu a base para que mais cedo ou tarde ganhemos as eleições”.

Por sua vez, Albert Rivera, do Ciudadanos, adotou um tom mais conciliador, mas também aproveitou para deixar o seu recado a Rajoy. “Senhor Rajoy, não tenha medo, não se preocupe, é uma legislatura sem maioria absoluta. Se cumprir as exigências de Ciudadanos, isto vai funcionar bem”, assegurou.

Manifestações às portas do Congresso

Durante a sessão de investidura, aconteceu uma manifestação na Plaza de Neptuno, em Madrid, para protestar contra a investidura de Rajoy. Estiveram presentes deputados da coligação Unidos Podemos, entre os quais o líder do partido Izquierda Unida, Alberto Garzón.

Os manifestantes também se reuniram na Puerta del Sol, no centro da capital espanhola.