O Bloco Central acabou e não volta num futuro próximo. O líder do PSD acredita que o algodão que prova que PSD e PS não se vão voltar entender foi o debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2017. Passos Coelho disse esta segunda-feira à noite — no encerramento das jornadas do Consolidação, Crescimento e Coesão do partido — que até fez propostas que estavam no programa eleitoral do PS, mas nem essas os socialistas aprovaram. Deixou ainda um recado ao Presidente Marcelo, a quem que voltou a chamar de “dr. Rebelo de Sousa“, que — depois deste orçamento — voltar a falar em consensos será apenas “conversa fiada”.

Na verdade, embora chamasse a atenção do Presidente de que não vale a pena andar a voltar a pedir consensos ao centro, Passos acabou por concordar com o que Marcelo disse numa conferência do Jornal de Negócios a 23 de novembro no balanço de um ano de governo: não vale a pena insistir num “centrão artificial“.

Passos Coelho explicou que, no debate da especialidade, o PSD fez questão de olhar o país a médio-prazo e apresentou muitas propostas que “estão alinhadas com muitas das menções que são feitas no programa eleitoral do PS“. Depois deste esforço, explica Passos, a questão é esta:

Se nem nas coisas que são próximas eles fazem um esforço para ir ao encontro das nossa propostas, para criar mais confiança junto dos investidores e dos agentes económicos, se nem isto, a maioria e o PS podem aceitar como começo de conversa, então qual pode ser a conversa para futuro?

Resposta: nenhuma. Passos diz que do ponto de vista estrutural era importante que se levasse o consenso entre os partidos “tão longe quanto possível”. E aí vem o recado para o Presidente da República: “Tal como o anterior Presidente tinha dito, o novo presidente, o dr. Rebelo de Sousa, tem insistido em algum consenso entre a oposição e o Governo. E tem razão. Pois temos de ter algum espaço onde nos possamos encontrar, nas questões estruturantes. Mas esgotámos aquilo que é a capacidade para ir ao encontro de uma solução de consenso.” Fica o aviso a Belém.

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O líder do PSD acredita que caiu “a máscara de que o PSD está ressabiado” e que, a partir de agora, falar em consensos entre PS e PSD é “conversa fiada”, já que os socialistas deixaram claro que a discussão sobre os aspetos “mais estruturantes” da sociedade portuguesa, quer fazê-los com o PCP e o Bloco de Esquerda. “Não passarão por nós, certamente”.

Já antes, no mesmo evento, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, começou por dizer, numa alusão ao PS, que “aqueles que muitas vezes vêm ao espaço público clamar que as forças partidárias se devem envolver, chumbaram sem apelo e agravo” as propostas que tentavam o consenso. Depois, ensaiou também um recado a Marcelo Rebelo de Sousa, dizendo que “aqueles que defendem as mesmas posições, devem refletir. Devem dizer ao país de que lado está a boa fé, e de que lado está a má fé. De que lado está quem procura o consenso e de que lado está o sectarismo.”

Voltando a Passos, o líder do PSD lembrou que o falhanço de consensos com o PS não surgem pelos sociais-democratas não terem vontade, mas sim “porque o PS não quer, como se viu neste Orçamento do Estado. Não quer mesmo. O PS reafirmou aquilo que há um ano decidiu fazer: criar um fosso absoluto naquilo a que muitos anos se chamou o arco da governação”. O que fica comprovado neste orçamento, segundo o ex-primeiro-ministro: “Em 45 propostas do PSD, o partido do Governo só aprovou três.”

Para o líder da oposição, o “centrão” não voltará tão depressa: “O PS operou uma rutura e divisão política na sociedade portuguesa que não se irá desfazer com facilidade. Aconteça o que acontecer ao PS e a este Governo, isto condicionará o PS por muito tempo. Por muitos anos. Ecoarão por muito tempo palavras do seu secretário de Estado adjunto: que o PS se sente muito mais próximo da visão de sociedade do Bloco de Esquerda e PCP do que do PSD”. Uma declaração feita por Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, em entrevista ao Observador há um mês.

CGD: “Costa tem de dar explicações aos portugueses. Se não der, não os respeita”

Passos Coelho exortou António Costa a dar explicações aos portugueses sobre a demissão da administração da Caixa Geral de Depósitos. O líder do PSD começou por dizer que “o Governo acha que não deve dar explicações ao país. A administração demitiu-se, nomeia outra. Sem explicações“.

O líder da oposição acusa assim o primeiro-ministro de andar a “brincar com coisas sérias”, quando há “uma administração que tinha já um plano aprovado, demite-se e o Governo não dá uma explicação”. “Mas tem de dá-la”, exige Passos Coelho. Que insiste:

O primeiro-ministro deve essa explicação aos portugueses. E se insistir em não a dar, já não se trata de uma questão de estilo ou habilidade, trata-se de um profundo desrespeito pelos portugueses.

Passos diz ainda que Costa “há-de ter uma explicação, mas nunca terá uma explicação razoável”. Desde logo porque “não se convida ninguém que tem potencial conflito de interesses para negociar um plano, quando ainda tem funções num banco concorrente”, atirou Passos numa referência ao facto de António Domingues, agora presidente demissionário da CGD, ter negociado o plano de recapitalização da CGD ainda como quadro do BPI.

O líder da oposição disse ainda que as novidades da CGD se sabem apenas por “porta-vozes informais”, onde se encaixa o ex-líder do PSD, Marques Mendes. “Essas fontes bem ou mal informadas dizem que os administradores se demitem por não quererem entregar declarações de rendimentos à Caixa Geral de Depósitos. Não sei se é verdade. O primeiro-ministro tem de explicar. Até porque agora sabe-se que entregaram as declarações.”

Num ambiente morno numa sala cheia do hotel Sana, em Lisboa, Passos lembrou ainda que quem fez a última capitalização na Caixa foi o anterior executivo do PSD-CDS: “O Governo está cheio de conversa. Conversa não falta [sobre a garantia de recapitalização], mas até a conversa deixar de ser conversa fomos nós que capitalizámos a Caixa”.

Passos lançou ainda farpas ao primeiro-ministro por este dizer que o PSD é responsável pela destruição do BES, deixando acusações ao PS: “Nós não somos como os socialistas, não nos andamos a meter com os detentores de bancos privados. Isso fazem os socialistas.”

“Isto podia estar a correr muito melhor”

Passos Coelho disse ainda que depois de Portugal ter passado de um défice de 11% para cerca de 3% em quatro anos e meio, sob a sua governação, não seria pedir muito que o Governo PS passasse de 3% para 2,5%. Ainda assim, acusa, o Governo de Costa só conseguirá cumprir o défice à custa de cortes na despesa. Passos lembra que “o Governo atual estimou que ia investir mais mais 500 milhões face ao ano passado e acabou a contrair quase 440 milhões face ao ano passado. Foram quase mil milhões de diferença face à previsão.”

O presidente social-democrata declarou ainda que teria vergonha de “ser primeiro-ministro de um Governo” com tanta “demagogia e descarado eleitoralismo”. Disse ainda que, caso o PSD fosse Governo, ninguém perdoaria esta atitude:

Ninguém nos partidos que hoje apoiam o Governo nem a Comunicação Social se calaria se nós agíssemos com esta falta de decoro.”

O PSD continua a acreditar que representa a “alternativa séria” e que “o que se passou em 2011 ainda está muito presente”, voltando a acenar com o fantasma da governação de José Sócrates. Passos garante ainda que se o PSD fosse Governo o país ainda estaria a crescer mais e com melhores resultados macroeconómicos: “Isto podia estar a correr muito melhor.”