O tema da precariedade laboral era um dos motes das jornadas parlamentares do CDS desta terça e quarta-feira, pelo que, a notícia que saiu hoje a público de que o Governo vai dar uma palavra aos sindicatos no processo de indicação dos precários que devem ser avaliados e integrados no Estado não passou ao lado de Assunção Cristas. Falando no encerramento das jornadas parlamentares, em Aveiro, a líder do CDS acusou o Governo de querer “institucionalizar a cunha dos sindicatos” e avançou que o CDS irá chamar ao Parlamento o ministro do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, para ser questionado sobre esta matéria.

Em causa está uma notícia avançada esta quarta-feira pelo Público, que dá conta da publicação da portaria que regula a primeira fase do programa de regularização de precários no Estado, avançando que os trabalhadores têm de 11 de maio e até 30 de junho para pedir que a sua situação de precariedade seja avaliada, mas com uma nuance: os sindicatos vão poder alertar os dirigentes máximos para situações de que já tenham conhecimento e que precisam de ser avaliadas. Para a presidente do CDS trata-se de uma “cunha”, que vai contra o princípio da liberdade de escolha de um trabalhador ser ou não sindicalizado. “Isto é vedar a igualdade de oportunidades no Estado, isto é a forma da esquerda trabalhar e de se apropriar da máquina do Estado“, disse.

Quer isto dizer que os trabalhadores que não são sindicalizados vão ser mais depressa esquecidos por essa cunha institucionalizada dos sindicatos? Estamos em muitos maus caminhos, ao Estado o que é do Estado, aos sindicatos o que é dos sindicatos”, disse Assunção Cristas no encerramento do último painel das jornadas, dedicado ao tema da descentralização e das autárquicas.

Para o CDS, que dedicou todo o dia de ontem aos temas do trabalho, “não augura nada de bom quando os sindicatos são legitimados por portaria a meter uma cunha pelos seus”. Ainda que não tenha avançado com propostas concretas para combater aquilo que todos querem combater, a precariedade laboral, a líder centrista deixou claro que o CDS se vai “bater pela igualdade de oportunidades para todos”, e levantou dúvidas sobre a exequibilidade de integrar todos os precários na máquina do Estado.

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É muito bonito dizer que se integra toda a gente, mas depois vamos conseguir ter uma máquina que paga a toda a gente?”.

Mais um “atropelo das regras”, que Assunção Cristas diz ser recorrente no atual executivo. Outro dos exemplos é o das cativações, que agora António Costa diz ser um exemplo de boa gestão orçamental. “Quando eu era ministra, no meu mundo ideal não havia cativações, havia um orçamento para cumprir. No mundo ideal do atual primeiro-ministro é muito bom haver 30% de cativações e fazer um Orçamento do Estado [com previsões de despesas] que não é para cumprir”, afirmou a presidente do CDS perante uma plateia de deputados, em Aveiro, sublinhando que “ou é bom executar o previsto para as varias áreas ou ter um défice bonito para apresentar. Não é possível ter um discurso para os dois lados”.

Mas o painel era sobre descentralização e competitividade regional, os oradores eram autarcas do CDS (Vitor Mendes, de Ponte de Lima) e PSD (Ribau Esteves, de Aveiro), e sobre isso também Assunção Cristas tinha uma palavra a dizer: o importante não é tanto descentralizar, é mais saber aproveitar os recursos disponíveis. Ainda assim, o caminho para a descentralização deve passar por “descentralizar primeiro funções concretas” e só depois “passar da prática para o desenho da lei”.

Na presença de Ribau Esteves, o social-democrata que dirige o executivo camarário de Aveiro, Assunção Cristas traçou ainda uma meta muito clara para aquele distrito, que vai ser a grande aposta dos democratas-cristãos na autárquicas de 1 de outubro: passar de duas câmaras já conquistadas (Vale de Cambra e Albergaria-a-Velha) para três. “Esse é o nosso empenho. Certamente que se nas coligações com o PSD conseguirmos ganhar mais um município é positivo, tentar chegar mais além, mas com realismo”, afirmou, voltando a repetir a ideia deixada no jantar de terça-feira de que, se não for agora, será nas próximas eleições.

“Às vezes é preciso semear agora para colher os frutos para daqui a quatro anos ou mais, mas temos de ter vontade agora de semear”, sublinhou.

Cristas com olhos postos nas eleições “daqui a quatro ou oito anos”

Antes de terminar, uma palavra de “admiração” aos autarcas presentes na sala, que a motivaram a candidatar-se por Lisboa. “Se hoje sou candidata a uma câmara é porque fiquei apaixonada pela forma como vi que alguns autarcas, com constrangimentos e dificuldades, conseguiam fazer maravilhas nos seus municípios, e outros, com as mesmas dificuldades, que se choravam e não faziam nada”. Quanto à candidata Cristas, a “ambição é máxima”: “Adoraria fazer em Lisboa o que o Victor [Mendes] faz em Ponte de Lima”, município onde o CDS lidera à mais tempo.