Obrigado, António. Obrigado, Fernando. São dois amigos, cúmplices, e tratam-se por tu. O segundo é (e quer ser) a réplica do primeiro e não se importa com isso. Fernando Medina entrou na sua apresentação como candidato à autarquia– no Palácio das Galveias, em Lisboa — ao som de uma música da banda sonora do filme “Love Actually” (“O Amor Acontece”), a mesma escolhida pelo seu antecessor no último Congresso do PS. Finalmente candidato, após meses a sê-lo sem ser oficialmente, Fernando Medina assumiu que o seu projeto é de continuidade: “Hoje, depois de dois anos e meio a ocupar de posição de presidente da Câmara, a minha admiração pelo António aumentou muito. Sei o quão extraordinário presidente ele foi e o quão extraordinário foi o legado que ele nos deixou. Obrigado, António.”

António Costa — na qualidade de secretário-geral do PS (“é mais do que isso”, foi dizendo quase comovido Medina) — retribuiu os elogios. Disse que o seu sucessor “não se limitou a gerir a herança que recebeu” quando assumiu a presidência da Câmara, “tendo a coragem de fazer obra“. “Um presidente com provas dadas“, acrescentou o primeiro-ministro. E, por isso mesmo, defendeu, Medina “será um presidente da Câmara de Lisboa por mérito próprio”.

Medina não nega onde bebe a inspiração: “Aprendi muito com António Costa“. Mas há diferenças entre ambos. Costa é mais experiente e tem outro à vontade quando lida com os apoiantes. Apesar de Medina ser o anfitrião, foi sempre o primeiro-ministro o centro das atenções. E depois há a habilidade política. Talvez por isso tenha sido o líder do PS a assumir o ataque aos adversários:

Não sei se já repararam, mas Fernando Medina é o único que é verdadeiramente candidato a presidente da Câmara de Lisboa, porque há aqueles que concorrem para recuperar um mandato que por sectarismo perderam em 2007 e há outros que concorrem para procurar manter os mandatos que têm. Depois, há outros que concorrem para saber quem é hoje mais popular na direita portuguesa aqui na cidade“.

Costa confessou ainda que já se tinha “esquecido que tinha sido presidente de câmara” e agradeceu a Fernando Medina a lembrança: “Obrigado por me lembrares.”

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A candidatura de Fernando Medina só foi assumida esta segunda-feira, mas era o segredo mais mal guardado de Lisboa. Houve, no entanto, duas novidades como rostos da candidatura, ambos fadistas: Mariza, a mandatária, e Carlos do Carmo, o presidente da comissão de honra.

No evento estiveram presentes figuras como a deputada Helena Roseta, o histórico socialista Manuel Alegre, Manuela Eanes, a escritora Alice Vieira, o ex-ministro socialista António Vitorino, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, o porta-voz do PS, João Galamba, o antigo administrador da SLN, Abdool Vakil, o antigo secretário-geral da UGT, João Proença, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, entre vários outros membros do PS e do Governo. Afinal, garante António Costa, Fernando Medina é “um agregador de vontades“.

Houve apoiantes que não puderam estar presentes. Para esses, Fernando Medina também deixou uma palavra, explicando o que lhe disse o antigo Presidente da República, António Ramalho Eanes, que não estava presente:

Nós na tropa tínhamos duas formas de dizer as coisas: a forma simples e à bruta. Vou dizer isto à bruta: não me lixe e faça um bom trabalho.”

Outra novidade é que a candidatura de Fernando Medina vai contar com o apoio do Livre e dos movimentos independentes “Cidadãos por Lisboa” (de Helena Roseta) e “Lisboa é Muita Gente” (de José Sá Fernandes).

Medina diz que cumpriu mas ainda não está satisfeito

Fernando Medina falou uma segunda vez com um intervenção mais longa, onde disse que se candidata com a “confiança de pertencer e de liderar uma equipa que cumpriu com a cidade”, dando como exemplo o facto de manter os “impostos em baixo”, a aposta na “reabilitação urbana” ou a municipalização da Carris.

O candidato socialista confessa, no entanto, que não tem um “sentimento de autossatisfação“, admitindo que “há desafios antigos que ainda não foram resolvidos“. Medina acrescenta que a “rápida e profunda transformação” de Lisboa gera oportunidades, mas também “gera novas exclusões e tensões nos quotidianos da cidade”.

Fernando Medina fez depois uso do slogan, “Lisboa precisa de todos”, para dizer que nesses também inclui os “críticos“. O candidato socialista dedicou depois uma parte mais programática do discurso, dizendo que quer “dar mais força à economia”, “melhorar a qualidade de vida de quem vive e trabalha” na cidade e reforçar os direitos sociais, com particular destaque para o “acesso à habitação”.

Em matéria de arrendamento, Fernando Medina anunciou — com a certeza de quem tem o primeiro-ministro como mentor — que irá “propor ao Governo que seja criada a figura do “contrato de arrendamento de longa duração” ou de “duração indeterminada”.

Fernando Medina prometeu ainda uma “governação aberta, transparente e participada”, destacando também como objetivo a defesa da igualdade de género. E com um trunfo na manga: “Pela primeira vez, apresentaremos como candidatos às presidências de juntas de freguesia 12 homens e 12 mulheres, em total igualdade e paridade“.

Medina terminou o discurso a dizer que pede mais quatro anos com “grande humildade” e promete dedicar-se de “corpo inteiro” a Lisboa e aos lisboetas.

No fim, Costa continuava a ser o centro das atenções. Dos eleitores, dos apoiantes e das televisões. Herman José ainda brincou ao ensaiar que iria tirar uma selfie com o primeiro-ministro de fundo. Ao levantar o iphone, acabou por desistir e disse em tom de brincadeira: “Ah, não, A luz não está boa“.

Está assim lançada a candidatura do atual presidente. Medina integrou pela primeira vez as listas do PS à câmara municipal de Lisboa nas últimas autárquicas, em 2013, sendo escolhido por António Costa para número dois. Já era então evidente que era o preferido para a sucessão do agora primeiro-ministro.

Presidente da autarquia desde abril de 2015 — altura em que António Costa saiu do município para se dedicar exclusivamente à campanha para as legislativas — Fernando Medina já tinha sido secretário de Estado durante os Governos de José Sócrates. Com o ministro Vieira da Silva na Segurança Social foi secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, quando o governante passou para a Economia, Medina foi atrás, sendo secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento.

No tempo de Sócrates integrou o Secretariado Nacional e foi escolhido como porta-voz do órgão de cúpula do partido, cargo que ocupou entre 2010 e 2011. Com o PS na oposição, esteve dois anos no Parlamento (foi vice-presidente da bancada socialista), mas deixou de ser deputado para aceitar o convite de Costa para número dois à autarquia lisboeta.

Fernando Medina tem como principais adversários nestas eleições a vice-presidente do PSD, Teresa Leal Coelho, a líder do CDS, Assunção Cristas, o atual vereador e eurodeputado do PCP, João Ferreira, e o deputado municipal do Bloco de Esquerda, Ricardo Robles.