Durante onze dias o mercúrio dos termómetros em Nova Iorque não baixava dos 40ºC durante o dia. Uma onda de calor varreu a região este dos Estados Unidos da América entre 4 e 15 de julho de 1911, provocando a morte de 380 pessoas e de 600 cavalos. Nunca antes o Departamento de Saúde da Cidade de Nova Iorque tinha emitido comunicados a alertar para temperaturas tão quentes que pareciam ter vindo para ficar. A maior preocupação da classe política, principalmente do presidente da Câmara — à época, William Gaynor — era certificar-se que havia gelo para toda a gente: sem isso, toda a comida estragar-se-ia e os problemas prometiam aumentar ainda mais.

Conta o New York Tribune que, às 13h30 de 4 de julho, uma grande multidão juntou-se em redor de um termómetro montado no Park Row. Quando o Sol apareceu, toda a gente dispersou tal era a intensidade dos raios solares. E de repente, o mercúrio do termómetro “entrou numa dança animada”. Não parou de subir até às 15h40. Em Providence, a temperatura aumentou 11ºC em meia hora. Dias depois, os animais, principalmente os veados do Central Park, começaram a desmaiar com o calor. Para os ajudar a sobreviver, a polícia dava-lhes uma mistura de aconite e brandy de tempos a tempos para os manter acordados. Resultou.

Só no dia 13 de julho, que nem sequer foi o mais quente, registaram-se 211 mortes em Nova Iorque. Muitos bebés morreram durante o sono e não acordavam das sestas. As mães preferiam passeá-los, mesmo durante a noite, pelas ruas. Nem todos as pessoas morreram diretamente por causa do calor avassalador, mas também pela forma como tentaram aliviá-lo: muitas morreram afogadas porque se atiravam aos rios sem saberem nadar. Outras morriam em acidentes de viação porque o asfalto da estrada começou a derreter. As linhas de comboio entortaram cedendo ao calor, o que provocou muitos descarrilamentos.

A maior parte, no entanto, morreu de insolação: o bom tempo chamava as pessoas para a rua, a temperatura corporal subia rapidamente e os órgãos falhavam. Havia pessoas que caminhavam desorientadas pela rua com dores de cabeça, tonturas, alucinações e batimento cardíaco acelerado.

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Do outro lado do oceano, em Inglaterra, o cenário repetia-se. A única onda de calor pior que a de 1911 foi a de 1990: a primeira provocou temperaturas de 36,7ºC, enquanto a segunda chegou aos 37,1ºC. Alguns negócios viram grande crescimento durante essas duas semanas: as lojas nunca tinham vendido tantas ventoinhas (que eram um luxo), toda a gente comprava sorvetes e os chapeleiros andavam a vender na rua sem dificuldades.

Ao fim de onze dias, a onda de calor terminou nos Estados Unidos. No lugar dela abateu-se uma grande tempestade que matou cinco pessoas. Em Inglaterra, a onda de calor durou dois meses e meio: houve seca, as pessoas começaram a trabalhar de madrugada para evitar o calor da hora de almoço e a comida começou a escassear porque as culturas foram destruídas pelo altas temperaturas.

Veja na fotogaleria como as pessoas enfrentaram o calor em 1911. Sim, ficou tudo registado em fotos.