Realidade, ficção ou filme de terror. A Casa Branca de Donald Trump parece não conseguir livrar-se de escândalos atrás de escândalos e o mais recente é de fazer inveja aos criadores da popular série House of Cards. De acordo com um processo judicial, o canal conservador Fox News e um abastado apoiante de Donald Trump terão, em próxima colaboração com a Casa Branca, inventado uma história sobre a morte de um jovem colaborador dos democratas, tudo para desviar as atenções das suspeitas sobre a ligação da campanha de Trump à Rússia.
Seth Rich tinha apenas 27 anos quando foi assassinado com um tiro nas costas durante a madrugada de 10 de julho de 2016. A morte, de acordo com a polícia, terá sido resultado de uma tentativa de assalto frustrada.
A história teria ficado por aqui, com a infeliz morte de um jovem de Omaha, no Nebraska, não fosse Seth Rich colaborador do Comité Nacional Democrata e se esse não tivesse sido o mesmo dia em que a Wikileaks decidiu publicar milhares de emails dos mais elevados cargos do Partido Democrata norte-americano, entre eles John Podesta, gestor da campanha de Hillary Clinton.
É aí que entra a Fox News, um milionário com olho para a teoria da conspiração e um ex-detetive que há quase 15 anos comenta assuntos relacionados com crime para a estação de televisão.
De acordo com a rádio norte-americana NPR, que teve acesso a um processo judicial em que o ex-detetive acusa a Fox News, a cadeia televisiva e o milionário Ed Butowsky, com o apoio da Casa Branca, terão ‘cozinhado’ uma história que alegava que os emails do partido tinham sido entregues à Wikileaks por democratas, que a morte de Seth Rich teria mão democrata por detrás e que os democratas estariam a tentar abafar o caso, obstruindo a investigação da polícia. Isso, argumentavam, retirava força à narrativa de que teriam sido russos a enviar os emails para a Wikileaks.
O objetivo, defende Rod Wheeler, o ex-detetive e então comentador da Fox News, era desviar as atenções das suspeitas de conluio entre a campanha de Donald Trump e a Rússia para interferir nas eleições norte-americanas que deram a vitória ao milionário nova-iorquino.
O ex-detetive terá sido contactado por Ed Butowsky para investigar o caso, com o milionário a assumir os encargos da investigação, argumentando que o fazia em nome dos pais da vítima.
Durante a investigação e a criação da história, os dois tiveram uma reunião – confirmada pelo próprio – com Sean Spicer, então porta-voz da Casa Branca, para discutir o caso.
Ed Butowski terá então pressionado o ex-detetive a avançar com a história, argumentando que o próprio Presidente dos Estados Unidos estava ao corrente desta e que queria o artigo avançasse. Numa mensagem de voice mail deixada pelo investidor pouco antes de esta peça ser conhecida, é dito isso mesmo.
Mas uma semana depois de ir para o ar a notícia, e de insistentes painéis e programas sobre o tema, argumentando que isto colocava em causa toda a narrativa sobre o conluio com os russos, a Fox News retirou-a do ar, dizendo apenas que esta não cumpria os requisitos da estação.
A família Rich, a polícia de Washington D.C., o Partido Democrata e até alguns jornalistas da estação colocaram toda esta narrativa em causa. Mas o mal estava feito. A peça, que citava um agente do FBI não identificado, argumentava que os emails teriam sido entregues à Wikileaks por democratas, que estariam envolvidos na morte de Seth Rich e que estes estariam a tentar obstruir a investigação das autoridades.
A maior parte da história era baseada na investigação de Rod Wheeler, mas o ex-detetive disputa parte do que é dito. Admitindo que se arrependeu da peça assim que ela foi para o ar, Rod Wheeler diz que Malia Zimmerman, a jornalista que fez a peça, terá incluído e atribuído ao ex-detetive declarações que este não fez. A Fox diz que não há provas concretas de que a jornalista o tenha feito, apesar de ter retirado a história do ar.
O advogado do ex-detetive e comentador da Fox News diz, citado pela NPR, que Rod Wheeler foi “usado como um peão por Ed Butowsky, pela Fox News e pela administração Trump para tentar desviar as atenções que estavam centradas no roubo dos emails do Comité Nacional Democrata pelos russos”.
Ed Butowski, o milionário que terá tentado dar gás à história, refuta as acusações, alegando que o encontro com Sean Spicer aconteceu porque Rod Wheeler queria desesperadamente um trabalho na Casa Branca – Sean Spicer diz que nunca se falou de qualquer cargo na reunião que tiveram – e que os comentários sobre Trump saber da história eram apenas brincadeiras com amigos. Sean Spicer disse também que não tinha conhecimento de que Trump estivesse a par da investigação.