“Marcelo Rebelo de Sousa foi o Chefe de Estado estrangeiro mais aplaudido.” É assim que o Jornal de Angola descreve a receção do Presidente da República durante a tomada de posse de João Lourenço na terça-feira, dando força aos relatos de que Marcelo terá sido recebido com uma ovação pela audiência. O jornal, detido a 100% pelo Estado angolano, é geralmente crítico do Governo de Portugal. Este é um dos raros momentos em que elogiou a postura dos portugueses.
Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro chefe de Estado a endereçar as felicitações a João Lourenço após as eleições gerais de 23 de agosto. A mensagem oficial, onde eram destacados os “laços fraternais que unem os dois países e os dois povos”, surgiu a 26 de agosto, quando ainda não eram conhecidos os resultados oficiais. A sua presença na cerimónia de tomada de posse não ficou alheia às críticas, com a oposição e a imprensa angolana a acusar o Presidente português de bajular o regime.
Num artigo de opinião publicado no site Maka Angola, e depois reproduzido no Observador, o ativista Rafael Marques admitiu que achava “que o presidente dos ‘afetos’ tivesse tato diplomático para lidar com Angola”. “Enganei-me. Mas não me engano quanto à hospitalidade, ao sentimento de amizade, à capacidade de perdoar e à tolerância do povo angolano”, escreveu o autor de Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola. Referindo-se ao facto de Marcelo ter dito o que a sua visita era sinal de um “sentimento forte de milhões de portugueses em relação a milhões de angolanos”, o jornal Folha 8 questionou o Presidente sobre se estaria a “referir-se aos nossos 20 milhões de angolanos pobres”.
Apesar da chuva de críticas, para o Jornal de Angola, que dá destaque a Marcelo na edição desta quarta-feira, o governante “aproxima os povos”.
Imprensa e partidos da oposição angolanos recebem Marcelo em mar de críticas
João Lourenço, de 63 anos, sucedeu a José Eduardo dos Santos, que liderava o país desde 1979, depois de os resultados definitivos das eleições gerais de agosto terem confirmado a vitória do MPLA com 61% dos votos. A cerimónia da tomada de posse decorreu no Memorial António Agostinho Neto, em Luanda, e contou com a presença de mais de mil convidados nacionais e estrangeiros, incluindo 30 chefes de Estado e de Governo. João Lourenço é o terceiro Presidente de Angola.