Nas 24 horas que antecedem o controverso referendo da Catalunha — declarado ilegal pelo Tribunal Constitucional, mas que o governo regional considera legítimo — a tensão aumenta com a perspetiva de possíveis confrontos entre independentistas e as autoridades.
Milhares de pessoas manifestaram-se contra o referendo, na tarde deste sábado, no centro de Barcelona. Segundo o jornal catalão La Vanguardia, a maioria dos manifestantes envergava a bandeira espanhola — apesar de se verem também algumas bandeiras da Catalunha e da União Europeia — e gritavam palavras de ordem como “Não vás votar, o referendo é ilegal”, “Puigdemont [presidente do governo regional da Catalunha] para a prisão”, “Viva a Guardia Civil”.
Sábado ficou marcado pela ocupação de escolas onde se prevê que sejam as assembleias de voto do referendo deste domingo. As ocupações começaram na sexta-feira e foram levadas a cabo por adultos com os seus filhos, em concertação com associações de pais. Muitos passaram a noite na escola, dormindo em sacos-cama. O objetivo é manter as escolas abertas até ao referendo, impedindo assim que fechem, como é hábito aos fins de semana. Há associações de pais que estão a promover atividades lúdicas, como aulas de zumba ou jogos tradicionais.
A conselheira da Educação do governo regional da Catalunha, Clara Ponsatí, visitou a Escuela de la Concepció, que figura entre as que foram ocupadas. “As escolas da Catalunha são um marco de liberdade, dignidade e democracia, e estamos muito contentes que assim seja”, disse.
As assembleias de votos deverão começar a funcionar às 08h00 para que as pessoas começam a votar por volta das 09h00. Ainda assim, várias entidades a favor do referendo pediram às pessoas para estarem no locais de voto por volta das 05h00 da manhã (hora local), ou seja, antes de a polícia chegar e assim levar avante o referendo, lê-se no La Vanguardia.
Apenas 163 escolas em 1300 estão ocupadas
A expressividade destas ocupações está a ser alvo de disputa. Segundo números da delegação do Governo central na Catalunha, os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã encarregue de travar o referendo, registou apenas 163 escolas entre aquelas que estão ocupadas, de um total de 1300 que foram visitadas. O presidente do parlamento regional catalão garante que estes números dizem respeito apenas a Barcelona e não a toda a Catalunha.
O que é certo é que há mais escolas ocupadas noutras partes da Catalunha além de Barcelona. Um exemplo entre vários é o Riudaura, na província de Girona, onde foram retiradas as portas da Escola Lluís Castells. Qual é a justificação oficial? As portas foram enviadas para “manutenção”.
Ao todo, o governo regional planeou a abertura de 2.315 escolas para servirem como assembleia de voto no domingo. De acordo com a Associated Press, que cita uma autoridade da segurança na Catalunha, a polícia já “selou” mais de metade das assembleias de voto que o governo regional previa abrir para o referendo.
Já ao final do dia, o Ministério de Interior espanhol referiu, no Twitter, que a “maioria dos locais ou edifícios públicos que iriam ser utilizados pela Generalitat estão encerrados”. Ainda assim, alguns locais já estão preparados para receber as pessoas que queiram votar no referendo, como comprova a fotografia do correspondente do New York Times em Barcelona. Resta saber se será efetivamente possível votar.
Ballot boxes are being set up tonight for Catalan referendum, despite police block, but will votes be cast Sunday? pic.twitter.com/hWBVbxNqNK
— Raphael Minder (@RaphaelMinder) September 30, 2017
Ao longo de sábado, os Mossos d’Esquadra têm comparecido nas escolas para avisar as pessoas que devem sair da escola, uma vez que não estão a oferecer um “serviço público”. Para já, não há ninguém a ser retirado daquelas instalações, mas a partir das 6h00 de domingo, os Mossos d’Esquadra têm ordens para identificar os “ocupas” e iniciar a evacuação do interior das escolas. Porém, segundo uma nota interna emitida pelo chefe da polícia catalã, Josep Lluís Trapero, os agentes têm instruções para não fazerem uso da violência em casos de “resistência pacífica”.
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A única exceção será em caso de agressões entre cidadãos ou a um polícia. Mesmo nesse caso, há instruções para “nunca” haver uma intervenção “de maneira generalizada. A nota referia ainda que era preciso ter em conta “as consequências de uma possível intervenção policial”, sublinhando a probabilidade de haver menores e idosos no local.
O Ministério do Interior espanhol referiu, já ao final do dia através do Twitter, que “em alguns dos edifícios ocupados estão a ser utilizados menores e idosos para tentar impedir a atuação da polícia”.
En algunos de los edificios ocupados se está utilizando a menores y a ancianos para intentar impedir la actuación policial#EstamosporTI
— Ministerio del Interior (@interiorgob) September 30, 2017
O Ministério disse ainda esperar que os Mossos consigam cumprir a ordem da juíza e “desalojar” as escolas ocupadas.
Interior espera que la labor de @Mossos ordenada por la juez pueda realizarse y se desalojen y precinten los colegios ocupados#EstamosporTI
— Ministerio del Interior (@interiorgob) September 30, 2017
Carles Puigdemont pede “violência zero”
Numa entrevista ao diário catalão Ara, o presidente do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, pediu que houvesse “violência zero” e “zero confrontos com as forças da ordem ou com qualquer pessoa”.
O presidente do governo regional chegou até a referir que seria “paradoxal, para não dizer suspeito” se no domingo houvesse casos de violência. “Há anos que mobilizamos milhões de pessoas sem qualquer incidente, para não falar de violência. Seria paradoxal, para não dizer suspeito, se agora, que há mais polícia do que nunca, houvesse violência”.
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Também este sábado, o vice-presidente do governo regional da Catalunha, Oriol Junqueras, refere, numa entrevista ao El Periódico, que uma das consequências do referendo pode ser a queda do governo de Mariano Rajoy. “Os votos dos catalães serão a alavanca de mudança na Espanha. Se votarem todos os catalães, o PP vai cair”, disse.
À paisana, Guardia Civil garante suspensão de 29 apps que podiam permitir voto eletrónico
Um grupo de agentes da Guardia Civil entraram à paisana no Centro de Telecomunicações e Tecnologia da Informação (CCTI) e do Centro de Segurança de Informação da Catalunha (Cesicat), o “organismo do Governo da Catalunha responsável pela cibersegurança”, para suspender a atividade de 29 aplicações e programas informáticos que permitiam o voto eletrónico e que também promoviam informações sobre o referendo deste domingo.
La @guardiacivil entra en @cesicat -organismo de la Generalitat responsable de ciberseguridad-para impedir el voto electrónico#EstamosporTI
— Ministerio del Interior (@interiorgob) September 30, 2017
Poucas horas depois, o porta-voz do Governo, Íñigo Méndez de Vigo, disse que “foi dado um golpe à organização do referendo ilegal” e sublinhou que a votação de amanhã “já foi anulada pelo Estado de direito”.
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A visita aconteceu às 10h30 locais deste sábado (9h30 de Lisboa), depois de a Guardia Civil ter entregue uma notificação do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC) em que era ordenada a suspensão daqueles programas. Segundo o El Nacional, os agentes da Guardia Civil vão permanecer 48 horas nas instalações da CCTI para garantir que a ordem de suspensão dos programas informáticos é cumprido. O local está também a ser sobrevoado por um helicóptero da Guardia Civil.
O Ministério do Interior adiantou ainda, através da sua página de Twitter, que os agentes da Guardia Civil “neutralizaram” um call-center em Barcelona, que serviria para “dar apoio técnico ao referendo ilegal”.
1- Agentes de la @guardiacivil neutralizan en Barcelona el call center destinado a dar apoyo técnico al referéndum ilegal#EstamosporTI pic.twitter.com/1S6ZpTZyXw
— Ministerio del Interior (@interiorgob) September 30, 2017
E publicou um vídeo com o que dizem ser “uma sala que iria ser utilizada para gerir os dados eleitorais e manipular a informação depois da suposta realização do referendo”.
2-Esta sala iba a ser usada para gestionar datos electorales y manejar información tras la supuesta celebración del referéndum#EstamosporTI pic.twitter.com/1tdku3r6Qn
— Ministerio del Interior (@interiorgob) September 30, 2017