O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, deixou, esta manhã, um aviso ao ministro da Saúde: caso o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Jorge Simões, não seja demitido, a Ordem poderá abandonar este órgão consultivo do Governo.

“Se o presidente do CNS for demitido, a Ordem dos Médicos mantém-se. Se se mantiver o presidente Jorge Simões, a Ordem dos Médicos provavelmente abandonará o CNS e o CNS passa a não ter a representação da Medicina, o que é mau”, declarou, este sábado, o bastonário, durante o XX Congresso Nacional de Medicina e XI Congresso Nacional do Médico Interno que está a decorrer este fim de semana, em Coimbra.

Eu não posso deixar passar em claro uma afirmação tão grave. E já não falo só da questão da transferência de competência. O mais grave foi que falou nisto e disse logo de seguida que a discussão técnica desta matéria já tinha sido iniciada e isto eu não posso perdoar. Discutem atos médicos com quem? Sem médicos? Sem Ordem? Sem sindicatos?”, explicou o médico, que já tinha dito que iria entregar um pedido de demissão de Jorge Simões ao ministro da Saúde.

Em causa estão as declarações de Jorge Simões à Antena 1 há umas semanas, nas quais o responsável referiu que havia uma relação desfasada entre médicos e enfermeiros, dando a entender que podia haver um reordenamento de tarefas para outros profissionais de saúde.

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Numa carta datada de dia 2 de novembro que Jorge Simões escreveu ao bastonário Miguel Guimarães, e a que a Lusa teve acesso, o presidente do Conselho Nacional de Saúde reafirmou que “algumas tarefas que hoje são exercidas por médicos podem ser desenvolvidas por outros profissionais de saúde”.

E sobre as críticas feitas por Miguel Guimarães, Jorge Simões escreveu que teria sido “crucial um contacto pessoal no sentido de pedir explicações, ou no sentido de pedir a convocação de uma reunião do CNS para tratar deste assunto, ou qualquer outra iniciativa que não fragilizasse um órgão que está a dar agora os seus primeiros passos”. Disse ainda que o bastonário “surpreende pela agressividade do seu tom” e que os comentários “atentam contra o bom relacionamento que deve existir no âmbito do CNS”.

E, ainda na mesma carta, o presidente do Conselho disse ser “falso que tenha dito ou insinuado que o sistema de saúde precisa de profissionais não médicos para ‘para ‘praticarem atos médicos'” e que tenha transmitido “a ideia de que ‘a medicina pode ser feita por qualquer pessoa'”.

O Conselho Nacional de Saúde é um órgão de consulta do Governo onde estão representadas dezenas de entidades, entre as quais a Ordem dos Médicos.