José Sócrates voltou a aproveitar o seu canal no Youtube para se defender das acusações de que é alvo. Desta vez, o vídeo de 6 minutos e 27 segundos é inteiramente dedicado à acusação respeitante às ligações entre o Grupo Lena, de Carlos Santos Silva, e a Parque Escolar. Para o ex-primeiro-ministro, arguido pela prática de 31 crimes, as suspeitas de alegado favorecimento à empresa de Carlos Santos Silva são todas baseadas “em truques com números e numa evidente manipulação da realidade”.
“Durante quatro anos, a investigação não encontrou nada de minimamente censurável na ação desenvolvida pela Parque Escolar: nem um único concurso viciado, nem um favorecimento de quem quer que fosse, nem qualquer influência política, nem qualquer contrato irregular. Nada. Absolutamente nada. Não podendo pegar por nada, os senhores procuradores decidiram inventar”, sugere o antigo primeiro-ministro.
E inventou como? Extrapolando os números e deturpando a realidade, garante Sócrates. “Dizem os investigadores que em determinada fase do projeto foram adjudicadas às empresas do grupo Lena obras no valor de 10,61% do valor total de adjudicações”, começa por dizer o ex-chefe de Governo, para logo concluir que a “afirmação é falsa”. Porquê? Porque o Grupo Lena concorreu em consórcio com outra empresa, devendo por isso deduzir-se os 40% de cabiam à outra empresa. “O Ministério Público não o fez e não o fez de forma maliciosa”, reitera.
José Sócrates acusa ainda os investigadores de terem ignorado deliberadamente o facto de o Grupo Lena não ter vencido qualquer concurso nos primeiros anos do projeto da Parque Escolar porque tal não “era vantajoso para a história que queriam contar”, em mais uma estratégia óbvia de “manipulação”.
O ex-primeiro-ministro escuda-se ainda numa auditoria da Inspeção-Geral das Finanças à Parque Escolar, publicada em dezembro de 2011, e nos relatórios da Parque Escolar para provar que “o investimento total da empresa foi de 2,4 mil milhões de euros e o valor das adjudicações ao Grupo Lena foi de 89 milhões”, logo, “a percentagem de adjudicações ao grupo Lena não é de 10,6%, como sugere a acusação, mas de 3,7%”. “É três vezes menor. Três vezes menor, repito”, insiste Sócrates.
“E digo mais: dos 2283 contratos realizados pela Parque Escolar, a empresa Lena ganhou apenas 14. E finalmente: mais de 95% do valor de adjudicações que a empresa Lena ganhou foi ganho por concurso público e tendo por único critério o preço”, acrescenta.
A terminar, José Sócrates volta a acusar o Ministério Público de estar a conduzir toda a investigação em conluio com os partidos da direita e “tendo por base uma motivação política”.
“Esta acusação não é apenas um lamentável erro, um equívoco, um lapso. Não. Esta acusação tem outros propósitos. O primeiro propósito é justificar a prisão que fizeram (…) A segunda razão é essencialmente política. Esta acusação só existe porque a empresa Parque Escolar foi um dos símbolos políticos da governação do meu mandato. Ora, ao lançar suspeitas sem nenhum fundamento, o Ministério Público não faz mais do que se juntar à direita política, tentando, por meios absolutamente ilegítimos, criminalizar os projetos e a ação dos governos a que presidi. Esta acusação só pode ser entendida como tendo por base uma motivação política”, remata Sócrates.