Rui Rio é um candidato “radical”, confuso, incerto, e com obsessões pouco benéficas para a democracia. É esta avaliação que a candidatura de Pedro Santana Lopes deverá fazer ao desempenho do seu ex-vice-presidente e agora adversário na corrida à liderança dos sociais-democratas. Os santanistas anunciaram que vão apresentar, em breve, um comparativo entre as moções estratégicas dos dois candidatos, onde vão procurar assinalar as “confusões e os recuos” do antigo autarca do Porto.

A candidatura de Santana Lopes, que no dia 2 de janeiro apresenta a sua moção global de estratégia, vai no dia seguinte fazer uma comparação com o texto de Rui Rio, para expor o que considera serem falhas do ex-autarca. À cabeça, o facto de o ex-presidente da Câmara do Porto afirmar, na sua moção, que o “mundo mudou, Portugal mudou, mas o regime mantém-se” e, como tal, “é preciso reconciliar os portugueses com o regime político”.

Telmo Faria, coordenador da moção de estratégia global de Pedro Santana Lopes — e ex-presidente da câmara de Óbidos –, reforça essa leitura ao Observador. “Rui Rio tem feito uma campanha dizendo que é ‘preciso um novo 25 de abril, um banho de ética e uma nova Constituição. Agora, na moção, diz que quer colocar o PSD no centro ideológico do sistema. Isto significa o quê? Rui Rio é um político do centro ou um radical que pretende uma rutura? É preciso clarificar isto. A apresentação da moção não pode ser um cumprimento formal. Os militantes têm de saber ao que vêm. Não há cheques em branco”, defende o social-democrata.

Outra fonte próxima de Santana, diz que Rio é um candidato “radical, confuso, incerto, com obsessões nada benéficas para a democracia.” E acrescenta: “Santana Lopes não se revê neste discurso exagerado e até radical. Não se percebe mesmo de onde vem esta ideia de que os portugueses querem um novo regime político.” As críticas podem subir de tom: ”

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O ex-autarca de Óbidos questiona ainda o facto de Rui Rio, na sua moção, não fazer qualquer referência à atual conjuntura política. “Isto é normal?”, interroga. “O PSD só servirá se for forte e se for capaz de construir uma alternativa. Se Rio não é capaz de afrontar o atual Governo, só dá razão àqueles que dizem que quer fazer do PSD uma muleta do PS. Ainda não foi capaz de explicar com total clareza se quer ser uma muleta de António Costa e revela demasiada sintonia e proximidade com o PS”, defende Telmo Faria.

O coordenador da moção de Pedro Santana Lopes aproveita, aliás, para sublinhar a posição do ex-presidente da Câmara de Lisboa: “Não há bloco central. Nem antes, nem depois das eleições, sem prejuízo de existirem acordos de regime. O PSD deve demarcar-se do PS. Se o PSD for a mesma coisa que o PS, então votar no PSD para quê?”, insiste.

Depois, continua Telmo Faria — antecipando considerações que poderão ser avançadas no dia 3 de janeiro –, Rui Rio não faz “qualquer referência” à importância do grupo parlamentar do PSD, nem à possibilidade de apoiar uma eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, os maiores ativos políticos do partido neste momento.

“Rui Rio parece ter um problema com a imprensa”

Na moção que apresentou a 26 de janeiro, Rui Rio reserva um capítulo à necessidade de combater os “interesse dos grandes grupos económicos” e os efeitos nocivos “do desenvolvimento da economia digital”, que “cria oportunidades tecnológicas para formas de condicionamento da opinião pública que põem em causa o pluralismo e igualdade no acesso à informação e à opinião”. Para outra fonte da candidatura de Pedro Santana Lopes, as palavras do ex-presidenta da Câmara do Porto constituem uma “observação bizarra” e são reflexo de uma “ideia conspirativa” em torno “de grupos económicos e de forças ocultas que controlam a informação”. Para Telmo Faria, “este discurso parece saído dos anos 80”, critica Telmo Faria.

Não nos revemos de todo neste tipo de discurso. Pedro Santana Lopes comete os seus erros e é muitas vezes criticado por isso. Mas sabe viver com os jornais. Rui Rio parece ter um problema com a imprensa“, insiste o social-democrata.

Quanto às medidas apresentadas por Rui Rio, o coordenador da moção de Santana Lopes critica o facto de o antigo autarca do Porto ter desvalorizado o impacto da fiscalidade na vida das empresas, sugerindo que a carga fiscal “não era um entrave ao investimento”. “É um erro político grave, que não corresponde ao património do PSD. A redução da carga fiscal deve ser uma prioridade, como forma de alavanca para atrair investimento”, argumenta.

Mas a maior crítica apontada a Rui Rio é, precisamente, aquilo que dizem ser a total ausência de propostas concretas para o futuro do país. “Rui Rio parece estar apostado em fazer uma campanha assente no apelo emocional, dizendo coisas como ‘eu é que vou pôr isto na ordem’, desprezando o confronto de ideias e de programas. É preciso mais exigência e Rio tem de mostrar ao que vem”, aponta Telmo Faria.

A candidatura de Pedro Santana Lopes quer marcar uma diferença de discurso em relação ao adversário, apesar de ser no aspeto das contas públicas que Rio de aproxima da retórica de Pedro Passos Coelho (cuja herança Santana diz aceitar). O ex-primeiro-ministro quer “virar definitivamente a página da austeridade e da obsessão com o défice”, diz ao Observador fonte da candidatura, usando uma frase muito próxima dos socialistas. Aliás, Santana já tinha dito que o país “não é um afolha de Exel”. A sua “obsessão” deverá surgir como sendo o crescimento económico. “Há uma terceira via entre o aumento da despesa pública e a obsessão com a défice zero”, acrescenta o mesmo santanista. “É o crescimento económico sustentado que levará a uma descida gradual e consistente do défice, da dívida e a contas públicas equilibradas”. Neste caso, é um discurso próximo do de António Costa. Santana “não quer nunca mais austeridade, nem cortes de pensões ou de salários”, afirma o mesmo próximo do candidato. Mas Rui Rio também nunca disse que defendia este tipo de austeridade.