A Fundação “O Século” foi esta quinta-feira alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária, avança o Correio da Manhã, devido a suspeitas de que os respetivos dirigentes tenham usado cartões de crédito daquela instituição para pagar despesas pessoais, viagens e jantares incluídos. Em causa está também a alegada “contratação abusiva de familiares dos dirigentes” para cargos da fundação.
Na sequência das buscas, o presidente e o vice-presidente da fundação — Emanuel Martins e João Ferreirinho, respetivamente — vão ser constituídos arguidos, segundo apurou o Diário de Notícias junto de fonte da Polícia Judiciária.
As buscas à sede da fundação “O Século”, também ela uma IPSS, surgem sensivelmente um mês depois do escândalo Raríssimas ter rebentado, em meados de dezembro, na sequência de uma investigação da TVI que demonstrou como a presidente daquela associação sem fins lucrativos terá usado indevidamente fundos para pagar mensalmente milhares de euros em despesas pessoais. Ambos os casos — o da Raríssimas e o da fundação “O Século” — apresentam semelhanças entre si: desde o alegado uso de dinheiro de IPSS para benefício próprio à contratação de familiares (na Raríssimas trabalhavam o marido e o filho da presidente Paula Brito e Costa).
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As buscas foram realizadas esta manhã à fundação “O Século” por elementos da Unidade Nacional de Combate à corrupção (UNCC) e tiveram como alvo a sede da organização, em São Pedro do Estoril, garantiu à agência Lusa fonte policial. Em causa estão suspeitas de peculato e abuso de poder.
Fonte oficial da instituição disse, por sua vez, que elementos da PJ estiveram hoje de manhã na sede da Fundação e que “levaram documentos”, acrescentando que “não há arguidos”. A Fundação, adiantou a mesma fonte, “aguarda serenamente as conclusões da investigação”. Num comunicado na sua página na internet, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa informa que no âmbito das diligências foi apreendida “documentação contabilística/financeira e de atas relevantes para o objeto da investigação”.
A suspeita da prática dos crimes de peculato e de abuso de poder, de 2012 até hoje, levaram a buscas nas instalações da Fundação “O Século”, informou esta quinta-feira o Ministério Público.
A Procuradoria diz que a PJ efetuou os mandados de busca e apreensão, emitidos pelo magistrado do Ministério Público da comarca de Lisboa Oeste, “no âmbito de processo de Inquérito, no qual se investigam, nomeadamente, a prática de condutas ocorridas entre 2012, até à presente data, suscetíveis de integrar a prática dos crimes de peculato e de abuso de poder”.
A fundação “O Século” tem como missão promover e contribuir para a criação de condições e oportunidades, que possibilitem não só o desenvolvimento sócio-cultural de crianças, como a assistência social a idosos e pessoas menos favorecidas ou em risco social.
A fundação “O Século” existe desde 1998, tendo sido criada com o objetivo de continuar a obra social da antiga Colónia Balnear Infantil “O Século”, criada em 1927 por João Pereira da Rosa, o então diretor do jornal “O Século”. A Colónia Balnear recebeu milhares de crianças desfavorecidas em São Pedro do Estoril nas suas nove décadas de vida.
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“Estou de consciência tranquila”, diz presidente
As buscas feitas à sede da fundação “O Século” terminaram depois de uma manhã atribulada. Segundo o presidente da instituição, em declarações aos jornalistas, a PJ “levou aquilo que quis levar”, incluindo contratos de pelo menos 20 pessoas. “Levaram uma série de contratos de pessoas que seriam relacionadas familiarmente”, garantiu Emanuel Martins, lembrando que todos os contratos passam pelo departamento de recursos humanos da fundação. Martins contou ainda que a filha chegou a trabalhar enquanto sua secretária, mas adiantou que “ninguém tem privilégio por essa condição”.
Tendo em conta as suspeitas de uso indevido de fundos, Emanuel Martins garantiu que todos os cartões de crédito são dados com uma finalidade e “é para isso que têm sido usados”. O presidente explicou ainda que a fundação “O Século” está assente em duas realidades — por um lado apresenta uma estrutura social, por outro, uma área empresarial.
Até ao momento não foram constituídos arguidos, sendo que as buscas da PJ têm por base denúncias feitas contra aquela instituição. “Não penso que possa vir a ser constituído arguido. Estou de consciência tranquila.”