O ano passado não fica na história como um marco para as energias renováveis em Portugal. Ao contrário do que aconteceu em 2016, quando o país viveu durante quatro dias apenas de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis, 2017 fica marcado pelo recuo significativo nesta produção que no ano anterior tinha abastecido 64% do consumo em Portugal.
Em 2017, a produção de fontes renováveis, sobretudo água e vento, chegou apenas para responder a 44% da procura nacional de eletricidade, de acordo com números avançados pela associação ambientalista ZERO e a APREN (Associação das Empresas Portuguesas de Energias Renováveis). A energia produzida pelas barragens foi a grande responsável por esta queda, que é explicada sobretudo pelos efeitos da seca e pelas restrições à geração hidroelétrica de modo a preservar os recursos para o consumo humano. Outro resultado desta limitação foi a energia eólica ter ultrapassado no ano passado a produção hídrica, tendo sido a principal fonte renovável.
A consequência imediata deste cenário foi o aumento da produção de eletricidade com origem fóssil, com recurso a carvão e ao gás natural que no ano passado atingiu um recorde de consumo. Esta necessidade foi responsável por um acréscimo de quatro milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono, segundo os dados da ZERO e APREN.
Mas este nem terá sido o principal contributo para as emissões de CO2 que, segundo as duas associações, atingiram o maior nível desta década, com um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
“As emissões associadas à produção de eletricidade não renovável no ano de 2017, foram de aproximadamente 19,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um aumento de cerca de 4 milhões de toneladas em relação ao mesmo período do ano passado (+25%). Com os efeitos da seca na produção de eletricidade e com grandes áreas ardidas, o ano de 2017 é o ano com maiores emissões de gases com efeito de estufa em Portugal desde o início da década. Em 2017 por cada kWh consumido foi emitido 360 g de CO2″.
Apesar da queda do peso das renováveis no mix de produção e consumo, a APREN e a ZERO destacam os “benefícios significativos” das renováveis no ano passado como o contributo para reduzir o preço médio da eletricidade no mercado grosssista com um benefício estimado de 727 milhões de euros. E poupanças de 770 milhões de euros na importação de combustíveis. Aliás outro dos efeitos da queda da produção renovável na Península Ibérica foi precisamente o aumento dos preços no mercado grossista.
Assinalando que 2017 foi um “ano cheio de desafios para o setor”, as duas associações consideram que a seca extrema fez veio demonstrar a necessidade de um mix energético diversificado (várias tecnologias de produção de eletricidade), de bombagem e de interligações com outros países. E pedem uma aposta “consistente” nas energias endógenas e renováveis para aumentar a independência energética e cumprir os acordos de Paris.