“Ele ameaçou-me com uma faca que tirou do porta-luvas e disse-me que tinha de me despir. Agarrou no meu telemóvel, começou a ver as minhas fotografias, guardou-o na lateral da porta do carro e não mo devolveu”, conta Vanesa ao La Razón. Era uma faca com “20 centímetros”. Quase 13 depois, Vanesa Rodríguez, a irmã gémea de Rosario, a mulher de El Chicle, o assassino da adolescente Diana Quer, recordou e relatou ao pormenor — num interrogatório feito na sequência do caso, a que o jornal espanhol teve acesso — a manhã de 17 de janeiro de 2005.

No verão de 2004, já tinha havido uma tentativa de aproximação de El Chicle à cunhada, também num carro. Ele tinha ido buscar Vanesa à praia, em Rianxo, e ia levá-la a casa dos avós, em Padrón. Parou junto a uma fábrica e, nesse momento ter-lhe-á tocado “no peito, por cima da roupa” contra a vontade de Vanesa. A jovem chegou a contar à irmã que tinha tido “um problema com o seu marido [El Chicle], mas eles continuaram juntos”.

Nesse dia, Vanesa conseguiu escapar. Tal não viria a acontecer poucos meses depois. Eram 8h30 da manhã, de 17 de janeiro de 2005. Vanesa, na altura com 17 anos, esperava na paragem de autocarro para ir para a escola, quando o seu cunhado passou de carro e parou para lhe dar boleia. Vanesa aceitou, entrou no carro mas rapidamente percebeu as intenções de El Chicle, quando se desviou do caminho e a levou para um descampado, em Boira.

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Depois de a ameaçar com a faca e de lhe ter tirado o telemóvel — algo que El Chicle também fez com Diana Quer e chegou a fazer com a outra vítima conhecida que conseguiu escapar — a cunhada de El Chicle terá dito que “não queria fazer nada com ele” e pediu-lhe para a levar para casa.

No carro, sem sair, ele [El Chicle] disse-me que tinha até dez segundos para tirar as minhas roupas enquanto me ameaçava com a faca”, relata Vanesa.

Com medo, Vanesa fez o que o cunhado lhe mandou. De seguida, El Chicle terá tirado uma “caixa de preservativos que tinha no porta-luvas” e terá dito à jovem “para escolher o sabor”. Ela recusou. El Chicle “pôs o preservativo” e violou-a. Vanesa não sabe quantas vezes. “Durou 10 minutos”, recorda. No final, El Chicle passou a faca no corpo da jovem, “desde a garganta até ao umbigo”, apesar de não a ter cortado. “Eu não lutei. Fiquei imóvel até que terminasse”, conta Vanesa. Enquanto mandava o preservativo pela janela e Vanesa se vestia, El Chicle terá deixado um aviso: “Ele disse que se eu contasse a alguém, matava a minha irmã, a minha sobrinha — filha de El Chicle — e, no final, matava-me a mim“.

A jovem estava tão nervosa que acabou por não ir à escola: ficou em casa de um amigo que, mais tarde, a acompanhou a casa. Já era meio-dia. Vanessa contou à sua outra irmã, Elena. “No começo não dissemos aos nossos pais. Mais tarde, decidimos fazê-lo”. Vanessa foi levada para um centro de saúde, onde foi examinada por um ginecologista, em Santiago de Compostela. “O médico disse que eu tinha que denunciar os factos perante o tribunal”.

Mas ninguém acreditou na jovem — a primeira vítima conhecida do autor do assassinato de Diana Quer. Os pais de El Chicle pediram mesmo aos vizinhos álibis para o filho e que contassem uma versão para contrariar a história contada pela irmã gémea de Rosario. A mãe de El Chicle chegou a dizer que a jovem “inventou” e que “estava com ciúmes da irmã”. A própria vítima não avançou e retirou a queixa. El Chicle não chegou a ser condenado e foi absolvido.

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