Dragon Ball é um sinónimo universal de Anime/Manga, praticamente da mesma maneira que Tupperware é sinónimo de caixas de plástico para guardar comida. A obra de Akira Toriyama tem um alcance quase tão mundial quanto a TV. Desde 1984, em forma de livro, e 1986, em desenho animado, que as aventuras de Son Goku fazem as delícias de miúdos e graúdos por todo o lado. Em Portugal, a saga começou a ser transmitida pela SIC em 1995, atingindo o pico de audiências durante a série Dragon Ball Z, muito auxiliada pelas geniais dobragens adaptadas à cultura portuguesa e por algumas sequências de ação brilhantes.

Hoje em dia, Dragon Ball continua a ser constantemente repetida pelos canais de Carnaxide, incluindo a mais recente série, Dragon Ball Super. Por isso, é normal que o anúncio de Dragon Ball FighterZ tenha sido recebido com tanta ansiedade e esperança há cerca de um ano. Publicado pela Bandai-Namco e disponível a partir desta sexta-feira para PS4, Xbox One e PC, Dragon Ball FighterZ é a nova aposta da casa nipónica de adaptação da série. A Arc System Works, que esteve encarregue da sua produção, afastou-se do visual dos seus últimos jogos de luta e levou Dragon Ball para o campo onde são mestre — o 2.5D.

A profundidade de cenários é uma ilusão de composição, tendo em conta que as personagens apenas conseguem movimentar-se num único plano. Contudo, o jogo cria uma ideia de perspetiva quase real. Houve um cuidado enorme na direção de arte para respeitar e ao mesmo tempo tirar o máximo proveito do estilo tão característico e reconhecível da arte de Toriyama. Dos cenários imediatamente familiares aos fãs da série, passando pela saturação de cores vivas, tudo parece saído de um episódio de Dragon Ball, com uma fluidez perfeitamente adequada ao estilo de luta rápido e explosivo do jogo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A base de Dragon Ball FighterZ são as lutas onde os jogadores controlam uma equipa de três personagens, que podem ser usadas de forma alternada, contra outros três adversários. O primeiro jogador a ficar sem lutadores disponíveis perde. O estúdio conseguiu tornar os comandos muito intuitivos para os iniciantes deste estilo mas também desafiantes para os jogadores mais experientes. Os ataques especiais como os discos destruidores de Krilin ou o Kamehameha de Son Goku, conseguem-se efetuar facilmente, tal como alguns combos que são praticamente automatizados. Por outro lado, as combinações mais complexas só são possíveis com prática e treino.

Uma dúvida que pode surgir na cabeça dos fãs diz respeito aos níveis de poder. Uma característica da série é a possibilidade de os lutadores irem subindo as suas capacidades através do aparecimento de inimigos cada vez mais fortes. Só que, quando isso acontecia, alguns ficavam para trás por não conseguirem chegar a esse nível. A Arc System Works conseguiu corrigir isso, tornando-os todos equilibrados: cada personagem tem as suas capacidades especificas, as suas forças e fraquezas bem identificadas. Alguns são ligeiramente mais rápidos, outros são mais resistentes a dano e há ainda aquele que têm habilidades únicas, como Nappa, que consegue semear pequenas criaturas que agarram os adversários e rebentam. Isto significa que podemos pegar em Yam-Cha (fora do cânone da própria série), que é sobejamente conhecido como o mais fraco dos Z Fighters, e enfrentar Frieza, Cell ou até Vegeta sem grande dificuldade.

Não faltam modos de jogo para saciar os apetites dos jogadores, desde o modo arcade a torneios ou batalhas em versus que, como já foi dito, podem ser locais ou online. Apesar de ainda não estar a funcionar a 100% no momento da publicação deste artigo, o Multiplayer Online será, em princípio, aquele que que dará mais longevidade a este título, nem que seja para ver as possíveis interações de diálogo entre os personagens escolhidos. Obviamente que as famosas Loot Boxes marcam presença no jogo, mas não requerem dinheiro real e não dão nada indispensável ao jogador. O sistema é bastante simples: em todas as lutas ganhamos Zenis, a moeda do mundo de Dragon Ball, que são usados para comprar cápsulas. Estas dão aleatoriamente avatares e ícones para utilizar nos lobbies do jogo e pouco mais.

Longe vão os tempos em que o enredo dos jogos de luta eram resumidos com um “é um torneio”. DB FighterZ tem um longo modo de história (entre dez a 12 horas), digno de um arco na série ou no mínimo de um dos seus vários filmes. Este modo de história tem características de RPG: as nossas personagens começam no nível 1 e vão ganhando experiência com as suas vitórias, tornando-se cada vez mais fortes.

A necessidade de subir de nível e o porquê de uma personagem poder combater um clone seu são explicados de um modo muito engenhoso: alguém criou clones da maior parte dos Z Fighters e e ressuscitou alguns dos maiores inimigos de Son Goku, que estão a semear pânico e destruição pelo mundo. Na série há sempre um momento em que o herói costuma entrar em ação. Contudo, a sua mente está presa, e é o jogador quem controla o seu corpo. É por isso que começamos no nível 1 e temos de aprender aos poucos a lutar. Não estando habituados a habitar o corpo de Son Goku ou dos seus amigos, temos que treinar para tirar o máximo proveito das suas capacidades. Desta forma, os criadores do jogo encontraram justificações narrativas para as dúvidas que pudessem existir.

O jogador tem que completar cenários e mapas movimentando-se e derrotando os inimigos até ao boss final. Estas jogadas têm que ser bem calculadas pois tanto os movimentos como a energia é limitada o que implica um certo nível de planeamento e estratégia. As movimentações pelos mapas e lutas com clones são os pontos mais fracos do modo de história, já que é preciso lutar várias vezes contra os clones. Isso torna o jogo altamente repetitivo. É uma pequena falha que pode ser ignorada, mas que não deixa de ser uma mancha que cai no melhor pano.

Existem poucas opções melhores do que Dragon Ball FighterZ no mercado de lutas bidimensionais, e este jogo é a melhor adaptação da famosa série. É, sem sombra de dúvidas, uma compra segura para os fãs: é o jogo com que sonhávamos sempre que ouvíamos o característico “Dragon Ball… Z… Z… Z…!”, que anunciava o início de mais um episódio na TV. Só que agora já não precisamos da televisão: a qualidade do jogo faz-nos sentir que estamos a controlar as personagens diretamente na série de animação.

João Machado, Rubber Chicken