O deputado Adão Silva está a ganhar apoios entre os deputados que apoiaram Rui Rio para substituir Hugo Soares como presidente do grupo parlamentar do PSD. Luís Marques Guedes era o preferido, mas foi convidado e recusou. O mesmo aconteceu com José Matos Correia. Ao que o Observador apurou, o assunto “vai ficar fechado” em breve, para o tema não contaminar o congresso. Se Rio levar este tema em aberto para o Centro de Congressos de Lisboa, corre o risco de ser um fator de distração dos assuntos que considera mais importantes. Adão Silva, de Bragança, é “amigo de Rio há 30 anos” e foi o único membro da direção da bancada que o apoiou desde o primeiro momento.

Esta segunda-feira, Rui Rio mandatou Salvador Malheiro e Maló de Abreu para se reunirem com um grupo de deputados do PSD que apoiaram Rio nas diretas para discutirem o assunto: a continuidade de Hugo Soares esteve em cima da mesa, mas fontes presentes na reunião garantem ao Observador que “não é opção”.

O jantar entre Salvador Malheiro e o “grupo de sete ou oito deputados” foi confirmado ao Observador por várias fontes presentes no encontro. Decorreu em Coimbra, na segunda-feira, e foi “mais uma forma de auscultação do que uma forma de dar diretrizes”. “É importante trocar opiniões e fazer escolhas nesta fase nova do partido”, diz uma fonte que esteve presente na reunião. “Foram colocados todos os cenários em cima da mesa, desde a continuidade do Hugo Soares, passando pela mudança de alguns nomes da direção, à renovação completa da liderança”, diz outro deputado.

Rui Rio não esteve presente mas Salvador Malheiro, que foi o seu diretor de campanha, e o médico António Maló de Abreu, que foi membro da comissão de honra, foram “mandatados para realizar a reunião”. Para um dos deputados presentes, contudo, não foi mais do que um pró-forma, uma vez que “Rui Rio já decidiu há muito tempo, e decide sozinho”. “Ele ouve tudo o que tem a ouvir, mas depois decide sozinho”, corrobora outro deputado. Um ponto ficou assente: havendo renovação, o próximo líder “tem de ser alguém do núcleo dos apoiantes de Rio”.

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Marques Guedes, o “unânime” que não quis

Os deputados rioístas terão feito junto de Salvador Malheiro e Maló de Abreu um desenho de todas as possibilidades, da continuidade à renovação. Mas dentro do cenário da renovação da liderança, que é o mais provável, os deputados mostraram-se contra a opção Fernando Negrão — que fez parte da comissão de honra de Santana Lopes. Ainda esta semana, num almoço-debate no International Club of Portugal, Negrão disse que os nove anos que tem de deputado fazem com que esteja “preparado” para exercer o cargo, se lhe for conferida essa função. Mas está fora da corrida.

Marques Guedes continuava a ser a primeira hipótese de Rio e dos deputados: “Era o único  unânime”. Mas, há duas semanas, Luís Marques Mendes deixava escapar no seu comentário de domingo que o ex-ministro do Governo de Passos Coelho e ex-presidente do grupo parlamentar de Manuela Ferreira Leite não estava disponível. Não estava. E comentava essa indisponibilidade com colegas de bancada.

O critério para a escolha deste deputado mais desconhecido é de “proximidade”. “A relação entre Rio e o líder parlamentar tem de ser de grande cumplicidade”, diz um deputado que apoiou o novo líder. O nome de Adão Silva foi, nessa base, posto em cima da mesa no jantar de Coimbra e “é o que está a ser falado nos corredores”, diz outra fonte. Ao Observador, o próprio Adão Silva limitou-se a rir quando questionado sobre se seria ou não o próximo líder parlamentar do PSD, e afirmou que “não tem falado” com Rui Rio nos últimos dias, apesar de serem “amigos”.

Na reunião em Coimbra estiveram presentes alguns deputados que apoiaram Rio na campanha interna e que lhe são próximos. É o caso de Emídio Guerreiro, António Topa, Rui Silva, Pedro Alves, Rubina Berardo, Bruno Coimbra ou José Silvano. Adão Silva foi um dos deputados que esteve sempre ao lado do ex-presidente da câmara do Porto na disputa contra Santana Lopes, sendo que a maior parte da bancada, incluindo o líder Hugo Soares, e o ex-líder Luís Montenegro, esteve com o ex-primeiro-ministro.

Uma fonte social-democrata diz ao Observador que a decisão “deve ficar fechada” em breve, mesmo que a comunicação oficial e formal não seja feita já. Certo é que até ao congresso, que decorre no próximo fim de semana (16 a 18 de fevereiro), a especulação sobre o futuro da liderança da bancada deve ficar encerrada. “Isso foi um dos pontos assentes na reunião: que tem de ficar tudo fechado antes do congresso”, diz a mesma fonte. Outros sociais-democratas mais críticos de Rio comentam que o novo líder não deve querer ir para o congresso com esta dúvida a pairar, porque senão será um dos temas a dominar o evento. E seria um fator de distração dos assuntos que o líder pode considerar essenciais.

Adão Silva é deputado desde 1987, eleito pelo círculo de Bragança, e faz atualmente parte da direção da bancada, primeiro liderada por Luís Montenegro e agora por Hugo Soares. É também presidente da Comissão Política Distrital do PSD-Bragança.

Entretanto, Hugo Soares convocou para esta quarta-feira, depois do debate quinzenal (o último antes do congresso), uma reunião da bancada parlamentar. Questionado pelo Observador sobre se era uma reunião de despedida, Hugo Soares rejeitou a ideia, afirmando que há reuniões da bancada “praticamente todas as semanas”, sendo que esta só não é à hora habitual (quinta-feira de manhã) para “não ser na véspera do congresso”. O congresso arranca na próxima sexta-feira, dia  16, e dura até domingo.