As negociações na ONU sobre um possível cessar-fogo humanitário de um mês na Síria resultaram numa aprovação, por unanimidade, de um cessar-fogo na Síria. A Rússia, que mantinha uma posição contra a resolução, concordou com uma suspensão temporária de 30 dias e, de imediato, o secretário-geral das Nações Unidas lançou um apelo para que as várias partes em conflito possibilitem a “entrega de ajuda humanitária” na região de Ghouta Oriental.

No momento da votação da proposta de resolução apresentada pela Suécia e pelo Kuweit, os representantes dos 15 países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas levantaram a mão, permitindo a aprovação de um cessar-fogo “sem demoras” na Síria.

“Hoje, vamos ver se os russos têm uma consciência”, tinha dito a embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Nikki Haley, aos jornalistas, sem dar mais pormenores. “As negociações continuam, estamos a tentar um acordo”, afirmou um diplomata, em declarações à agência noticiosa France Presse (AFP), sob a condição de anonimato, antes da aprovação. Em cima do encontro derradeiro, percebia-se a incerteza nas palavras de responsáveis das Nações Unidas sobre a posição de mais uma reunião do Conselho de Segurança.

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Mas houve fumo branco. O diálogo entre os países do Conselho de Segurança chegou, finalmente, a um acordo e os bombardeamentos na Síria vão parar durante um mês, num momento em que surgiam relatos de situações dramáticas vividas pela população que tem sido alvo dos bombardeamentos. Contam-se várias centenas de mortos nos últimos dias.

Síria. Enquanto continuam os ataques a Ghouta, Rússia prepara-se para vetar cessar-fogo na ONU

Proposto pelo Kuwait e pela Suécia, o projeto de resolução em discussão prevê uma trégua humanitária na Síria durante um período de 30 dias, de forma a permitir nomeadamente o acesso a Ghouta Oriental, o último grande bastião da oposição síria nos arredores de Damasco, e a retirada de doentes e feridos.

Esta trégua foi pedida a 6 de fevereiro pelas organizações da ONU que estão no terreno, nomeadamente para fornecer ajuda às cerca de 400 mil pessoas que vivem em Ghouta Oriental. Mas os alertas também foram surgindo de Ghouta. Um dos mais recentes foi divulgado a poucos momentos da votação deste sábado em Nova Iorque.

Num vídeo de 25 segundos, Noor e Alaa (duas crianças que têm protagonizado pequenas mensagens publicadas na rede social twitter a partir daquela região alvo dos bombardeamentos) apelam diretamente a Nikky Hailey para que “salve as crianças de Ghouta” num dia em que houve “200 ataques” aéreos e quando o bairro em que viviam já tinha sido arrasado pelas bombas largadas dos aviões que sobrevoam a zona.

O enclave rebelde está sitiado pelas forças do regime sírio de Bashar al-Assad desde 2013 e enfrenta uma grave crise humanitária, marcada pela escassez de alimentos e de medicamentos. Desde domingo passado, Ghouta Oriental, o último grande bastião da oposição ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, perto da capital síria, tem sido cenário de intensos bombardeamentos. O número de vítimas mortais civis já ultrapassa as 500.

Na quarta-feira, diante do Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a população de Ghouta Oriental, com cerca de 400 mil pessoas, “vive o inferno na terra”.

Mais de 500 civis mortos em bombardeamentos do regime sírio em sete dias

As negociações sobre a resolução duravam há mais de 15 dias e pretendiam evitar um veto de Moscovo. A Rússia, o principal aliado internacional do regime de Damasco, é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e tem direito de veto.

Discussão de “vírgulas” custou vidas na Síria

A votação desta resolução esteve agendada inicialmente para sexta-feira, mas foi adiada para hoje às 17h (hora de Lisboa). A votação por unanimidade foi conseguida cerca de duas horas e meia depois de os representantes na ONU se terem voltado a sentar à mesa para discutir a situação na Síria.

Numa reação ao voto unânime do Conselho de Segurança da ONU, na reunião deste sábado, o secretário-geral das Nações Unidas aplaudiu a decisão e lançou, de imediato, um apelo “para que todos os lados permitam a entrega de ajuda humanitária” na região.

Ghouta vive uma situação dramática. Os intensos confrontos entre as forças rebeldes e os homens de Bashar al-Assad deixaram a área fora do alcance das organizações de apoio humanitário. Depois do choque de quarta-feira, quando dezenas de bombas foram largadas sobre aquela região e deixaram duas centenas de mortos, os ataques mantiveram-se intensos durante o resto da semana e até à aprovação do cessar-fogo, já a meio da tarde, em Nova Iorque.

Na sequência da aprovação da resolução, Nikky Hailey, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, considerou que o documento marca “um momento de união no Conselho” de Segurança que os membros daquele órgão de decisão têm de “preservar para lá dos 30 dias” previstos para o cessar-fogo. “Esperamos que esta resolução seja um momento de viragem em que a Rússia se junte a nós na tentativa de alcançar a estabilidade política neste conflito”, referiu a representante norte-americana.

O embaixador do Reino Unido lembrou que demorou “demasiado tempo” aos 15 países a chegar a um acordo e que isso teve um preço. “Enquanto estivemos a discutir sobre vírgulas, os aviões de Assad”, presidente da Síria, “têm matado mais civis nas suas casas e nos seus hospitais”, referiu Stephen Hickey.