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ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

7 opiniões rápidas para ler o resultado das autárquicas

José Manuel Fernandes, Rui Ramos, Maria João Avillez, Helena Matos, Luís Aguiar-Conraria, Alberto Gonçalves e Alexandre Homem Cristo avaliam uma noite que vai ter consequências à direita e à esquerda.

    Índice

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José Manuel Fernandes

Cinco notas sobre uma noite de facas longas

Assunção Cristas. Foto: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

1. As expectativas eram más, os resultados foram muito piores. Em Lisboa e no Porto o PSD teve um desastre eleitoral sem precedentes. Esse desastre foi uma consequência directa de opções políticas erradas de Pedro Passos Coelho. Há mais responsáveis, incluindo de alguns que se perfilam como alternativas à sua liderança, mas o líder foi o primeiro responsável por escolhas desastradas que tiveram consequências pesadas – algo que o próprio assumiu na sua declaração política. Numa noite eleitoral irremediavelmente marcada pelo resultado nessas duas grandes cidades não surpreende por isso que alguns dos seus eternos críticos tenham pedido a sua cabeça. A verdade porém é que a única alternativa que se prefigura no horizonte, a protagonizada por Rui Rio, também sai ferida desta noite eleitoral, pois o mau resultado no Porto também o penaliza. Mesmo assim já foi uma de facas longas, porventura a primeira de muitas que se seguirão na luta pelo poder entre os social-democratas.

2. O resultado nacional do PSD podia compensar os maus resultados nos dois principais centros urbanos, mas isso não aconteceu. O PSD não recuperou nenhuma câmara emblemática e até perdeu mais algumas autarquias importantes. É no entanto falsa a ideia de que o PSD se transformou num “partido rural”. É tão rural como já era em 2013, e isso não o impediu de, nas eleições nacionais de 2015, conseguir eleger o maior grupo parlamentar. O que determinou as grandes oscilações de votação por esse país fora foi a qualidade dos candidatos – e o PSD mostrou uma enorme incapacidade de ter candidatos fortes e ganhadores. Onde os tinha (Braga, Guarda, Cascais, por exemplo) teve muito bons resultados. Pedro Passos Coelho não quis impor-se às escolhas muitas vezes lamentáveis do seu aparelho. Mais: o PSD terá sido o partido que mais perdeu para candidatos independentes, e isso é um sinal de que não consegue atrair os melhores. É porventura este o principal problema do partido, e um problema que o cruza de alto a baixo e de norte a sul.

"O PCP sabe o aconteceu a outros partidos comunistas quando baixaram a guarda e cederam ao “abraço de urso” de partidos como o PS, pelo que a sua docilidade no quadro da geringonça vai ser questionada"
José Manuel Fernandes

3. O resultado de Assunção Cristas em Lisboa é muito importante para ela, para o CDS e para os futuros equilíbrios da direita portuguesa. É verdade que beneficiou do voto útil de muitos eleitores do PSD, mas foi também resultado de um estilo de fazer política contrastante com o de Paulo Portas. Isso terá consequências no futuro, sendo importante sublinhar que, tomada em conjunto, a votação do CDS e do PSD em Lisboa foi ontem substancialmente superior à de 2013, quando os dois partidos concorreram coligados. Poucos notaram isso na noite eleitoral, mas também aqui há um sinal de como um discurso diferente, como o de Cristas, acabou por recuperar votos para a direita na capital. U m sinal para o país?

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4. Muitos referiram nas televisões que, realizando-se as eleições autárquicas muitas vezes a meio de uma legislatura, isso costuma ser aproveitado pelos eleitores para mostrarem um cartão amarelo ao governo em funções. Não é verdade: basicamente os ciclos de maiorias autárquicas têm sido de 12 anos e têm mais a ver com os momentos em que muitos presidentes de câmara não se recandidatam. Desta vez as condições eram favoráveis ao ciclo autárquico iniciado em 2013, com a grande vitória que o PS teve nessa altura. Os socialistas conseguiram mesmo assim reforçar a sua posição e não se tenha dúvidas que isso também se deveu à estratégia nacional do partido. Costuma-se dizer que, numa legislatura, se tomam as decisões difíceis no início e se guardam as benesses para o fim, mas essa não tem sido a regra com esta maioria. Mais: não me recordo de em alguma eleição anterior, legislativa ou autárquica, se ter colocado um aumento no bolso dos pensionistas mês e meio antes da ida às urnas, mas foi exactamente isso que aconteceu este ano, por deliberada escolha política assumida durante a elaboração do Orçamento deste ano. É uma estratégia que parece ter dado frutos. E que continuará a dar frutos enquanto os astros continuarem alinhados com Costa e os ventos soprarem a favor da nossa economia.

5. A derrota do PCP, que perdeu 9 a 10 câmaras para o PS (e algumas emblemáticas, como a de Almada), deixou os semblantes carregados na Soeiro Pereira Gomes. Muito carregados mesmo. A questão, para os comunistas, é simples: entraram na geringonça para salvarem a sua base sindical, já tinham sofrido uma derrota eleitoral pesada nas presidenciais, hoje os comunistas deverão estar a pensar se vale a pena continuarem a pagar o preço deste casamento de conveniência e, em muitos aspectos, contranatura. O PCP sabe o que aconteceu a outros partidos comunistas quando baixaram a guarda e cederam ao “abraço de urso” de partidos como o PS, pelo que a sua docilidade no quadro da geringonça vai certamente ser questionada. António Costa percebeu-o muito bem ao dizer que o PCP não estava entre os derrotados da noite – algo extraordinário depois de Jerónimo de Sousa, por uma vez na vida, ter reconhecido uma derrota dos comunistas. A geringonça não ficou ferida de morte, mas creio que os sindicatos da CGTP vão deixar de ser tão compreensivos e dóceis como foram nestes dois anos.

Rui Ramos

Um país à espera de qualquer coisa

Não vale a pena fazer a conversa das 308 eleições. O que interessa das autárquicas é a chamada “leitura nacional”. Do ponto de vista dessa leitura, nem as derrotas nem as vitórias foram suficientemente claras para permitir prever o que se vai passar nos próximos dois anos, como parece que muitas famílias desejavam. Ao PCP e ao BE, interessava limitar o poder do PS, e até, conforme o BE se propôs, forçar a uma desmultiplicação da geringonça pelo país. Não conseguiram: o PCP perdeu um terço das suas câmaras municipais, algumas emblemáticas, e o BE não só não conquistou nenhuma, ao contrário do Nós Cidadãos, como viu multiplicarem-se, em vez de geringonças, as maiorias absolutas do Partido Socialista. Mas o PS, com a sua grande vitória, não conseguiu, sozinho, distanciar-se suficientemente da soma PSD-CDS mais independentes da área do PSD e do CDS, para encarar com total certeza a eleição de 2019. Afinal, a grande vitória do PS em 2013 também não poupou António Costa à humilhação de 2015. Por isso, não haverá provavelmente novidade na geringonça: ninguém se sente com força para a dispensar. Com o acordo de António Costa, os parceiros do PS puderam assim calar os seus fracassos, e unir-se todos em coro a gritar sobre o deslize do PSD. O facto de a demissão de Passos Coelho continuar a obcecar PS, PCP e BE é talvez o sintoma mais claro de insegurança da actual maioria.

Portugal até pode andar a crescer economicamente, sob o impulso do ajustamento e da conjuntura internacional. Mas, politicamente, continua quase na mesma incerteza. 
Rui Ramos

O PSD não recuperou do afundamento de 2013, e até baixou mais alguma coisa. Poder-se-á dizer que em 2013, no governo, foi vítima do ciclo económico mau; e agora, na oposição, do ciclo económico bom. Poder-se-á também dizer que houve responsabilidade da liderança nacional, mas como não foi só em Lisboa que os resultados decepcionaram, não terá sido apenas da liderança nacional. Em Lisboa e no Porto, os candidatos de Passos não conseguiram mobilizar o eleitorado do PSD, que no Porto preferiu o voto útil em Rui Moreira e em Lisboa em Assunção Cristas, que finalmente repetiu 1976. Mas em Lisboa e no Porto, alguns dos críticos mais notórios de Passos envolveram-se na eleição, e fizeram parte do cartaz da derrota. No Porto, Rui Moreira nomeou mesmo Rui Rio como um dos principais derrotados. O insucesso, portanto, não foi só de Passos. Dir-se-á que Passos menosprezou estas eleições. Mas não menosprezou a possibilidade de um mau resultado. Por isso, já tinha marcado tudo aquilo que os críticos de um líder no PSD geralmente exigem que ele marque quando as coisas não correm bem: conselho nacional, eleições internas e congresso. Na noite eleitoral, até se voluntariou para reflectir sobre a sua recandidatura. Quem quiser avançar, que avance. Não vale a pena fingir que ainda precisam de bater na porta. Está aberta. Mas terão eles coragem de entrar se pensarem que Passos está do outro lado?

Portugal até pode andar a crescer economicamente, sob o impulso do ajustamento e da conjuntura internacional. Mas, politicamente, continua quase na mesma incerteza. A abstenção diminuiu ligeiramente em relação a 2013, mas é ainda a segunda maior abstenção de todos os tempos em autárquicas. Os “jogos não estão feitos”, e no contexto actual é uma ilusão pensar que as eleições de 2019 podem ser resolvidas dois anos antes, numas eleições autárquicas. Ninguém sabe o que vai acontecer, tal como ninguém nunca soube ao certo o que ia acontecer nos últimos seis anos. Talvez por essa razão, o país continua à espera de qualquer coisa, o que quer dizer que os partidos vão ter de se esforçar muito mais para entusiasmar os eleitores portugueses.

Entretanto, Isaltino de Morais ganhou as eleições, e José Sócrates, outra vez comentador televisivo, saudou-o efusivamente. O que diz isto sobre nós?

Maria João Avillez

Linhas vermelhas

Teresa Leal Coelho. Foto: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

1. O PSD é indestrutível. Sobreviveu às conjuras de Eanes, aos cercos de Mário Soares, às pesadas tribulações da troika. A tudo e até a ele mesmo. Ocupou, marcou, durou. Sobreviveu.

Sucede que os tempos mudaram. Vivemos uma nova era onde se tornou verosímil o que ontem tínhamos como inadmissível, irrealista, inconcebível: a morte ou a irrelevância dos grandes partidos europeus. Esse PSF francês, esse grego Pasok, essa italiana Democracia Cristã, com os quais nos habituámos a contar como uma realidade inamovível dos xadrezes partidários e dos tabuleiros políticos. Cá dentro e lá fora.

Acabou-se. Os tempos mudaram, são outros. São de molde a permitir ou mesmo abençoar a destruição de alguns dos mais fortes pilares partidários das democracias europeias. Chegou a vez portuguesa, com o que está em curso entre nós com a tentativa de destruição (maciça) do PSD. Já se passou a linha vermelha. Vê-se a olho nu e à vista desarmada: na media, na rua, de palácio para palácio, de meios intelectuais para meios culturais. São inteligentemente diversos mas bem municiados os exércitos.

"Não há nenhuma alternativa à liderança de Pedro Passos Coelho que una o PSD. Que venha a impedir a sua fragmentação ou a sua desunião e eis o grande – e talvez o único – argumento para quem combate a actual liderança." 
Maria João Avillez

Não vou por isso apear-me em absolutamente nenhum dos resultados desta noite, freguesias, concelhos, grandes cidades, abstenção. Passo – intencionalmente – para um segundíssimo plano qualquer dessas percentagens porque o que quer que venha a ocorrer (à hora a que escrevo ainda não se sabe tudo) será lido como parte dessa estratégia de destruição social-democrata. Encaixado nela. As autárquicas foram mais uma útil etapa nesta escalada. Não foi Teresa que perdeu e Assunção que ganhou: um copo, um cão ou uma bola a capitanear a lista de Lisboa de Passos Coelho teriam tido o mesmíssimo destino, abater a sangue frio fosse quem fosse que lá estivesse.

2. Não há – e também a olho nu e também à vista desarmada – nenhuma alternativa à liderança de Pedro Passos Coelho que una o PSD. Que venha a impedir a sua fragmentação ou a sua desunião e eis o grande – e talvez o único – argumento para quem combate a actual liderança. Nenhuma alternativa. Não sei se se deve esperar uma ruptura geracional, uma inspiração divina ou mesmo Godot em pessoa até haver, mas de momento sabe-se que não há. Há trapalhadas, hesitações, acusações, ambições; gente que quer (há quarenta anos!) a união do PSD com o CDS, gente que quer um novo partido, gente que quer “mudar tudo, já hoje”. Gente para muita coisa mas sobretudo para invocar a “união do PSD” sabendo que jamais isso ocorrerá com os nomes que o vento agora nos trará.

Helena Matos

Finalmente o resultado das legislativas de 2015

© TIAGO PETINGA /LUSA

Dois anos depois António Costa ganhou as legislativas de 2015. Ao longo dos 24 meses que separam as legislativas de 2015 das autárquicas de 2017, Costa tratou de apagar aquela derrota. E conseguiu: nestas autárquicas, o PCP faz as contas ao que perdeu, o BE ao que não ganhou e Passos Coelho fez finalmente o discurso da derrota. Já o CDS prepara-se para poder viabilizar um Costa versão pós geringonça. Só o PS ganhou.

Por isso podemos dizer que estas eleições foram alegadamente autárquicas. Na verdade elas encerraram as eleições de 2015.

Ganhar câmaras ao PCP foi o que de pior podia acontecer ao PS nestas eleições. A real vitória do PS e a única que realmente interessava àquele partido era a derrota de Passos Coelho. Conseguiu-a.

Mas tal como aconteceu em 2015 também em 2017 a vitória pode ter um sabor amargo pois enquanto o PS celebra, Mário Nogueira, Arménio Carlos, Ana Avoila concebem planos para mostrar que o PCP foi derrotado nas urnas mas que o poder dos sindicatos esse mantém-se intacto.

Esse poder sindical que voto algum afecta e que o governo de Costa ainda blindou mais nos seus privilégios e falta de escrutínio, vai agora tratar de cobrar a António Costa aquilo que o PCP perdeu nas autarquias. Ganhar câmaras ao PCP foi o que de pior podia acontecer ao PS nestas eleições. Durante quanto tempo o PS pagará o dízimo ao PCP para não ter contestação na rua? – esta é uma das perguntas que sobrou desta noite.

Com o BE o caso é outro (o BE não tem expressão autárquica) o que não quer dizer que não estejamos numa zona de risco político: até agora o PS parece ser o maior beneficiário do “Descubra as diferenças” entre a ala esquerda do PS e o BE. Obviamente também Catarina Martins vai querer compensações. E Costa dará mais por mais algum tempo porque quer ser poder e também porque não tem capacidade para enfrentar contestação. (Auguro um crescendo de irritação com jornalistas).

Por fim temos a real vitória do PS e a única que realmente interessava àquele partido: a derrota de Passos Coelho. No PSD volta-se à casa da partida dos anos 70: deve este partido posicionar-se para ser governo ou apostar em viabilizar a governação socialista? A apostar neste última hipótese está o outro grande vencedor destas eleições: Marcelo Rebelo de Sousa. O que pode o PR desejar mais que um PSD desembaraçado de Passos, um PS a precisar de se desembaraçar do PCP e um CDS reforçado para fazer o que for preciso?

Dois anos depois das legislativas de 2015 o tempo das cobranças difíceis vai chegar.

Luís Aguiar-Conraria

Novas ambições à esquerda?

Fernando Medina. Foto: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No momento em que escrevo, ainda não é claro se o PSD em Lisboa fica em 3.º, ou 4.º ou 5.º lugar. Também não é claro se chega a ter metade dos votos do CDS. No Porto, parece claro que ficará em 3.º lugar, mas não é claro se passará dos 10% dos votos. Perante isto, não sei o que comentar. São as duas cidades mais importantes de Portugal. Em Portugal, a pasokização do PSD é uma ameaça real.

Só o facto de estas projecções não serem absurdas mostra o estado em que está o PSD. É um partido que precisa de se rejuvenescer urgentemente, de mudar de discurso, de deixar de estar agarrado à ideia infantil de que ganhou as últimas eleições legislativas e pensar já não nas próximas, mas nas legislativas seguintes.

"O PSD precisa de se rejuvenescer urgentemente, de mudar de discurso, de deixar de estar agarrado à ideia infantil de que ganhou as últimas eleições legislativas."
Luís Aguiar-Conraria

À esquerda, a maior novidade veio do período de campanha e é independente de qualquer resultado em particular: quer Jerónimo de Sousa quer Catarina Martins mostraram alguma abertura para entrar num futuro governo. Jerónimo de Sousa especulou sobre a possibilidade de um acordo de governo bem definido e Catarina Martins deixou bem claro qual a sua principal exigência: ou o Ministério do Trabalho ou o da Finanças.

Uma nota final para a eleição de Isaltino Morais em Oeiras. Como dizia Vera Gouveia Barros no seu Facebook, é a demonstração de que os portugueses confiam no seu sistema prisional e na sua capacidade de ressocializar anteriores condenados. Comovente.

P.S.: Escrevendo hoje, dia de eleições em Portugal, é impossível não enviar um abraço solidário aos catalães que foram violentamente impedidos de dizerem o que querem para o seu futuro. A direita espanhola mostrou ser uma boa herdeira do franquismo.

Alberto Gonçalves

Zero à esquerda

Fernando Medina com António Costa. Foto: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

20.00 A trave, primeiro, e Rui Patrício, depois, impedem o golo do Porto. O Sporting parece asfixiado no próprio estádio.

20.06 Telmo Correia, do CDS, garante que o resultado em Lisboa – a vitória do PS por larga margem – é “histórico”. Segundo a RTP, Isaltino Morais vence no “concelho mais qualificado do país”. Aguardo com nervosismo quem vencerá no menos qualificado.

20.11 Durante a campanha, Rui Moreira ridicularizou apressadamente uma sondagem da Católica que lhe dava 34% dos votos e um empate técnico com o senhor do PS. Felizmente, o rigor científico veio ao de cima e, ao que consta, Moreira talvez alcance os 47% ou 48%.

20.18 Aquela senhora que namorava com o falecido Paulo Pedroso surge a dizer umas coisas. Por sorte, não ouvi quais. O jogo nunca mais recomeça.

20.19 Sob fortes aplausos da exigente nomenclatura do BE, uma das gémeas Mortágua também diz coisas, mas para um microfone abençoadamente avariado.

20.21 Em Coimbra, o sujeito que prometeu um aeroporto fica aquém da maioria absoluta, se calhar por não ter adicionado um terminal de cruzeiros ao pacote.

20.24 O “politólogo” Pedro Magalhães, da Católica, refere a “controvérsia” da sondagem do Porto sem, misteriosamente, pedir desculpa pela desgraça da mesma.

20.27 Recomeça o jogo. Julgo não haver alterações nos “onzes”. Luís Freitas Lobo explica que “o passe de Gelson é que abre as luzes e tira o coelho da cartola”.

20.38 Freitas Lobo informa que “o jogo está partido porque falta a cola”. O Sporting melhorou na segunda parte.

20.48 Conscientes do seu papel cívico, os canais sérios passam publicidade sem parança.

20.50 Brahimi e Danilo estão cansados.

20.53 Sai Herrera e entra Otávio sem “c”.

20.54 “Todas as atenções estão viradas para a sede do PSD”, diz a repórter da RTP, dona de uma visão peculiar da realidade.

20.58 Marega quase marca.

21.00 Um senhor do CDS que não é Telmo Correia garante que o resultado em Lisboa é “histórico”.

"Como as calamidades pedem companhia, Manuela Ferreira Leite confessa-se 'atónita e chocada' perante os 'resultados demasiadamente maus'.”
Alberto Gonçalves

21.08 Leio no Observador que “Marcelo acha ‘muito estranho’ as pessoas não se interessarem pelas autárquicas”. Estranhíssimo é alguém interessar-se por Marcelo.

21.11 Termina o jogo, com um empate a zero. Continua a “cobertura” das “autárquicas”, e o zero também: na TVI, o funcionário Sérgio Figueiredo deleita-se, com certa razão, com a derrota nacional do PSD. Em prol do contraditório, juntam-se-lhe no debate (?), Constança Cunha e Sá, o dr. Júdice e a menina Marisa. Como as calamidades pedem companhia, Manuela Ferreira Leite confessa-se “atónita e chocada” perante os “resultados demasiadamente maus”. O sr. Figueiredo, que possui a argúcia ou as vértebras de uma lesma, congratula-se por Portugal não ter “extremismos”. O dr. Júdice lembra o candidato Ventura. Todos em coro pedem a saída de Pedro Passos Coelho, afinal o solitário desígnio daquelas curiosas vidas.

21.35 Contas feitas, os portugueses não deixaram de legitimar com votos e festança o saque que o “poder local” executa sobre os respectivos rendimentos. Bom para eles. Por mim, regresso a assuntos de facto, ou seja, ao “rescaldo”.

22.21 Interrompo análises pertinentes à táctica de Sérgio Conceição para ver o dr. Pizarro ameaçar que “é no PS que está o futuro do Porto”. É fazer as malas.

22.40 Não encontro o “Mais Bastidores”.

23.20 Contas refeitas, se bem percebo o site da CNE, todos os partidos se preparam para repetir as percentagens nacionais de 2013, logo o dr. Costa é um génio político do gabarito de “Tozé Seguro”, o PSD tem dez minutos para trocar de líder, o CDS obtém um triunfo histórico, o BE segue imparável e o PCP ganha, como ganha sempre.

23.26 Tema para reflexão: o Benfica está em crise?

Alexandre Homem Cristo

Cristas ganhou, mas a direita perdeu

Pedro Passos Coelho. Foto: NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

Assunção Cristas conseguiu uma grande vitória em Lisboa, ultrapassando em muito o historial do CDS na cidade e as expectativas que lhe traçaram há seis meses. Só que do outro lado da moeda desse sucesso está a derrota estrondosa do PSD, que com Teresa Leal Coelho estabeleceu um novo histórico negativo. A leitura imediata seria a do reflexo desses resultados para as lideranças dos partidos – fortalecimento da posição de Assunção Cristas no CDS, enfraquecimento da posição de Passos Coelho no PSD. Só que essa leitura, que é essencialmente partidária, não é a mais importante. No final de contas, o que importa fixar é que, apesar do sucesso de Cristas, a direita perdeu: ficou mais longe de se afirmar como alternativa ao PS e, com os olhos nas legislativas, ficou mais afastada do regresso a São Bento.

Se há palco autárquico que, nestas eleições, permite leituras nacionais, esse palco é Lisboa. Porque o actual mandato foi iniciado por António Costa (e, indirectamente, também o seu trabalho na capital foi avaliado). Porque o CDS escolheu a sua líder (e ex-ministra do governo de Passos Coelho) para a corrida eleitoral. Porque Teresa Leal Coelho é vice-presidente do PSD e, na campanha, teve a seu lado várias figuras de primeira linha do partido. E porque PCP e BE fizeram uma campanha suave, na expectativa de darem a mão a Fernando Medina, como quem aspira a uma geringonça lisboeta. Os equilíbrios da política nacional estiveram reproduzidos na campanha da capital.

"O PSD não apenas perdeu estas eleições, como desistiu de as ganhar logo à partida quando recusou uma aliança com o CDS. E, com essa decisão fatal, começou também a perder as eleições legislativas, arrastando a direita para um beco sem saída."
Alexandre Homem Cristo

Isso foi claro desde o primeiro dia. Por isso, há um ano, defendi que seria do interesse do PSD apoiar a candidatura de Assunção Cristas. Porque evitaria a pressão de arranjar um candidato mais fraco em cima do joelho (como sucedeu). Porque a pressão do resultado ficaria toda do lado do CDS. Porque ter um bom resultado em Lisboa era fundamental para preparar as legislativas. E porque uma candidatura única à direita era a única possibilidade de ir a jogo por uma vitória em Lisboa (que teria sido possível). Se tal cenário se tivesse concretizado, as leituras nacionais teriam sido hoje muito diferentes, apontando ao renascimento da direita e da oposição ao governo. E anunciando umas competitivas eleições legislativas em 2019.

Só que a opção dos sociais-democratas foi, pelo contrário, avançar numa candidatura própria, para cumprir calendário. E a leitura dos resultados é infernal para o PSD. Ou seja, o PSD não apenas perdeu estas eleições, como desistiu de as ganhar logo à partida quando recusou uma aliança com os democratas-cristãos. E, com essa decisão fatal, começou também a perder as eleições legislativas, arrastando a direita para um beco sem saída. É que, como se viu, a direita vale pouco (ou muito menos) separada. Agora que isso ficou exposto ao país, ao mesmo tempo que a distância entre PSD e CDS se acentuou, ficou mais difícil de acreditar que o prometido novo ciclo político do pós-autárquicas não será mais do que a consagração do PS.

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