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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

"Estamos a viver em piloto automático"

Demasiado focados em nós próprios e de olhos vendados para o mundo. Michael Puett e Christine Gross-Loh explicam o que leva tantas pessoas a escutar, dois mil anos depois, os filósofos chineses.

Ler o livro O Caminho da Vida ou conversar com os seus autores é um desafio. Um desafio porque a obra que uniu o professor catedrático Michael Puett e a escritora e jornalista Christine Gross-Loh desconstrói as crenças modernas sobre o que realmente é preciso para crescermos enquanto seres humanos. Afinal, andamos tão virados para dentro — à procura do cobiçado Eu –, que não notamos que são as questões de auto-descoberta que nos levam a picos de ansiedade e a momentos de depressão. Isto é, pelo menos, o que defende a dupla.

As ideias propostas — e que convidam a uma reflexão profunda — não são da autoria do conceituado professor mas sim de ensinamentos de filósofos chineses com dois mil anos que Puett se tem dedicado a transmitir. Talvez seja o que diz ou a forma como o diz — não fosse uma pessoa muito enérgica — que cativa tantos alunos. O curso de Filosofia Chinesa lecionado pelo norte-americano é o terceiro mais popular na Universidade de Harvard e o livro que agora chega a Portugal, publicado originalmente nos EUA a 5 de abril, é já um bestseller da Amazon.

Talvez seja caso para tanto, com os autores a explicarem ao Observador toda uma “nova” forma de interagir com o mundo: não somos seres imutáveis, logo não nos podemos definir; relacionamo-nos com os outros de forma egocêntrica e cedemos a padrões de comportamento que não nos deixam evoluir.

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O livro é editado pela Lua de Papel e custa 13,95€

Como acha que os historiadores do futuro vão descrever os tempos em que vivemos hoje?
Michael Puett (MP): Acho que vão descrevê-lo como aquilo a que nós nos referimos no livro como a idade ou era da complacência. Acho que vão olhar para trás, para nós, e pensar que aqui estava um grupo de pessoas que pensou ter resolvido todos os problemas do mundo: que descobriu como dirigir uma economia, como dirigir um sistema político ou como compreender o Eu e que, por isso, tornou-se complacente e assumiu que tudo o que vinha do passado era uma forma tradicional de pensar. No entretanto, enquanto essas pessoas estavam convencidas de que tinham resolvido tudo, grandes problemas estavam a crescer e ninguém lhes pareceu prestar atenção até que o preço começou a ser cobrado — como a grande crise financeira, que obrigou a questionar o sistema económico, e até certo ponto a crise ambiental, que vai obrigar a rever a visão do mundo. Infelizmente, acho que a tristeza que tem prevalecido em muitas vidas vai obrigar-nos a repensar a nossa noção do Eu. Tudo isto podia ter sido repensado há décadas e, no entanto, temos sido complacentes.

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Depois de um mundo marcadamente tradicional, atualmente vivemos uma época onde acreditamos ser livres. Tal como escrevem no livro, acreditamos também que “chegámos finalmente ao fim da história”, a uma espécie de final feliz. Como assim?
Christine Cross-Loh (CCL): Há esta ideia desde o final de década de 1980 de que já atingimos tudo e que isto é o resultado final, o fim da história. Há também uma sensação crescente de que não é bem assim e isso está diretamente relacionado com o facto de este curso ser tão popular entre os estudantes, porque eles foram completamente educados neste mundo, ao contrário de nós — nós somos a geração que viu o mundo antes disso, nós vimos a mudança acontecer. Já os estudantes cresceram neste mundo e sentem que algo não está bem e que esta não é a resposta.

Michael Puett é professor catedrático de História Chinesa da Universidade de Harvard. © Hugo Amaral/Observador

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Infelicidade, narcisismo, e ansiedade são características associadas ao mundo moderno. Porquê?
CCL: O foco no Eu tem criado muitos problemas. Há esta procura interna, a procura por quem realmente somos ao contrário do que os filósofos chineses nos querem fazer entender, isto é, que nós somos quem somos em relação às pessoas que estão à nossa volta. Em vez de olharmos para fora, de nos desenvolvermos e cultivarmos, há décadas que existe este foco no interior e isso está, sem dúvida, a criar ansiedade e narcisismo.

Isto acontece porque nos questionamos em demasia?
MP: Ironicamente, sim. É como a Christine disse. A ironia disto tudo é que tendemos a pensar que enquanto vivemos neste ótimo mundo podemos decidir por nós próprios, viver as nossas próprias vidas e pensamos que ganhamos isso a olhar para dentro, à procura do nosso verdadeiro Eu, decidindo quem somos, aceitando o que somos e tentando viver a vida de acordo com este Eu autêntico. Tudo isto soa muito bem. Ironicamente, vemos que as ideias oriundas da China argumentam que esta maneira de pensar condicionam-nos e cria os problemas de que estamos a falar, porque estamos eternamente à procura do que não existe e tentamos definir-nos de acordo com a pessoa que achamos ser. Mas os filósofos chineses dir-nos-iam que quem nós achamos que somos é, muito provavelmente, um conjunto de rotinas e de padrões nos quais mergulhámos. Então, em vez de trabalhar com o mundo em redor, de mudarmos as nossas ações internas e, assim, mudarmo-nos a nós próprios, ficamos completamente presos às mesmas rotinas que repetimos vezes sem conta, criando ansiedade. Ficamos sem resolver nada porque pensamos “eu sou assim e devo ser feliz por ser quem sou”.

O foco no Eu tem criado muitos problemas. Há esta procura interna, a procura por quem realmente somos, ao contrário do que os filósofos chineses nos querem fazer entender, isto é, que nós somos quem somos em relação às pessoas que estão à nossa volta.
Michael Puett

Estamos a viver em piloto automático? É esta uma sociedade autómata?
MP: Sim. Os filósofos chineses diriam um sim absoluto. Ironicamente, repito, quando achamos que estamos a ser honestos connosco próprios e a viver as nossas próprias vidas, estamos, na verdade, a viver em modo piloto automático. Simplesmente tornamo-nos nestas criaturas que repetem as mesmas rotinas e padrões vezes sem conta e, pior ainda, não nos apercebemos disso e continuamos a dizer a nós próprios “oh, isto é quem eu sou e devo amar-me por isso”.

Mas não são as rotinas importantes para organizarmos a vida, quando, por exemplo, queremos ser mães e pais?
CCL: Quando falamos em rotinas estamos a falar sobre repetir o mesmo comportamento vezes e vezes sem conta [tendo em conta as pessoas à nossa volta]. Por exemplo, temos uma má relação com a nossa irmã ou com a nossa mãe porque ela diz sempre a mesma coisa e nós temos sempre a mesma reação. Isto são rotinas. Penso que existem definitivamente standards e regras sociais para determinadas transições na vida, tal como ter um bebé. Uma rotina é como se estivéssemos num carro que está preso na lama, e nós tentamos avançar vezes sem conta e não conseguimos sair dali.

MP: A ideia chave é arranjar espaço para nós próprios crescermos como seres humanos. Os filósofos chineses dir-nos-iam para prestar atenção às pequenas coisas do dia a dia.

Do artigo ao livro

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No outono de 2013, a jornalista Christine Gross-Loh assistiu a uma aula de Filosofia Chinesa na Universidade de Harvard para escrever um artigo para a The Atlantic. A ideia era perceber a razão por que o curso de Michael Puett se tornara o terceiro mais popular na faculdade. Escrito o artigo, a jornalista juntou-se ao professor académico para, juntos, escreverem o livro O Caminho da Vida, que agora chega a Portugal.

Ao que fazemos diariamente? Isso tem alguma coisa que ver com mindfulness?
CCL: A ideia do mindfulness passa por não nos focarmos no passado ou no futuro, apenas vivermos no presente e isso traz-nos paz. Aqui estamos a prestar atenção ao impacto que temos nas pessoas à nossa volta ou em nós próprios. O mindfulness é uma forma mais desligada de lidarmos com o presente. Isto tem mais que ver com o relacionamento que temos com outras pessoas. Por exemplo, as expressões que fazemos têm impacto nos outros e provocam reações; é a isso que devemos prestar atenção, até porque o passo seguinte é olhar para o que podemos mudar. As pessoas são complicadas e têm muitos lados, pelo que podemos fazer sobressair coisas diferentes delas ao mudarmos a nossa forma de interagir.

Christine Gross-Loh é jornalista e escritora. © Hugo Amaral/Observador

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Porque precisa o ser humano de encontrar-se, de se definir? Porque sentimos necessidade de organizar o mundo e de planear a vida?
MP: Temos esta visão de que o ser humano tem um Eu autêntico, pelo que desde cedo as nossas vidas são vividas a olhar para dentro à procura de nós próprios — e assim que nos descobrimos devemos amar-nos por quem somos e ser autênticos ao que que achamos que somos. Os filósofos chineses diriam que isto está completamente errado. Diriam que os seres humanos são muito confusos, repletos de emoções, disposições, desejos e capacidades. E porque somos confusos, quando interagimos com outras pessoas estamos continuamente a provocar respostas. Se alguém sorri para mim, isso provoca uma reação boa em mim, o contrário acontece se alguém franze as sobrancelhas. O perigo é que somos muito passivos em relação a isto, estamos sempre a ser puxados por coisas que acontecem à nossa volta e caímos em padrões de comportamento. Com o passar do tempo acabamos por responder da mesma forma.

Estamos a limitar as nossas possibilidades de responder/reagir às coisas de forma diferente porque nos catalogamos?
MP: Precisamente.

"Quando achamos que estamos a ser honestos e a viver as nossas próprias vidas, estamos, na verdade, a viver em modo piloto automático. Simplesmente tornamo-nos nestas criaturas que repetem as mesmas rotinas e padrões vezes sem conta e, pior ainda, não nos apercebemos disso."
Michael Puett

Imaginemos que estamos num encontro e a outra pessoa pergunta-nos o que mais gostamos. Ao respondermos estamos a tentar definir-nos de maneira a ver se somos ou não compatíveis com ela. Não é muito mais fácil relacionarmo-nos com outras pessoas quando achamos que sabemos quem somos?
MP: Num encontro tentamos conhecer-nos e à outra pessoa para vermos se somos compatíveis, é certo, mas talvez devêssemos pensar de forma diferente. A pergunta seria se nos relacionamos bem um com o outro ou não. A verdade é que se sou uma criatura confusa, tudo o que eu disser [nesse encontro] vai mudar ao longo do tempo em que estou numa relação com esta pessoa. Sobretudo se for uma relação vitalícia, tudo ficará diferente. O foco deveria ser, então, se podemos construir uma boa relação na qual, por definição, os dois mudemos constantemente, mas em conjunto. Isto é muito diferente de pensar se eu, este ser imutável, sou compatível com este outro ser imutável.

CCL: O perigo ao pensar assim é que daqui a 10 ou 15 anos olhamos para o lado e pensamos “quem é esta pessoa?”. Isto acontece a tanta gente. Por relacionar bem, queremos dizer a forma como duas pessoas respondem uma à outra, não tem que ver com o conteúdo do que se diz e não passa por catalogar alguém. Definitivamente acho que as pessoas se catalogam umas às outras.

"É muito importante saber que a verdade é que nós somos confusos, que o próprio mundo é confuso. Aprender a trabalhar com isso é mais desafiante, mas pode levar-nos a uma vida melhor." 
Christine Gross-Loh

Parece assustador viver uma vida inteira sem sabermos quem somos…
CCL: Acho que é por isso que estas ideias podem parecer perigosas, mas é muito importante saber que a verdade é que nós somos confusos, que o próprio mundo é confuso. Aprender a trabalhar com isso é mais desafiante, mas pode levar-nos a uma vida melhor.

Somos complexos e estamos sempre a mudar. Como podemos, então, diferenciar-nos uns dos outros?
MP: O que nos define é a forma como interagimos com o mundo. As relações que construímos e as atividades em que nos envolvemos define quem somos, pelo que tornamo-nos pessoas muito diferentes com o passar do tempo. O importante é percebermos se fazemos isso passivamente, isto é, se caímos nestas rotinas que repetimos vezes e vezes sem conta ou se o fazemos de forma ativa — a nossa autenticidade é o resultado do que fazemos constantemente para crescer enquanto ser humano.

Como é o terceiro curso mais popular de Harvard?

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As aulas dadas por Michael Puett gozam de boa fama. Cada uma dura cerca de 50 minutos e é feita sem recurso a quaisquer apontamentos ou dispositivos. Os alunos não têm de fazer leituras obrigatórias ou ter conhecimentos previamente adquiridos sobre a matéria, tal como explica a jornalista Christine Gross-Loh no prólogo do livro O Caminho da Vida. O curso dura um ano e meio e todos os anos o professor catedrático faz uma mesma promessa no primeiro dia de aulas: “Se vocês levarem a sério as ideias contidas nestes textos, elas mudarão a vossa vida.” É o terceiro mais popular de Harvard, ficando apenas atrás do curso de Introdução à Economia (1º) e Ciências Informáticas (2º).

As pessoas apaixonam-se por nós e/ou gostam de nós estando nós em construção?
MP: Eu penso que sim. As pessoas que estão ativamente ligadas ao mundo são as pessoas que achamos incríveis e que queremos ter na nossa vida. As pessoas que caem nos padrões que já referimos são aquelas com as quais é difícil de lidar.

Então não estamos a perder identidade, apenas a acumular identidade?
CCL: Acho que se tentarmos definir a nossa identidade, estamos a perdê-la porque perdemos tudo o resto em que nos podemos tornar.

Sempre ouvi dizer, com mais ou menos certeza, que as pessoas não mudam. O livro propõe exatamente o contrário e afirma que a perseverança está na base da mudança. Há esperança para o homem ou para a mulher que nos trai, para o amigo que nos magoa ou para os pais que não nos aceitam como somos?
MP: Sim. Se pensarmos nestas relações como as rotinas e os padrões nos quais temos tendência a cair, isso significa que se nós mudamos, estas relações também podem mudar. Se temos um problema com um pai e isso repete-se durante décadas, definindo as nossas vidas, podemos pensar nisso como um padrão repetitivo e, de facto, podemos fazer pequenas coisas para os alterar. Se tenho um pai que olha constantemente para mim como o filho falhado, então posso fazer pequenas coisas para trazer à tona diferentes lados dele. Posso perguntar-lhe, por exemplo, “Pai, e sobre este assunto, como é que me podes aconselhar?” e, assim, puxo o seu lado mais carinhoso e lentamente vou fazendo coisas que alteram aquela relação. Deste ponto de vista, todas as relações são muito mais fluidas do que nós podemos pensar. Mas isto leva tempo.

CCL: Não é fácil e não é suposto sê-lo. Acho que vivemos numa cultura em que queremos que as coisas sejam rápidas e fáceis. Certamente leva tempo. E às vezes não funciona, mas há sempre um nível de mudança.

© Hugo Amaral/Observador

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

No livro afirmam que devemos apurar os instintos e treinar as emoções. Como assim?
MP: O que podemos fazer é treinar as nossas respostas face ao mundo em que vivemos, de maneira a que alguma coisa que aconteça não nos perturbe de imediato — em vez de ficar imediatamente zangado ou triste, posso treinar-me a responder de uma forma mais calma, no sentido de não ser tão imediata. Isto porque talvez a pessoa esteja a franzir a sobrancelha por um motivo que não tem nada que ver comigo. Com o tempo, temos a noção de que podemos ganhar controlo. O que estou, de facto, a fazer é a treinar o meu coração e a minha mente para trabalharem em conjunto e isso implica criar boas situações para todas as pessoas em redor.

Esse exemplo de alguém estar a franzir a sobrancelha por um motivo alheio remete para a ideia de que, talvez, as pessoas se relacionem umas com as outras de uma forma egocêntrica. Será que, nas nossas interações, deveríamos pensar primeiro no outro?
MP: É isso mesmo. As pessoas assumem que quando alguém está chateado é sempre com elas. E pode não ter nada que ver com elas. Mesmo que tenha, já estamos a agir de uma forma em que podemos criar situações melhores para todos nós.

CCL: Eu não tenho de andar para trás e para a frente dependendo das reações dos outros. Consigo ser uma pessoa estável e, se cultivarmos o Xin (coração-mente), já não somos pessoas passivas. Andar para trás e para a frente é esgotante e também não nos ajuda a puxar o melhor das outras pessoas.

© Hugo Amaral/Observador

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

No livro falam muito no ritual, mas no sentido confuciano, diferente do que habitualmente lhe damos: momentos do dia a dia que têm um efeito transformador, durante os quais podemos ser pessoas diferentes. Como assim? Seremos melhores pessoas ao imaginar/perspetivar o melhor de nós?
CCL: Não é apenas imaginar, nós temos de assumir os papéis e não fazê-lo apenas de uma forma automática. Temos de pensar que naquele momento estamos a ser uma pessoa diferente. A mudança que acontece durante uns momentos faz com que regressamos à nossa “velha vida” um pouco diferentes. Nós não somos só aquelas pessoas presas num mau dia, temos a capacidade de agir de maneira diferente e de ser de maneira diferente [mediante determinadas situações]. Quando assumimos uma persona diferente, isso muda-nos.

Só para perceber melhor: um ritual pode ser eu fingir que sou confiante até chegar a altura em que, de facto, acredito que o sou, certo? Mas numa primeira vez isso parece tão falso…
MP: Temos tendência a não fazer rituais porque pensamos que não estamos a ser autênticos. Já os filósofos chineses diriam que se somos confusos e se estamos sempre a crescer enquanto seres humanos, podemos pensar nos rituais como uma forma de treino para sermos pessoas melhores. Não é que estejamos a ser desonestos connosco, até porque antes do ritual somos apenas um conjunto de rotinas e de padrões. O nosso objetivo é mudar isso — fazemos esses rituais como se fossemos uma pessoa diferente de maneira a crescer enquanto ser humano e depressa nos apercebemos que nos estamos a tornar-nos uma pessoa diferente.

"Ao tentarmos definir a nossa identidade estamos a perdê-la, porque perdemos tudo o resto em que nos podemos tornar."
Christine Gross-Loh

Podem dar mais exemplos do que são rituais?
MP: É por exemplo entrar no autocarro e em vez de entrar com a cabeça cheia de problemas para resolver, sorrir para o motorista. Naquele breve momento fugimos à rotina. Lentamente começamos a alterar a forma como interagimos com as pessoas à nossa volta e tornamo-nos pessoas diferentes.

Porque escolheram chamá-lo de ritual? É uma palavra tão formal.
MP: Os filósofos chineses distinguem os rituais das convenções ou dos costumes. Sorrir para as pessoas e cumprimentá-las são exemplos de costumes, fazemo-lo enquanto rotinas e não são esses atos que nos mudam. Ao tornar estas convenções em rituais, durante um momento tentamos de facto ser uma pessoa diferente… Devíamos pensar nas nossas atividades diárias enquanto rituais.

CCL: Um ritual não é apenas um casamento ou um grande acontecimento que nos muda. Um ritual pode ser uma coisa muito pequena e mesmo assim ter poder para nos mudar.

Quero ser melhor pessoa. O que possa fazer a seguir a esta entrevista?
CCL: Comece por observar que efeitos é que tem nas outras pessoas. Repare também quais são os efeitos que as pessoas têm em si. Repare nisso e veja o que mais consegue fazer sobressair em alguém. Isto é uma coisa que por acaso o Michael faz com os seus alunos no final de uma aula, de modo mostrar-lhes que de facto temos influência uns nos outros de formas que desconhecíamos.

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