786kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

© Hugo Amaral/Observador

© Hugo Amaral/Observador

Parque das Nações, ou quando Lisboa ganhou uma cidade rica e moderna

Assinalam-se esta quinta-feira os 16 anos da abertura do Parque das Nações, a zona de Lisboa que resultou da Expo 98. Há um ano, tornou-se freguesia. No meio dos problemas, há confiança no futuro.

Café, supermercado, loja, espaço para arrendar, restaurante, loja de móveis. Não, calma, aquilo não é um restaurante. Afinal já cá estamos. É a sede da Junta de Freguesia do Parque das Nações, mas a confusão com um restaurante é perdoável. A junta fica no rés-do-chão de um prédio de habitação, tem toldos brancos como se de um estabelecimento comercial se tratasse e, no vidro, está estampado o logótipo da nova freguesia, um barco com velas vermelhas navegando sobre um mar azul enquadrado por uma esfera armilar.

Lá dentro, salta imediatamente à vista que as cadeiras são azuis e vermelhas, tal como o símbolo da mais recente freguesia do concelho de Lisboa, nascida com a reorganização administrativa da cidade em 2012, e cujo primeiro executivo tomou posse a 22 de outubro do ano passado, depois das eleições autárquicas. A liderá-lo está José Moreno, o homem que foi o primeiro morador do Parque das Nações – que abriu faz esta quinta-feira 16 anos – e que, pelo menos desde 2000, lutou pela elevação desta zona da cidade a freguesia, enquanto presidente da associação de moradores e comerciantes.

2 fotos

“Embora não fosse a minha ideia”, diz, lá se tornou presidente da junta. E isso, nos primeiros tempos, exigiu esforços pouco habituais. “Não tínhamos rigorosamente nada. Não tínhamos um funcionário, um computador, um papel, nem personalidade jurídica”, conta Moreno, que a única coisa que encontrou na sua secretária foi uma cópia da Lei n.º 56/2012, que decretou precisamente a criação da freguesia. Na altura, a sua secretária não estava onde atualmente está, no espaço que já foi uma dependência bancária e que a junta ocupou em abril deste ano. Estava num outro local, sem condições, junto à Ponte Vasco da Gama. “Tivemos de fazer tudo: registar a freguesia no Registo Nacional de Pessoas Coletivas, pedir o número de contribuinte, registar no Ministério da Administração Interna…”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O auditório da escola [Vasco da Gama] foi cedido gratuitamente” para a tomada de posse do executivo. “Paguei do meu bolso a uma funcionária” escolar para o período em que decorreu a cerimónia, conta José Moreno, que regista ainda na sua lista de despesas uma impressora: “Tive de a comprar com o meu dinheiro”.

José Moreno liderou o movimento "Parque das Nações Por Nós" à vitória nas autárquicas de 2013

© Hugo Amaral/Observador

Um bairro sempre novo

Quinze dias depois do fim da Expo 98 (a 30 de setembro), um dos maiores eventos que Lisboa já acolheu, abria o Parque das Nações no mesmo local, uma enorme área de 330 hectares que foi alvo de uma intensa reabilitação urbana nos anos que precederam o evento de 1998. Onde antes havia refinarias de petróleo, armazéns, lixeiras a céu aberto e matadouros, passou a estar a mais nova zona de Lisboa, de construção moderna, com uma ligação direta à linha de caminhos-de-ferro do Norte e uma extensão do Metro completamente nova que simplificava muito as deslocações ao centro da capital.

Além disso, ali bem perto, ficavam os espaços culturais e empresariais que tinham servido de base à Expo: o Pavilhão Atlântico (atual Meo Arena), o Oceanário, a Torre Vasco da Gama, o Teatro Camões e os pavilhões da Feira Internacional de Lisboa (FIL), entre outros. A zona oriental da cidade ganhava, assim, um novo destaque e tornava-se uma das mais cobiçadas áreas do país. Ainda hoje, a população do Parque das Nações é maioritariamente da classe média-alta e, segundo os dados disponibilizados pelo município, é também das mais jovens e das que mais estudos têm em toda a cidade.

mapa_expo

Milton Cappelletti

mapa_parque das nacoes_img

Milton Cappelletti

A atração do Parque das Nações mantém-se hoje como há 16 anos. “A zona da Expo é um ex-líbris dentro de Lisboa”, explica Nuno Ricardo, responsável por um conjunto de agências do grupo imobiliário Remax. “Estamos a ficar sem produto novo, é preocupante, a procura é mesmo muita”, diz. E a zona começou a chamar a atenção também dos estrangeiros, que desde outubro de 2012 têm recorrido aos vistos gold para comprar imóveis no Parque. Só pela Remax já foram vendidas 100 casas a estrangeiros, o que corresponderá a cerca de 90 vistos gold, porque há investidores que, para perfazer o valor de 500 mil euros mínimo para a atribuição deste visto, adquirem mais do que um imóvel.

Ou seja, no mínimo, já foram investidos 45 milhões de euros por estrangeiros em casas no Parque das Nações. A liderar as nacionalidades estão os chineses (são perto de 90% dos pedidos), mas também há cidadãos dos Emirados Árabes Unidos, turcos, paquistaneses, americanos, russos, brasileiros e angolanos interessados. Nuno Ricardo fornece-lhes um serviço completo. Vai “buscá-los ao aeroporto, [tem] gabinetes de advogados já preparados, [leva-os] a restaurantes, a fazer compras, sightseeing… Não os podemos deixar desacompanhados”, refere.

O presidente da junta José Moreno também nota o aumento de estrangeiros. “Veem-se cada vez mais caras orientais”, comenta. Isto apesar de grande parte dos novos rostos comprar casa para a arrendar logo a seguir. No Parque das Nações, o valor de arrendamento de um T2 pode variar entre os 900 e os 1.100 euros, enquanto um T3 pode chegar aos 1.600 euros mensais. Nuno Ricardo, que faz frequentes deslocações a países asiáticos para apresentar os vistos gold, está agora empenhado em fazer avançar projetos que já existem e que a crise veio travar. “Temos o Ferrari montado para vender”, só falta mesmo a banca financiar as novas construções.

6 fotos

Um “estado de degradação enorme”

Hoje, a junta parece estar bem instalada, ainda que a acumulação de funcionários pelas salas dê uma certa ideia de sobrelotação do espaço. No gabinete de José Moreno, com uma secretária e uma mesa redonda para reuniões, figuram quatro postes para bandeiras, um dos quais desocupado à espera da bandeira oficial da freguesia, cujo brasão está a ser aprovado. Atrás de si, duas fotografias de quando o Parque das Nações não era Parque das Nações, de quando nem sequer a Expo 98 passava de uma miragem longínqua. São fotografias dos tempos, que agora parecem impossíveis, em que aqueles terrenos eram ocupados pelas refinarias de petróleo, matadouros e lixeiras.

A Torre Vasco da Gama em construção e já depois de aberta ao público. Mova o cursor para os lados para comparar o antes e depois. (imagens cedidas pela Parque Expo)

A Gare do Oriente em construção e já depois de aberta ao público. Mova o cursor para os lados para comparar o antes e depois. (imagens cedidas pela Parque Expo)

Dezasseis anos passaram desde a Exposição Mundial e da criação do Parque das Nações, e o cenário que ali existia antigamente é impensável nos dias de hoje. Ainda assim, avisa José Moreno, “isto entrou em colapso”. “Eles [a câmara] abandonaram claramente o espaço, deixaram caducar os contratos de manutenção” e, agora, grande parte das zonas verdes estão degradadas, acusa. “Há aqui espécies [arbóreas] muito sensíveis, que precisam de um acompanhamento técnico muito apertado. Já houve alguma intervenção positiva, mas mais do São Pedro”.

Enquanto percorre os trilhos enlameados do Parque do Tejo, a segunda maior mancha verde da cidade de Lisboa, José Moreno vai apontando alguns dos problemas da zona. Em alguns locais, mercê da ação da chuva, a relva está tão alta que lhe chega aos joelhos. Noutros, o terreno está completamente seco. O sistema de rega, que é “sofisticado, complexo e caro”, tem falhas, que originam a disparidade entre as zonas do parque e que custarão pelo menos 30 mil euros a resolver, afirma o autarca.

4 fotos

“Recebemos tudo num estado de degradação enorme”, acusa Moreno, a junta só é responsável pela manutenção de 25% dos espaços verdes do Parque das Nações. Os outros 75% são responsabilidade da câmara. Mas “manutenção é uma coisa, obra estrutural é outra” e “as pessoas não têm presente o que é de quem”, pelo que colocam mais pressão na junta de freguesia.

Nem só de problemas com relva e árvores vive o Parque das Nações, mas também da degradação de equipamentos públicos. No Parque do Tejo, os bebedouros não funcionam e os caixotes para dejetos caninos estão vandalizados. O skate park, além de muito grafitado, tem fendas que põem em risco os utilizadores. Na Alameda dos Oceanos, as tábuas que compõem o pavimento da artéria central estão partidas. “Sabia-se que meter ripas de madeira sobre raízes de árvores… elas vão crescer”, comenta José Moreno, que considera que “aquilo tem de ser repensado, reformulado. Enquanto é pensado e não é pensado, as tábuas vão-se partindo e ficamos com os cabelos em pé”. A câmara, diz, “começou a fazer qualquer coisa aqui” a partir de junho, mas ainda não chega. “Espero que na primavera possamos ter isto com melhor aspeto”, diz, apontando para um canteiro onde são raras as plantas.

A manutenção das tábuas de madeira é da junta, mas José Moreno afirma que é precisa “obra estrutural” neste caso

© Hugo Amaral/Observador

O fandango da Expo

Problemas, problemas, problemas. Um ano de mandato do executivo da mais recente freguesia de Lisboa faz-se disto, mas também de confiança no futuro. “A história do Parque das Nações lê-se, não se vê”, como acontece nos bairros históricos da cidade, com os quais, defende José Moreno, “tem de haver um casamento perfeito”. E fala entusiasticamente na defesa da “identidade própria” da zona.

“A ideia que temos é que estamos noutro país”, diz, para definir essa identidade, cuja defesa passa por “aprofundar a relação única com o rio e manter o padrão de qualidade” do Parque das Nações. Isso ao mesmo tempo que se tenta “serzir com a realidade do resto da cidade”.

Para o futuro, o autarca quer uma maior dinâmica cultural do Parque, nomeadamente com a criação de um espaço museológico sobre a Expo 98, onde se reúna todo o espólio sobre o evento, atualmente disperso. Mas o Parque das Nações não quer só viver desse passado. Um núcleo do museu dos caminhos-de-ferro ou, como alguém sugeriu recentemente, um museu do fandango são dois dos projetos que, a concretizar-se poderão ajudar a definir melhor a identidade da nova freguesia. “Há tanta coisa que se pode ainda fazer aqui. Um mundo fantástico”, conclui José Moreno, com um ar sonhador.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora