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MICHAEL M. MATIAS /OBSERVADOR

MICHAEL M. MATIAS /OBSERVADOR

“Quis ser obviamente simpático” para o MPLA

Hélder Amaral disse a Cristas: "Lamento as minhas declarações". O deputado do CDS conta que Marco António, do PSD, agradeceu ao MPLA "o grande favor que Angola fez a Portugal”. Leia a entrevista.

    Índice

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O deputado Hélder Amaral não retira “nada do que disse” há semana e meia em Angola, onde afirmou que CDS e MPLA — a cujo congresso assistia como convidado — tinham “muitos pontos em comum”. O vice-presidente da bancada democrata-cristã tenta justificar nesta entrevista as palavras que geraram a polémica e assume que “quis ser obviamente simpático” para José Eduardo dos Santos. O vice-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Angola, que também tem nacionalidade angolana, confessa que lamentou a Assunção Cristas ter feito as declarações que lançaram a confusão.

Hélder Amaral, no entanto, ressalva que não fez como os representantes dos maiores partidos portugueses: “O PS e o PSD agradeceram o grande favor que Angola fez a Portugal” nos discursos perante o congresso do MPLA. E detalha que Marco António, vice-presidente do PSD, disse: “Repito, muito obrigado!” Sobre o caso Luaty Beirão, o deputado diz que não sabe “se os ativistas foram presos por lerem um livro”, ou por razões políticas: “Não sei se estão presos por delito de opinião.” Promete que vai aprender a dançar kizomba para não ser ultrapassado por algum “branquela”.

“O MPLA mudou significativamente”

Hélder Amaral tem dupla nacionalidade e também é angolano. Em setembro, regressa a Angola para representar o CDS no congresso da CASA-CE, uma coligação presidida por um ex-dirigente da UNITA e que vai passar a partido.

Reconhece que era escusado ter arranjado este embaraço com aquelas declarações feitas no Congresso do MPLA, ao dizer que o CDS tinha “muitos pontos em comum” com o partido de José Eduardo dos Santos?
Não fujo de nenhuma polémica, mas não gosto de as criar. A expressão que mais gosto na Beira é: “Pago para não entrar numa guerra mas depois de entrar pago para não sair”. Isto diz muito do meu estado de espírito. Estas declarações ditas assim, de facto, deram polémica e são perfeitamente compreensíveis. Aliás, houve um jornalista na RTP que fez ainda pior, ao dizer que depreendia das minhas palavras – não sendo exatamente aquelas que tinha dito – que o MPLA era igual ao CDS. É impossível chegar a essa conclusão. É verdade que, em relação ao discurso concreto do presidente do MPLA — presidente da República de Angola –, disse que, em muitos aspetos, se aproxima ao discurso que o CDS costuma fazer. Portanto, aqui quem muda não é o CDS, é o MPLA.

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De que aspetos está a falar?
Quando ele diz que a família é a célula fundamental da sociedade. Ou quando diz que é preciso servir o povo, que a política é um serviço. Citamos muito isso no CDS. É uma frase que cruza as democracias. Ou que é preciso proteger os monopólios naturais, embora o Estado aceite a parceria com privados numa pequena percentagem. O programa do CDS diz exatamente isso. Falou no combate à corrupção, o combate aos maus empresários àqueles que ganham comissões, nas palavras dele até aqueles que roubam. Falou no combate à violência doméstica, na tentativa de igualdade de género. Tenho o discurso escrito. Algumas partes são do discurso de encerramento, outras partes são do discurso…

Mas a sua declaração foi feita sobre o discurso do dia 17, e nesse discurso ele não fala dessas questões…
Fala das questões de economia, fala…

"Sabia, obviamente, o que o Presidente [de Angola] iria dizer e fiz a avaliação. Quis ser obviamente simpático, e quis proteger esse mesmo discurso."

Mas não fala nem da questão da família, nem da questão da política como serviço, nem dos monopólios naturais. Portanto, sobre essas questões ele só terá falado depois das suas declarações.
Fala da economia, fala da necessidade de combater a corrupção, fala da necessidade de liberalizar a economia, fala da necessidade de serviço.

Não fala da corrupção nesse discurso.
Fala, fala.

Não usa a palavra corrupção.
Não usa. Refiro o combate à corrupção quando ele diz que devem acabar os políticos ou governantes que ganham comissões. Depois faz uma pausa e diz “até roubam”. Leio nisso combate à corrupção. Não estou a inventar. Trago o discurso escrito comigo, já o mandei à direção do partido. Aliás, o Jornal de Angola cita o que eu digo e diz que elogiei o discurso nestes aspetos, reconhecendo erros do passado. Nesses aspetos, sinto-me próximo desses discursos.

O partido nunca hesitou em aceitar esse convite para ir ao congresso do MPLA?
Não faço a mais pequena ideia. Terá que perguntar à direção. Não pertenço hoje à comissão executiva do partido. Perguntaram-me a opinião e concordei: disse que sim. Mas com as necessárias cautelas, para evitar aquilo que acabou por acontecer. O MPLA mudou significativamente ou está a mudar. Já mudou até o nome do partido. Há muitas pessoas no CDS que têm contactos com dirigentes do MPLA: alguns são académicos, fazem mestrados juntos, outros têm relações com escritórios de advogados e com o regime angolano. É exatamente esse interesse, essa relação também económica, que ajuda a relação entre os países.

"Na minha intervenção, não agradeci como outros partidos o grande favor que Angola fez a Portugal. O PS e o PSD agradeceram repetidamente. Aliás, Marco António [vice-presidente do PSD] chegou a dizer: 'Vou repetir, muito obrigado!'"

Está a falar de quê? De que escritório? De que pessoas do partido?
Pessoas do partido, dirigentes… Que depois comentam e ficaram muito revoltados com a minha declaração…

Está a falar de quem, em concreto?
Não interessa quem. Vou dar um exemplo concreto: o presidente da Juventude Popular, que fez declarações a rasgar as vestes…

“Detesto o politicamente correto” e “não retiro o que disse”

PERGUNTAS RÁPIDAS PARA RESPOSTAS RAPIDÍSSIMAS

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Sendo um beirão angolano, prefere muamba ou cabrito assado?
De preferência os dois.

Em separado ou na mesma refeição?
Em separado. Tenho dias em que faço quilómetros por um cabrito assado. Então se for um cabrito do Caramulo… Deviam experimentar.

Sabe dançar kizomba?
Não, com pena minha.

Gostava de aprender?
Gostava. E vou aprender. Não quero ficar fora da moda, está toda a gente a dançar. O pior que me pode acontecer é aparecer um branquela a dançar kizomba melhor que eu. Não posso defraudar a minha família. Vou ver se consigo aprender, mas não sei.

Qual a sua personagem preferida da telenovela “A Única Mulher”?
Era preciso que visse “A Única Mulher”. Não faço ideia…

Escritores angolanos: Ondjaki, Pepetela ou Agualusa?
Decididamente Pepetela. Com quem estivem em 2003/2004 já não me lembro bem. Fiquei encantado, trouxe alguns livros dele e tenho alguns amigos que vão mandando livros de Pepetela.

Paulo Portas ou Assunção Cristas?
Os dois. Paulo Portas é o meu irmão politico. Assunção Cristas é uma amiga, uma pessoa que admiro muito, para quem desejo o melhor na direção do partido. Estou convencido que será marcante. Mas não são confundíveis.

Em Viseu, prefere Fernando Ruas ou Almeida Henriques [autarcas do PSD]?
Nem um nem outro. Estou equidistante aos dois. Têm virtudes diferentes mas os mesmos defeitos.

O que é que Angola tem de melhor?
O seu povo.

O que tem melhor que Portugal?
Tem o clima, talvez. A paisagem, não sei. É comparar o incomparável. Portugal tem coisas fantásticas. Angola é, para além do seu povo, o seu território. Espero que o saibam aproveitar. Sou de Malange, a terra da palanca negra. É o único sítio no mundo onde existem palancas, que dão o nome à seleção da minha terra. Pelo menos a palanca negra é uma coisa única em Angola.

O presidente da JP disse: “Há palavras que extravasam gravemente a mera cortesia e o salutar institucionalismo.”
Disse mais. É da juventude. Quando ele perceber que o mundo é muito mais do que aquele ambiente higienicamente limpo em que sempre viveu, perceberá que a vida tem outras nuances, e que o mundo global exige dos políticos uma outra visão que não é de tolerância, é de respeito para com todos. Recebi uma chamada — de alguém que me queria cumprimentar — e era tão só um presidente de uma distrital da JP que estava em Angola a fazer negócios. Mas enfim, ele próprio ainda é jovem e a vida vai-lhe ensinar muita coisa.

Uma pessoa mais velha que também o criticou foi José Ribeiro e Castro, que disse que o CDS não estava a ser fiel aos seus valores. Os políticos devem ceder totalmente à realpolitik? Podia ter sido mais diplomático nas palavras.
Nada disso está em causa. Detesto o politicamente correto. Gosto de fazer política pura como ela é. Gosto de assumir as minhas responsabilidades. Por isso, não retiro nada do que disse. A política portuguesa está cheia de atores, teatros, de gente que estuda as palavras.

O CDS deu um grande contributo para isso.
Não digo o contrário. O CDS tem responsabilidades nessa matéria. Eu é que não sou desses. Acompanho este dossiê há muito tempo: já recebi a CASA-CE [Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral] e este ano já recebi o presidente da UNITA. Sou deputado da CPLP, estive em Timor, estive em São Tomé, ando há anos a acompanhar estas matérias. Vou a Angola desde 91, desde o primeiro cessar-fogo. Estive lá o ano passado, estive no mesmo hotel com dirigentes da UNITA e do MPLA. Não me sinto afetado se tiver num ambiente com trotskistas e leninistas. Não faço outra coisa no Parlamento: sou presidente da comissão de Economia, passo a minha vida a coordenar-me os outros partidos, onde tenho grandes amigos. Os jovens da “jota” podem estar descansados que não se pega.

A presença de Paulo Portas no Congresso não pressionava o CDS um pouco mais, mesmo estando nas funções que ele agora exerce na área dos negócios?
Paulo Portas deixou a política. Tem a sua vida e responde por si. Foi convidado, porventura, pelo enorme trabalho que ele fez. Disse isso no meu discurso. Paulo Portas fez muito pela boa relação entre os dois países. Lá reconhecem isso. Angola foi importante para Portugal, mas não confundo gratidão com subserviência. Estou grato ao país Angola, porque, num momento de dificuldade, acolheu tantos portugueses e tantas empresas portuguesas, e ajudou a economia. Não quero dizer aos angolanos como é que eles devem viver: aquilo é um país soberano. Notei uma vontade do Presidente querer mudar qualquer coisa.

“É da juventude. Quando ele [o líder da Juventude Popular] perceber que o mundo é muito mais do que aquele ambiente higienicamente limpo em que sempre viveu, perceberá que a vida tem outras nuances, e que o mundo global exige dos políticos uma outra visão.”

Acha que o Presidente quer de facto mudar quando nomeia a filha para a Sonangol, ou quando o outro filho preside ao Fundo Soberano de Angola? Ou quando vão dois filhos para o Comité Central do MPLA e quando se fala até na possível sucessão dinástica?
Não sei, hoje a notícia era que João Lourenço foi eleito vice-presidente do MPLA, e António Paulo Cassoma para secretário-geral [do MPLA]. Surpreendeu muita gente.

Mas esses sinais coincidem com o seu otimismo?
Esses sinais estão todos errados, e tive o cuidado de lhes dizer isso. Disse no meu discurso que estamos muito longe de estar de acordo e há coisas com as quais não pactuamos. Tudo isso deve ser combatido. Ele próprio reconhece erros. Mas sempre que vejo alguém a fazer um esforço para se aproximar da minha maneira de olhar o mundo, fico contente.

“Aceito que os militantes tenham ficado chocados e irritados”

Sendo angolano — tem dupla nacionalidade –, qual é o seu partido em Angola?
Não tenho.

Mas vota em Angola?
Não, não voto e não tenho partido. O meu partido é o CDS, não terei outro.

Tem com certeza uma simpatia.
Não… Olhe, tenho sim…

"Olhando para a forma como as notícias surgiram, com poucas imagens do que realmente se passou tenho que aceitar que os militantes do partido tenham ficado chocados, irritados e nervosos."

Nem que seja por proximidade. Supostamente o CDS é próximo da UNITA.
O meu pai era da UNITA, tenho cartões e panfletos da UNITA lá em casa. Tenho simpatia pela CASA-CE, um partido que surgiu a poucos meses das eleições com gente nova, intelectuais, independência. É um movimento que consegue resultados porque olhou para o futuro e tocou na corrupção, na necessidade de um Estado para todos. Conheço bem o Abel Silva Chivukuvuco, um velho amigo [presidente da CASA-CE, ex-general da UNITA]. Também conheço muita gente do regime angolano, a quem faço as minhas criticas privadas. Olhando para a forma como as notícias surgiram, com poucas imagens do que realmente se passou tenho que aceitar que os militantes do partido tenham ficado chocados, irritados e nervosos.

No último Congresso do CDS, Paulo Portas fez uma exortação polémica a dizer que “deve se evitar a judicialização da relação de Portugal com Angola”. As autoridades judiciais portuguesas devem ter esse cuidado com os angolanos?
Não. A lei tem de se aplicar sem dó nem piedade a todos. Não podemos depois é empolar e transformar isso no essencial das relações com Angola, nem tão pouco as económicas.

Quer dizer que não concorda e acha que Paulo Portas não devia ter dito isto no Congresso?
Não, acho que… Repare, o que Paulo Portas esteve a… Nós podemos sempre ler isto… isto tende para um lado polémico…

Caso Luaty Beirão: “Não faço ideia” se estão detidos por delito de opinião

O CDS também tem coisas em comum com o PCP, não é só com o MPLA. O CDS votou ao lado do PCP contra o voto de condenação dos 17 ativistas que foram presos em Angola por terem lido um livro. Não condena a atuação das autoridades angolanas no caso Luaty Beirão
Fazia só uma correção: não diria que estiveram presos por ter lido um livro, porque parece que conhece o processo todo e sabe que foi só mesmo por terem lido um livro. Eu não sei. É esse o erro que cometemos aqui. Foram presos por lerem um livro. Dito isto, eu fico com vontade de ir a Angola pedir ao Presidente José Eduardo dos Santos e dizer-lhe que está completamente errado e que isso não pode acontecer…

Não estão presos por delito de opinião?
Não faço a mais pequena ideia.

Como não faz? Sai todos os dias nos jornais…
Tenho idade para não acreditar em tudo o que sai nos jornais. Olhe a minha última experiência: digo a todos para não lerem e não acreditarem em tudo o que sai nos jornais. Com isto, não estou a dizer que não se deve confiar nos jornais. Seria um atentado à liberdade de imprensa, era o que faltava. Quem me conhece sabe que a minha relação com a imprensa é de respeito total. O voto do CDS teve a ver apenas com a não-ingerência nos assuntos num Estado soberano.

Esse é exatamente o argumento do Partido Comunista…
Que seja.

Não há uma enorme hipocrisia nisso?
Não. Vou-lhe dar um exemplo. Temos 40 anos de democracia. Sabe que a UNITA foi inimiga do MPLA, a guerra foi entre estes dois partidos. O MPLA convidou a UNITA para o Congresso e a UNITA foi.

Não é disso que estamos a falar…
Porque não? Pergunto se o CDS já convidou o PCP para um congresso ou se o PCP já convidou o CDS para um encerramento de um congresso? Já passaram 40 anos. O MPLA convida o seu inimigo, com quem andou em guerra, e já ultrapassou isso e nós queremos dar lições, quando ao fim de 40 anos não conseguimos convidar nem o PCP nem o PCP nos convida.

"Não diria que [os ativistas companheiros de Luaty Beirão] estiveram presos por ter lido um livro, porque parece que conhece o processo todo e sabe que foi só mesmo por terem lido um livro. Eu não sei. É esse o erro que cometemos aqui."

Vamos clarificar uma coisa: o caso de Luaty Beirão não tem os contornos que tem?
Fiz perguntas, pedi informação diretamente. Conheço outros casos, alguns que nem saem na imprensa nacional. Tudo depende como depois a imprensa aqui é impelida a seguir alguns assuntos e outros não. Morrem não sei quantas crianças na Ruanda, há outros episódios, e parece que a imprensa não quer saber. Depois temos horas e horas sobre algum caso. Chamei a atenção e deram-me outras explicações…

Mas que explicações é que lhe deram?
Não vou dizer aqui. Depois há outras explicações. É um processo judicial que terá corrido os trâmites nos tribunais angolanos, não vou fazer avaliação se são corretos, se foi cumprida a lei ou não, que isso já não me compete. Agora sei que houve um processo judicial. Imagine que Angola diz o mesmo sobre um processo de um ex-primeiro-ministro português que está sem acusação há tanto tempo. Já imaginou o que seria o Jornal de Angola fazer um editorial a dizer: “Portugal, que é uma grande democracia, tem um primeiro-ministro sem acusação”. Era correto? Ou era uma ingerência nos assuntos internos do Estado. Eu diria aos angolanos: “O que é que os senhores têm a ver com isso?”

"Tenho idade para não acreditar em tudo o que sai nos jornais. Olhe a minha última experiência: digo a todos para não lerem e não acreditarem em tudo o que sai nos jornais."

Em 2003, pelos vistos, o CDS tinha alguma coisa a ver com o que aconteceu em Cuba porque apresentou um voto de condenação por sentenças dadas exatamente por delito de opinião.
Se fez isso fez mal. Para mim é igual para todos. Também sou membro do grupo de Amizade Portugal-Cuba. Pergunte ao dr. José Ribeiro e Castro se não fui um dos que disse que o CDS devia estar representado no grupo de amizade Portugal-Cuba. Sou um democrata cristão puro e trabalhei para que o grupo de amizade com Cuba tivesse alguém do CDS.

Sendo um democrata-cristão, concorda com a Conferência Episcopal de Angola que este ano disse o seguinte: “A crise económico-financeira em que o país se encontra mergulhado não se deve apenas à queda do preço do petróleo, mas igualmente à falta de ética, má gestão do erário público, corrupção generalizada, à mentalidade de compadrio, ao nepotismo, bem como à discriminação derivada da partidarização crescente da Função Pública, que sacrifica a competência e o mérito”.

Subcrevo.

Subscreve?
Talvez por isso, quer no discurso de abertura quer no final, o presidente [de Angola] tenha repetido a necessidade de combater os maus políticos que vivem de comissões ou até roubam. Mas isso é transversal. Quer que lhe mostre notícias em Portugal a dizer isso mesmo? De compadrio, de amiguismo? Já viu a Administração Pública Portuguesa? De facto, o Estado angolano tem os problemas que nós temos elevados à potência.

“Disse a Cristas que lamento as minhas declarações”

Como foi a gestão deste processo? O que é que Assunção Cristas lhe disse?
A presidente do CDS que, está a fazer um magnífico trabalho, está a procurar imprimir o seu cunho pessoal numa nova dinâmica. Tenho que lamentar não ter podido contribuir mais ou melhor para as intenções do partido, no sentido de abrir mais uma janela de oportunidades com o maior partido de Angola. Era fundamental fazer esta aproximação. Disse-lhe que lamento as minhas declarações sobre este caso concreto. Até estou satisfeito com algumas evoluções que têm acontecido em Angola: tenho lido muito bem os relatórios do Banco Mundial, que dão Angola a subir no índice de desenvolvimento humano. Mas deviam ter feito muito melhor, se em vez de gastarem tudo em comissões ou em negócios menos claros e fosse em benefício do povo.

Assunção Cristas fez-lhe alguma advertência?
Não, pediu-me para ter cuidado. Pediu-me, conversamos os dois sobre os riscos da visita.

Que tipo de riscos?
Era o risco de o partido não perceber bem, ou haver um aproveitamento da ida, até por causa da presença de Paulo Portas, que estava lá por mérito próprio. De facto, o povo angolano tem uma grande gratidão para com Paulo Portas. Todos esses riscos existiam. Eu conhecia-os e a comissão conhecia.

"Há muitas pessoas no CDS que têm contactos com dirigentes do MPLA: alguns são académicos, outros têm relações com escritórios de advogados e com o regime angolano. É esse interesse, essa relação também económica, que ajuda a relação entre os países."

Perguntava como foi a conversa posterior à polémica?
Posteriormente foi fácil. Disse-lhe concretamente o que eu tinha dito e como foram os discursos [de José Eduardo dos Santos]. Sabia, obviamente, o que o Presidente [de Angola] iria dizer e fiz a avaliação. Quis ser obviamente simpático, e quis proteger esse mesmo discurso. Mas na minha intervenção, não agradeci como outros partidos o grande favor que Angola fez a Portugal…

Está a falar de quem?
Do PS e do PSD.

Agradeceram?
Agradeceram repetidamente. Aliás, Marco António [vice-presidente do PSD] chegou a dizer: “Vou repetir, muito obrigado!” Disseram que querem reforçar a cooperação, e o CDS está nesse arco de governabilidade. Disse [a Cristas]: “Olhe, lamento não ter sido mais conciso e mais claro, mas tentei”. Falei com vários dirigentes do meu partido ainda em Angola, com Adolfo Mesquita Nunes, com Luís Pedro Mota Soares, e Luís Queirós. Troquei mensagens com a presidente e depois falámos bastante tempo ao telefone. Mandei-lhe o discurso e cópias da imprensa local para ela ter uma perceção melhor. Disse-me para continuar a manter conversas com todos os atores políticos angolanos.

"Não acho que a presidente do partido tenha de fazer essa afirmação na câmara de Lisboa."

Assunção Cristas já provou que é líder que o CDS precisa para substituir Paulo Portas?
Acho que ainda é cedo. Mas até agora tem feito um belíssimo trabalho e estou à vontade, porque subscrevi outra moção no Congresso. Há gente que acha que sou da oposição, mas a mudança trazida pela Assunção Cristas é uma grande oportunidade do partido para se abrir mais à sociedade. É o que Assunção Cristas está a fazer: falar para fora, abrir, ir buscar pessoas novas e pôr o partido em condições de ganhar eleições.

Já foi coordenador autárquico, é autarca e vereador em Viseu. Que objetivos deve ter o CDS nas autárquicas? Como está muito dependente da estratégia de coligações, confia na estratégia do PSD?
Confio. O processo já é longo e consolidado. Não vamos na primeira geração de coligações. Essas coligações dão uma governação de direita aos municípios, porque há uma forma de direita de gerir municípios.

Volta a candidatar-se contra o PSD na câmara de Viseu?
Não, já comuniquei à presidente do partido que não serei recandidato.

Deve haver uma coligação com o PSD em Viseu ou não?
Não há necessidade. Não acrescentava nada. Lá o CDS é a oposição ao PSD. O CDS deve encontrar um modelo de governação alternativo ao do PSD. Haverá no distrito coligações em municípios socialistas, onde o CDS e o PSD consigam encontrar protagonistas e modelos de governação que sejam melhores.

A presidente do partido deve-se candidatar a Lisboa?
Isso cabe a ela decidir

Na sua opinião acha que era positivo?
Não acho. Os dirigentes do partido devem estar disponíveis para as eleições autárquicas. Não acho que a presidente do partido tenha de fazer essa afirmação na câmara de Lisboa. O partido deve ponderar que, na capital do país, como em cidades como o Porto ou outros grandes municípios, a marca do CDS não pode estar ausente.

Ou seja, defende uma candidatura para ganhar associada ao PSD.
Depende. Ou o CDS encontra um protagonista independente, ou há dirigentes do partido capazes de personificar essa candidatura e tem que fazer uma candidatura forte.

Veja aqui a entrevista completa:

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