- Porque é que Trump escolheu reconhecer Jerusalém como capital de Israel?
- Qual é o significado religioso de Jerusalém?
- De que forma tem a cidade de Jerusalém sido alvo de disputa entre Israel e os seus adversários?
- Mas qual é a diferença agora? Os EUA não apoiaram sempre Israel, de qualquer das maneiras?
- Que outros países reconhecem Jerusalém como capital de Israel? E porque é que não há mais?
- Quais têm sido as reações internacionais à decisão de Donald Trump?
- Como é que a medida de Donald Trump foi recebida em Israel?
- E o que é que Donald Trump tem a ganhar com isto?
Explicador
- Porque é que Trump escolheu reconhecer Jerusalém como capital de Israel?
- Qual é o significado religioso de Jerusalém?
- De que forma tem a cidade de Jerusalém sido alvo de disputa entre Israel e os seus adversários?
- Mas qual é a diferença agora? Os EUA não apoiaram sempre Israel, de qualquer das maneiras?
- Que outros países reconhecem Jerusalém como capital de Israel? E porque é que não há mais?
- Quais têm sido as reações internacionais à decisão de Donald Trump?
- Como é que a medida de Donald Trump foi recebida em Israel?
- E o que é que Donald Trump tem a ganhar com isto?
Explicador
Porque é que Trump escolheu reconhecer Jerusalém como capital de Israel?
A justificação de Donald Trump chegou num muito aguardado discurso, feito esta quarta-feira a partir da Casa Branca. Para o Presidente dos EUA, a decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e de transferir para aquela cidade a sua embaixada, que até agora esteve em Tel Aviv, representa “o início de uma nova abordagem ao conflito” israelo-árabe.
“Não podemos resolver os nossos problemas mantendo as mesmas ideias falhadas e repetindo as mesmas estratégias do passado”, disse. “Desafios antigos exigem novas abordagens.”
Referindo que “Israel é uma nação soberana com o direito que assiste a qualquer outra de determinar qual é a sua capital”, Donald Trump acrescentou que “reconhecer este facto é uma condição necessária para chegar à paz”.
Ainda assim, Donald Trump foi omisso quanto àquilo que entende ser o caminho para chegar a um acordo de paz, nem comentou as reações adversas que a sua decisão despertou um pouco por todo o mundo, e em especial nos países vizinhos (e adversários) de Israel, que mantêm com a nação judaica uma relação historicamente tensa, como explicamos nos pontos seguintes.
Qual é o significado religioso de Jerusalém?
Jerusalém não é um sítio simples, mas antes uma cidade que tem em si um emaranhado de locais sagrados que ao longo da História têm sido alvo de acesas disputas entre cristãos, judeus e muçulmanos. O colunista David B. Green, do jornal israelita Haaretz, resumiu a questão com algum humor e também eficácia: “No que toca a Jerusalém, mudar uma lâmpada na Igreja do Santo Sepulcro é o tipo de tarefa mundana com o potencial para provocar a explosão de uma nova guerra religiosa”.
Se a maior parte daquela cidade com quase 1 milhão de habitantes pode passar despercebida e apresentar semelhanças com tantas outras na região, o mesmo não pode ser dito sobre o seu ponto mais importante: o Monte do Templo, como é conhecido entre judeus e cristãos; ou Esplanada das Mesquitas, como a designam os muçulmanos. Ali, estão concentrados três locais de alta importância para o judaísmo, cristianismo e islamismo.
No primeiro caso por ali ter sido destruído o Templo de Salomão e também o Segundo Templo, do qual resta apenas o Muro das Lamentações.
No caso do cristianismo, por ali terem ocorrido vários episódios bíblicos, entre eles o julgamento e a crucificação de Jesus Cristo.
Finalmente, é o terceiro local mais sagrado para o islão (depois de Medina e Meca), por se acreditar que foi ali que o Profeta Maomé ascendeu ao paraíso e recebeu o ensinamento do segundo dos cinco pilares do islamismo.
A tensão no Monte do Templo, ou Esplanada das Mesquitas, voltou a subir recentemente, em 2017, após três palestinianos terem matado a tiro dois polícias israelitas junto à mesquita de Al Aqsa. Como consequência, as autoridades israelitas vedaram aquela zona a muçulmanos, instalando detetores de metais nas entradas. Seguiram-se manifestações e confrontos, de onde resultaram três palestinianos mortos em confrontos e também três mortes israelitas, como resultado de esfaqueamentos. A tensão acalmou quando, uma semana depois de ter instalado os detetores de metais e de ter banido a entrada a muçulmanos, Israel voltou atrás nessa decisão.
Ao longo dos anos, toda esta tensão religiosa alargou-se também ao campo da geopolítica. Nesta faceta, há algumas datas chave ao longo do século XX, que exploramos no ponto seguinte.
De que forma tem a cidade de Jerusalém sido alvo de disputa entre Israel e os seus adversários?
A primeira data a reter é 1918. Foi nesse ano que, com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano se desintegrou e os seus territórios foram divididos entre as forças vitoriosas, por intermédio da Sociedade das Nações. Nesse processo, a Palestina ficou a cargo do Reino Unido que, enquanto teve aquela posse colonial, fomentou a imigração de judeus para aquele estado. Jerusalém tornou-se um dos sítios mais procurados por esses recém-chegados — o que criou logo de início tensões entre a comunidade palestiniana já instalada e aqueles que ali se estabeleciam. A partir de 1922, Jerusalém é considerada a capital da Palestina.
A segunda data de relevo surge três décadas depois, em 1947. Dois anos depois da Segunda Guerra Mundial e da perseguição nazi aos judeus na Europa, as recém-criadas Nações Unidas acordam a fundação de Israel enquanto estado judaico. O acordo então estabelecido já teve em conta as sensibilidades religiosas em causa na região e, por isso mesmo, designava Jerusalém como um “corpus separatum”. Ou seja, em vez de fazer parte de Israel ou da Palestina, seria antes um território internacional, desmilitarizado e cuja administração cabia às Nações Unidas.
Foi sol de pouca dura. A fundação do estado de Israel foi mal aceite pelos líderes árabes da região que, não aceitando o novo statu quo criado às suas portas, precipitaram o início da guerra israelo-árabe em 1948. Contra Israel, estavam vários países árabes, entre os quais os vizinhos Palestina, Síria, Egito e Jordânia. No decorrer desse conflito, a 5 de dezembro, Israel anexou Jerusalém Ocidental, estabelecendo ali a sua capital uma semana depois — e passados 15 dias já ali funcionava o parlamento, o Knesset. Como resposta, a 13 de dezembro, a Jordânia anexou a metade oriental de Jerusalém, conhecida como Cisjordânia, e estabeleceu ali a sua segunda capital. As duas anexações foram condenadas pelas Nações Unidas, que não foram consultadas para este desfecho. No final da guerra, em 1949 os dois lados acordaram a Linha Verde, que estabeleceu até onde ia o território de Israel e o dos seus vizinhos.
A tensão nunca diminuiu até à próxima data chave. Em 1967, explode a Guerra dos Seis Dias, que resulta numa vitória decisiva para Israel, com vários ganhos territoriais. Entre estes, estiveram a Faixa de Gaza (até então do Egito), os Montes Golã (antigamente da Síria), a Península do Sinai (que era do Egito e foi devolvida nos acordos de paz de Camp David, em 1978) e, mais importante para este caso, a Cisjordânia, que saiu das mãos da Jordânia. Na prática, Israel ultrapassou a Linha Verde e, com a exceção da Península do Sinai, não recuou para trás dela.
Na verdade, apenas avançou. Após a Guerra dos Seis Dias até aos dias de hoje, já sob a liderança de Benjamin Netanyahu, Israel tem procedido a uma política de construção de colonatos nestas regiões, tornando cada vez mais efetiva a sua expansão naquela região. Atualmente, vivem mais de 600 mil pessoas para lá da Linha Verde de 1967, em colonatos israelitas.
Esta expansão não só persiste, como tem sido intensificada por Benjamin Netanyahu, apesar de não ter o beneplácito das Nações Unidas. “Antes de 1967, Israel não chegava a ter 15 quilómetros de largura”, disse Benjamin Netanyahu em 2011, depois de uma reunião com Barack Obama, então líder dos EUA, que na reta final do seu mandato abriu caminho a uma resolução de condenação à expansão de colonatos israelitas depois de se abster no Conselho de Segurança da ONU. “Estas não eram fronteiras de paz, eram fronteiras de guerras repetidas, porque um ataque a Israel era apetecível”, disse em 2011 o primeiro-ministro israelita. “Por isso, não podemos voltar a essas linhas indefensáveis.”
Mas qual é a diferença agora? Os EUA não apoiaram sempre Israel, de qualquer das maneiras?
Os EUA e Israel têm uma relação de grande proximidade — e muitas vezes Jerusalém entra nessa equação. No caso dos presidentes norte-americanos, ir a Jerusalém tornou-se mesmo uma tradição política e diplomática. Desde a presidência de Richard Nixon (1969-1974) que praticamente todos os inquilinos da Casa Branca visitaram Jerusalém. As únicas exceções são Gerard Ford, o vice-Presidente que subiu a número um depois da demissão in extremis de Richard Nixon antes do impeachment; Ronald Reagan e George H. W. Bush, dois republicanos cujos consulados representaram um resfriar da relação de cooperação entre os EUA e Israel. Tirando isso, foram lá todos: Richard Nixon, Jimmy Carter, Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e, mais recentemente, Donald Trump.
Ora, visitar Jerusalém ou deixar-se fotografar em oração junto ao Muro das Lamentações é uma coisa; reconhecer aquela cidade como capital de Israel, indo contra aquilo que é o consenso internacional, é outra.
Até agora, os vários presidentes dos EUA têm recusado reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Essa postura manteve-se até agora, apesar de em 1995 o Congresso norte-americano — com ambas as câmaras controladas pelos republicanos — ter aprovado o “Jerusalem Embassy Act”, que instava o então Presidente, Bill Clinton, democrata, a transferir a embaixada para Jerusalém.
Porém, desde essa altura, os presidentes que se seguiram têm diferido a implementação daquele decreto, alegando a “defesa dos interesses da segurança nacional dos EUA”.
Agora, Donald Trump diz que decidiu permitir a implementação desse decreto, 22 anos depois. “Os presidentes têm diferido [a aplicação do decreto] sob a crença de que isso poderia pôr em causa o avanço da causa da paz”, disse esta sexta-feira. “Depois de mais de duas décadas de diferimentos, não estamos mais perto de um acordo de paz duradouro (…). Seria insensato assumir que a repetição da mesma fórmula poderia produzir um resultado diferente e melhor.”
Na prática, o que os EUA consumam com este gesto é o fortalecimento da posição de Israel numa hipotética mesa de negociações. Não é certo, porém, que as outras partes estejam dispostas a entrar em negociações numa altura em que, em termos simbólicos, a posição de Israel fica mais forte.
Que outros países reconhecem Jerusalém como capital de Israel? E porque é que não há mais?
Para além dos EUA, nenhum. Mas nem sempre foi assim.
Após ter proclamado Jerusalém como a sua capital em dezembro de 1948, Israel apelou à comunidade internacional com missão diplomática no seu país a situar as suas embaixadas em Jerusalém — o que, na prática, equivale ao reconhecimento daquela cidade como capital.
Ao início, alguns países responderam afirmativamente. Na década de 1950, juntaram-se vários países, a grande maioria da América Latina: Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Panamá, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Também nessa altura, o Haiti e a Holanda deslocaram para aquela cidade as suas embaixadas. Mais tarde, também se juntaram países africanos, como a Costa do Marfim, Quénia e o então Zaire, atualmente conhecido como República Democrática do Congo.
Aos poucos, cada um destes países foram retirando as suas embaixadas de Jerusalém, mudando-as para Tel Aviv, ou desistindo totalmente de qualquer representação diplomática em Israel. Algumas destas saídas aconteceram depois de ter sido formado o bloco dos países Não-Alinhados (onde havia uma forte presença de países árabes e muçulmanos). Porém, a maior debandada deu-se quando o parlamento israelita aprovou uma resolução que determinava Jerusalém como a capital “completa e unida” de Israel (o que não era novo em si) e onde também era reafirmada a intenção de manter as fronteiras conquistadas por Israel após a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e que não são internacionalmente reconhecidas.
Perante este gesto, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução onde instava a retirada das embaixadas de Jerusalém — gesto esse que os 13 países que ainda mantinham as suas embaixadas naquela cidade cumpriram prontamente.
Mais tarde, ainda houve países que tornaram a mudar as suas embaixadas para Jerusalém. Foi o caso da Costa Rica e de El Salvador, que ali permaneceram até 2006.
Nada disto impede, ainda assim, que 30 países tenham consulados em Jerusalém. Entre eles, estão alguns europeus — Áustria, Bélgica, Croácia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Itália, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia, Suécia, Reino Unido.
Até agora, os EUA também entravam para esta lista — porém, com as recentes ordens de Donald Trump, o consulado vai passar a ser embaixada — a primeira que os EUA ali têm.
Quais têm sido as reações internacionais à decisão de Donald Trump?
A decisão de Donald Trump tem merecido reações por parte de vários líderes mundiais, de diferentes geografias e interesses geopolíticos. Porém, apesar da diversidade do leque, as reações têm sido invariavelmente negativas, dando notas de preocupação e até de desagrado.
Como já seria de esperar, foi da parte dos vizinhos de Israel que as respostas foram mais negativas, num sinal de que o espaço para a diplomacia está, também daquela parte, a ficar cada vez mais apertado.
A começar pela Autoridade Palestiniana, liderada por Mahmoud Abbas, que tem dado sinais de um possível corte de relações diplomáticas com os EUA. Nabil Shaath, o conselheiro para as relações internacionais da Autoridade Palestiniana disse: “O senhor Trump inventou o slogan ‘negócio do século’ ou ‘a mãe de todas as transações’, como Saddam Hussein diria [o antigo líder iraquiano chamou à primeira Guerra do Golfo, em 1991, como “a mãe de todas as batalhas”]. Mas a mãe de todos os acordos morre aqui nas rochas de Jerusalém se ele disser amanhã que reconhece o todo de Jerusalém como a capital de Israel”. O diplomata acrescentou ainda que essa decisão irá “retirar-lhe qualquer hipótese de ter um papel num acordo, não há nenhum acordo que comece com a destruição da solução dos dois estados”.
Também da Palestina, o Hamas apelou, num comunicado emitido antes da declaração de Donald Trump, a “uma revolta em Jerusalém para que esta conspiração não proceda”. “Chamamos todo o povo palestiniano para se erguer como uma comporta impenetrável e um muro alto contra esta decisão e para renovar a intifada de Jerusalém”, acrescentou. Já depois do discurso do Presidente norte-americano, o Hamas emitiu um comunicado onde o chefe do bureau político do Hamas, Ismail Haniyeh, dizia que a decisão de Washington D.C. “atravessa todas as linhas vermelhas” e é “uma provocação contra os sentimentos de todos os muçulmanos”.
Do lado da Jordânia, que também reclama parte de Jerusalém, uma fonte diplomática disse à Reuters que a jogada de Donald Trump pode “acima de tudo aplacar todos os esforços para fazer avançar o processo de paz e comporta um risco muito grande de provocar os países árabes e muçulmanos e as comunidade muçulmanas no ocidente”.
A preocupação jordana é semelhante à do Egito, cujo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shukri, disse ter alertado o seu homólogo norte-americano, Rex Tillerson, para os riscos desta mudança do statu quo. “O estatuto legal, religioso e histórico de Jerusalém requer cuidado na maneira como lidamos com este tema sensível, que tem a ver com a identidade nacional do povo da Palestina e o estatuto de Jerusalém entre os povos árabes e muçulmanos”, disse Same Sukri. Além disso, pediu aos EUA que agissem “com a sabedoria necessária” e que evitassem “inflamar as tensões na região”.
Da Síria, à falta de uma posição pública por alguma figura do regime, a agência noticiosa estatal, a Sana, publicou uma nota que expressa bem o repúdio de Damasco perante esta decisão. Citando uma fonte no ministério dos Negócios Estrangeiros, a Sana diz que a a Síria “condena com os termos o mais fortes possível” a mudança da embaixada dos EUA para “a Jerusalém ocupada” e o reconhecimento daquela cidade. Para o regime de Damasco, essa é uma maneira de “coroar os crimes de usurpação da Palestina, que deslocaram o povo palestino e estabeleceram uma entidade sionista no centro do mundo árabe para impôr uma hegemonia na nação árabe”.
A fechar o leque de países na fronteira de Israel está o Líbano que, a braços com uma crise política grave, cuja reação ainda não é conhecida. Porém, tendo em conta o historial de guerras e parca diplomacia entre o Líbano e Israel, a posição de Beirute não irá representar qualquer surpresa.
Já fora das fronteiras de Israel, mas ainda assim um elemento crucial na região, é a Arábia Saudita, que a par de Israel é o maior aliado dos EUA no Médio Oriente. Mas nem isso levou a que Riade aplaudisse o gesto de Donald Trump. “Qualquer anúncio dos EUA sobre o estatuto de Jerusalém que seja feito antes de um acordo final teria um impacto negativo no processo de paz e irá intensificar as tensões na região”, disse o embaixador da Arábia Saudita em Washington D.C., Khalid bin Salman, que também é irmão do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman.
A Turquia também criticou os sinais de Washington D.C., com o Presidente Recep Tayyip Erdoğan a dizer que se está a atravessar “uma linha vermelha para os muçulmanos” e ameaçou com o corte de relações diplomáticos com Israel — mas não com os EUA.
Na Europa, as reações foram mais contidas mas não por isso positivas. A partir de Bruxelas, a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, disse que a questão do estatuto de Jerusalém deve ser abordada “através de negociações”. A chefe da diplomacia da União Europeia falou pouco tempo depois de ter entrado em contacto com Rex Tillerson, a quem terá dito que “tem de ser encontrada uma via de negociações para resolver o estatuto de Jerusalém como capital dos dois estados”.
Dentro da Europa, também houve governos que marcaram uma posição individual. Da Alemanha falou o vice-chanceler e ministro dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel. “Todos sabemos quais podem ser as repercussões” da decisão norte-americana que, sublinhou, foi tomada “sem que houvesse o acordo da Europa nesse tema”. Segundo uma nota do Eliseu, o Presidente de França, Emmanuel Macron, pediu que o estatuto de Jerusalém fosse discutido “dentro do quadro das negociações de paz entre israelitas e palestinianos” e defendeu que fossem estabelecidos “dois estados que vivem lado a lado em paz e segurança com Jerusalém como capital”.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, a quem se podem apontar poucas declarações críticas a Donald Trump, disse agora que o “o estatuto de Jerusalém deve ser determinado através de uma negociação” e, à semelhança do seu homólogo francês, defendeu a existência de uma “capital partilhada”.
Nesta catadupa de críticas, também o papa Francisco se chegou à frente. Sobre a situação em Jerusalém, que para além dos muçulmanos e judeus também é sagrada para os cristãos, o líder da Igreja Católica disse: “Não posso manter-me calado sobre a minha profunda preocupação em torno da situação que foi criada nos últimos dias”.
Como é que a medida de Donald Trump foi recebida em Israel?
De braços abertos — afinal de contas, o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é um desejo que aquele país tem praticamente desde a sua fundação e, pela primeira vez, a maior potência mundial acedeu a esse pedido.
Pouco depois de Donald Trump ter anunciado esta medida, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, agradeceu-lhe o gesto, num vídeo. “Presidente Trump, obrigado por esta decisão histórica ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel. O povo e o Estado judaico ser-lhe-ão eternamente gratos”, disse.
No mesmo vídeo, Benjamin Netanyahu deixou claro que, com este gesto simbólico, as suas condições para negociar a paz com a Autoridade Palestiniana e outros adversários de Israel estão agora dotadas de maior força. “A decisão do Presidente é um passo importante em direção à paz, porque não há paz que não inclua Jerusalém como a capital do Estado de Israel”, disse.
Nessa senda, enviou uma mensagem à comunidade internacional, na esperança de seguirem os passos de Donald Trump — algo que, para já, parece pouco provável. “Apelo a todos os países que procuram a paz a juntarem-se aos EUA no seu reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e a transferirem as suas embaixadas para aqui”, disse o líder do Likud.
Mas não é só entre as fileiras mais conservadoras que a decisão de Donald Trump foi bem recebida em Israel. Também o Partido Trabalhista, a maior força da oposição, saudou o Presidente dos EUA. Esta sexta-feira, o líder dos trabalhistas, Avi Gabbay, disse:” É um dia novo uma nova realidade pela qual esperámos estes 70 anos”.
Ainda assim, Avi Gabbay apelou ao fim da construção de mais colonatos israelitas em Jerusalém, política defendida pelo Likud de Benjamin Netanyahu, que tem maioria absoluta no Knesset. “Temos de anunciar um fim à construção de colonatos”, disse. “Não há uma solução realista além de dois estados para dois povos.”
E o que é que Donald Trump tem a ganhar com isto?
Embora não tão sonante como o fim do Obamacare (que para já não aconteceu) ou a construção de um muro com a fronteira do México (que ainda não começou, apesar de já ali haver, em partes, barreiras), a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém está entre o leque das promessas de Donald Trump durante a sua campanha eleitoral, em 2016. O que oferece uma primeira resposta à pergunta: cumprindo esta promessa, Donald Trump pode colocá-la como uma pena no chapéu.
Depois, fica bem visto junto da comunidade judaica dos EUA, que há muito tempo exige esta medida aos vários homens que têm passado pela Casa Branca — e que era pouco amiga de Barack Obama, que esteve longe de ser o Presidente mais adorado por Israel, muito em parte por causa do acordo nuclear com o Irão, inimigo histórico de Israel.
Embora o eleitorado judaico tenha pouca expressão eleitoral nos EUA, e apesar de 71% ter votado em Hillary Clinton e apenas 24% em Donald Trump, a verdade é que este é um público cujos donativos são altamente cobiçados em campanha. Uma prova disso é a tradição de haver um discurso dos principais candidatos políticos no congresso anual do American Israeli Public Affairs Committee, o maior grupo de lóbi pró-Israel nos EUA.
Com este novo passo simbólico, Donald Trump pode agora tirar benefícios bastante práticos caso procure a reeleição de 2020. A partir de agora, as contas podem ser mais fáceis quando chegar a altura de voltar a garantir o apoio de doadores judaicos que já investiram na sua campanha — como o empresário Robert Kraft e o magnata dos casinos Sheldon Adelson — ou outros que até agora hesitaram no seu apoio ao republicano.