A vitória do clube ucraniano Dnipro sobre a Fiorentina nas meias finais da Liga Europa tornou-se não só um acontecimento desportivo, mas também político na Ucrânia e na Rússia. A guerra entre separatistas pró-russos e tropas ucranianas passou temporariamente dos territórios do Leste da Ucrânia para os campos de futebol e as redes sociais.
Após a vitória do Dnipro, o seu treinador, Miron Markevich, dedicou a vitória a “todos os defensores da Ucrânia” e frisou: “estou convencido de que os rapazes que hoje participam na operação antiterrorista viram o futebol: esta vitória é para vocês”.
O clube Dnipro está sediado na cidade de Dnipopetrovsk, no sudeste da Ucrânia, e é propriedade do oligarca ucraniano Igor Kolomoyski. Em declarações à imprensa ucraniana, ele afirmou: “Felicito a Ucrânia pela passagem do Dnipro à final, pois trata-se de uma vitória de todo o país. Quero dedicar este êxito a todos os adeptos da nossa querida equipa, principalmente àqueles que não podem festejar este êxito histórico. Àqueles que não chegaram até ele por defenderam a pátria. Resta um passo até à vitória e espero que o façamos todos”.
A vitória do Dnipro também provocou fortes mas diversas reacções na Rússia. Alexey Andronov, conhecido comentador desportivo do canal NTV plus, escreveu no Twitter: “O Dnipro na final é a melhor saudação à Novorrosia e aos seus Motorolas [nomes pelos quais são conhecidos os territórios separatistas do Leste da Ucrânia e um dos seus comandantes de guerra pró-russo]. Depois de algumas palavras nada literárias dirigidas àqueles que esperavam a derrota do clube ucraniano, ele concluiu: “E que o Dnipro ganhe a final!”.
Porém, outro conhecido comentador desportivo russo, Gueorgui Cherdantsev, não ficou nada contente com o êxito da equipa onde alinha o português Bruno Gama. Ele escreveu no Twitter: “O facto de o Dnipro ter chegado à final é o descrédito total e definitivo da Liga Europa. Chegou a hora de fechar a porta”.
Estes comentários receberam resposta pronta de Roman Zozulya, guarda-redes do Dnipro e da selecção ucraniana: “Cherdantsev, agradece por nós não termos enfrentado o Zenit! Quanto ao encerramento da Liga Europa, o Dnipro vai conquistá-la e, depois, fecha-a!”.
As mensagens foram subindo de tom e Victor Vatzko, conhecido comentador desportivo ucraniano, respondeu ao seu colega russo: “Se a f.. total pode ser tratável, estou pronto a dar início à recolha de meios para curar esse cabrão”.
Sem dúvida que comentários deste tipo ferem o fair play numa prova desportiva de qualquer nível, para já não falar da segunda prova mais importante do futebol europeu, mas, conhecendo bem os meandros desportivos e políticos russos e ucranianos, prefiro duelos deste tipo, verbais, a confrontos nos campos de batalha. Nos confrontos verbais entre russos e ucranianos ainda não se registaram vítimas mortais, o mesmo não se podendo dizer dos confrontos militares.
Por isso, se possível, substituam sempre a guerra por futebol, mesmo que este seja alienante.