O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair rejeita qualquer responsabilidade da invasão dos Estados Unidos e do Reino Unido ao Iraque na atual situação daquele país.

“Temos de nos libertar da noção de que ‘nós’ provocámos isto. Não provocámos”, diz Blair num texto publicado no seu site e no Telegraph. Para o ex-primeiro-ministro, é “bizarra” a leitura que algumas pessoas têm feito dos atuais acontecimentos no Iraque, relacionando-os com a invasão das tropas da NATO. “Podemos discutir se a nossa política, em dados momentos, ajudou ou não: e se a ação é melhor política do que a inação. Mas a causa fundamental desta crise está na própria região e não fora dela”, argumenta Tony Blair, para quem “mesmo que se tivesse deixado Saddam no cargo em 2003, em 2011 – quando houve a Primavera Árabe na Tunísia, Líbia, Iémen, Bahrain, Egito e Síria – continuaria a haver um enorme problema no Iraque”.

“Podemos ver o que acontee quando deixamos um ditador no poder, como está a acontecer com Assad agora. Os problemas não desaparecem”, disse o ex-primeiro-ministro à BBC, onde reforçou a ideia de que o conflito no Iraque “é um problema regional” com impacto mundial.

Já na manhã deste domingo, Tony Blair apelou aos países ocidentais para que intervenham no Iraque. “É vitalmente importante que percebamos o que está aqui em jogo e ajamos. Vamos ter de lidar com isto ou as consequências vão virar-se contra nós, como aconteceu na Síria”, disse Blair, que deu diversas entrevistas às televisões britânicas.

O antigo chefe do governo do Reino Unido pensa que deviam ser consideradas as opções militares no país do Médio Oriente, mas pensa que a intervenção não terá necessariamente de ser semelhante àquela que foi feita no Afeganistão e no Iraque. “É do nosso interesse parar este grupo extremista”, disse. E acrescentou: as milícias jihadistas “não estão só a combater iraquianos, estão também dispostas a combater-nos e fá-lo-ão se não as pararmos”.

Em 2003, quando Tony Blair era primeiro-ministro do Reino Unido, este país e os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque com o objetivo de derrubar o regime de Saddam Hussein, que era suspeito de ter armas de destruição massiva – que, aliás, nunca foram encontradas (e Blair reconhece-o).

O embaixador britânico nos Estados Unidos à data da invasão do Iraque, Christopher Meyer, considera que o derrube do regime de Saddam foi “a causa mais significativa” para o irromper da atual violência naquele país. “Estamos a colher o que semeámos em 2003”, disse. “Sabíamos que derrubar Saddam Hussein iria desestabilizar seriamente o Iraque, depois de 24 anos de um governo de ferro”.

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