Cuidado, eles já aí estão. Ou melhor, está ele. Hola, qué tal, Lionel Messi? A resposta começou hoje a ser dada pelo argentino, o capitão de uma seleção que, a cada quatro anos, tem a conquista do Mundial na mira. Quer queiram, quer não, na Argentina, é assim. Pelo menos desde 1986, quando Diego Maradona abraçou esse peso e arrastou uma equipa atrás de si para vencer pela segunda vez na história – a primeira foi em 1978, em casa – o Mundial. Desde esse ano que não se jogava um campeonato do mundo em relvados sul-americanos. Portanto, a pergunta é esta: acreditam em coincidências?

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Os bósnios apareciam no Maracanã para responderem que não. A seleção dos Balcãs, única estreante neste Mundial, era o primeiro obstáculo no caminho que a Argentina tinha que desbravar no Brasil. A tal equipa que Portugal obrigara a esperar mais quatro anos para chegar a estas andanças (em 2010, a seleção nacional venceu no playoff de acesso ao Mundial da África do Sul). É verdade que tinham Pjanic, Misimovic e, sobretudo, Dzeko, homem que, com 10 golos e quatro assistências, foi o nome com a relação mais séria com os golos a fase de qualificação. Chegava para assustar, ou não?

Duelos anteriores entre Argentina e Bósnia era coisa rara. Só aconteceu por duas vezes e os sul-americanas venceram sempre – em 1998, uma imberbe Bósnia foi a Buenos Aires para ser goleada (5-0) e, em 2013, a coisa foi mais equilibrada e só dois golos de Sergio Aguero deram a vitória aos argentinos.

Nem se chegou a perceber. Ouviram-se os hinos, ambos sem letra ou direito a cantoria e, assim que o jogo arrancou, a Aguero ganhava um livre para a Argentina, à esquerda do ataque. Lá foi Messi, el capitán, La Pulga, o pequeno canhoto a quem todos desejam que seja desta que desponta num Mundial. Pegou na bola, ajeitou-a e cruzou-a para a área. Ela tocaria na perna de Kolasinac, defesa bósnio que nem se conseguiu mexer para evitar que a bola entrasse na própria baliza. 1-0 e confirmava-se a mania madrugadora dos autogolos no Brasil – se o de Marcelo, na partida inaugural, apareceu aos 10 minutos, o de Kolasinac surgiu logo aos dois minutos e dez segundos. O golo mais rápido, para já, deste Mundial.

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Isto contando apenas os assinados por jogadores de campo. Porque já houve outro. Foi no França-Honduras, quando Valladares, guardião da seleção do Pacífico, empurrou para a própria baliza uma bola que o poste lhe enviara contra a mão, após um remate de Benzema, aos 48 minutos. E, de repente, o que tinham Neymar, Van Persie, Robben e Benzema em comum? Dois golos e o facto de estarem a perseguir o autogolo como melhor marcador deste Mundial. Engraçado.

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Feito o golo, a Argentina podia agora testar a estratégia que Alejandro Sabella montara: o 5-3-2 escolhido à última hora (já no estágio para o Mundial) para disfarçar as fraquezas que nem tanto talento atacante consegue mascarar. Campagnaro, Fernández e Garay eram os centrais, com Zabaleta e Rojo nas laterais, a correrem ao largo de Mascherano que, à sua frente, tinha Di Maria e Maxi Rodríguez. Ou seja, só havia um trinco, dois extremos armados em médios a secundá-lo e, no ataque, o par de Messi e Aguero a tentarem improvisar alguma coisa. Era esta a sensação que passava. E a soma das partes dava isto – fragilidade.

Os argentinos até tinham mais bola (chegaram ao intervalo com 60% de posse), mas, com ela, não faziam nada. Di Maria e Rodríguez escondiam-se entre os médios bósnios e Messi, cada vez que lhe tocava, pouco espaço tinha para ludibriar quem lhe aparecesse à frente. À esquerda, Rojo dava o que um central de origem podia dar. Quase nada. Só as correrias de Zabaleta, à direita, espicaçavam a equipa ao surgir embalado no ataque, chamar a atenção dos bósnios e abrir algum espaço para os restantes argentinos. De resto, além do remate de Mascherano às mãos de Begovic, aos 32 minutos, nada mais os sul-americanos fizeram.

E os bósnios? Ui, esses foram insistindo. Logo aos 14 minutos, a bola chegava a Misimovic, à entrada da área argentina, que a decidiu levantar por cima da defesa para, a meio do caminho, se encontrar com Hajrovic. Por pouco que o médio não lhe chegou, já que Sergio Romero deu uns passos à frente e conseguiu antecipar-se ao bósnio. Aos 41′, foi Lulic a saltar num canto e a cabecear a bola para Romero lhe dar uma patada. A Bósnia quase marcava e os argentinos nem reagiram. Que alívio lhes deu o intervalo. E Messi, o que andou a fazer? Uns passes aqui e umas fintas ali, mas o seu pé estava longe de ser o pincel que pinta sempre perigo por qualquer relvado que lhe dê uma tela.

A segunda parte tudo mudou. Bendito o treinador Sabella, que teve olho para entender que, desta forma, não dava. Por isso, tirou um central do relvado e atirou Fernando Gago (um médio) lá para dentro. Higuaín, avançado, foi atrás e mudou tudo para um 4-3-3. O habitual, portanto. E as coisas melhoraram muito. Messi passou a poder esconder-se numa ala para depois vir pedir a bola ao meio, entre os jogadores bósnios. Mascherano deixou de ser o único bombeiro na equipa e, com Higuaín, a Argentina tinha um par de pés fixo na frente, para servir de ponto de referência para tabelas.

Foi isso que aconteceu. Aos 65 minutos, e já depois de Hajrovic acordar as mãos de Romero, com um livre direto, Messi sentiu saudades. Afinal, há quanto tempo não se plantava à direita, encostado à linha, à espera que uma bola lhe chegasse para ligar o turbo e começar a cortar para dentro? No Barça, há muito que deambula e aprendeu a variar as formas de marcar golos.

Antes, no início de tudo, enquanto Pep Guardiola não se lembrou de o colocar ao centro do ataque, as coisas aconteciam sempre da mesma maneira. Messi recebia a bola, virava-se para dentro e passava-a para o avançado. Depois, corria na sua direção, ele devolvia-lhe a bola e Messi prosseguia, sempre para dentro, simulando o remate até que nenhum defesa faltasse por enganar. Até que, aí sim, disparava a bola, em arco, bem perto do poste esquerdo da baliza. Dejá vù no Maracanã – Lionel Messi acabava de fazer isto mesmo e dava o 2-0 à Argentina. Oito anos depois (2006, contra a Sérvia e o Montenegro), o craque voltava a marcar num Mundial. Os mesmos que demorou Maradona, entre 1986 e 1994. E agora, já acreditam em coincidências?

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Os bósnios voltariam a dizer que não quando, aos 84′, Vedan Ibisevic recebeu um passe de Lulic, dentro da área, e fez a bola passar por entre as pernas de Romero para marcar. 2-1 e, de repente, a mesma pergunta se aplicava aos dois treinadores: porquê começar o jogo a inventar? Sabella com os seus cinco defesas e Susic, com apenas um avançado no ataque. O seleccionador bósnio rendeu-se ao receio e não arrancou o encontro com o 4-4-2 que lhe dera a qualificação para o Mundial, na qual Dzeko e Ibisevic marcaram 10 e oito golos. O esquema que demorou 15 minutos (Ibisevic entrou em campo aos 69′) a dar-lhe um golo contra os argentinos. Pois.

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Era tarde demais para a Bósnia. O jogo acabaria pouco depois e, agora, os balcânicos têm uns dias para ficarem a pensar no “e se”. Os argentinos, e Alejandro Sabella, podem e devem mentalizar-se que só com quatro defesas, um escudeiro à altura de Mascherano (que tal Enzo Pérez?) e três homens na frente, para Messi ter postes para bater bolas, é que vão lá. Se a Argentina insistir no 5-3-2 e na confusão que foi a primeira parte, é difícil que, a 13 de julho, reapareça no Estádio Maracanã para discutir a final da Copa do Brasil.