Letizia e Felipe vão continuar a viver na casa que ocuparam até agora, o Pavilhão do Príncipe, a 500 metros do Palácio da Zarzuela onde vive Juan Carlos, mas essa será uma das únicas coisas que se vai manter inalterada nas suas vidas. Especialmente na de Letizia, até agora acostumada a fugir ao peso da coroa, ora com encontros com as amigas, ora com concertos de música indie. Há dez anos, quando casou com o príncipe das Astúrias, Letizia disse que seguiria o “inestimável exemplo” da Rainha Sofia. A partir desta quinta-feira, esse papel é seu e será ela a dar o exemplo, não só à sua filha Leonor, que um dia também será rainha, mas aos espanhóis e espanholas que estão cada vez mais descontentes com o papel da monarquia no país.

Na troca de cadeiras da abdicação de Juan Carlos, o papel mais ingrato talvez seja o de Letizia. Não só vai suceder ao membro mais querido da família real – os espanhóis aprenderam a gostar da serenidade e firmeza da Rainha Sofia, que nunca se envolveu em escândalos e, por isso, consegue ser mais popular que o marido -, como ao contrário de Felipe, não foi educada para assumir este tipo de responsabilidades. Mas já teve dez anos para se preparar. Apesar de não lhe apontarem nenhum erro ou polémica de maior relevância – nem sempre dar precedência ao marido e uma intervenção estética ao nariz, desvalorizada pela Casa Real como uma operação por razões de saúde -, ser princesa é diferente de ser rainha.

Até agora Letizia tem aproveitado o melhor dos dois mundos desde o seu casamento. Acompanha o marido nas ocasiões formais e desde 2007 até tem uma agenda própria em que se bate por temas ligados à infância, à juventude, à educação e à saúde. Ao mesmo tempo, é normal vê-la a jantar com amigas em restaurantes madrilenos da moda, encontrá-la em concertos de bandas rock ou indie – os géneros musicais que parece preferir – e vê-la a usar roupa da Zara ou da Mango. Para além disto, quis dar às filhas uma “infância o mais normal possível”, sendo habitual vê-la a ela ou ao príncipe a irem levar ou buscar as meninas à escola. Uma rotina que já foi alterada desde que Juan Carlos anunciou à família em janeiro que iria abdicar e que seria difícil manter após esta quinta-feira.

A mesma casa, responsabilidades muito diferentes

Os futuros reis de Espanha optaram por continuar a viver na mesma casa que ocupam desde que se casaram. O Pavilhão do Príncipe é uma moradia com cerca de 1.800 m², com cinco quartos, três salas de estar e dois escritórios, rodeada por um grande jardim que a liga ao Palácio da Zarzuela, residência dos antigos reis de Espanha. Prevê-se que Juan Carlos continue a viver no palácio, mas deixará o rés-do-chão, local onde costuma tratar dos assuntos da coroa, para usufruto do novo rei. Já Sofia, é possível que se mude para o palácio de Marivent, em Maiorca. Manter a mesma casa será também uma maneira de manter uma relativa estabilidade na vida das duas filhas do casal.

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No entanto, Letizia terá agora responsabilidades muito maiores. Apesar da rainha em Espanha não ter um papel constitucional, é esperado que represente o país em fóruns e eventos internacionais, sendo a cara a título individual não só da Casa Real, mas também do país. Esta exposição traz desafios e oportunidades para a nova rainha. Estará mais do que nunca sob o escrutínio público – algo que tem combatido como princesa através do perfeccionismo e ambição que os mais próximos lhe reconhecem, embora seja sensível às críticas -, mas também se poderá mostrar às pessoas e encabeçar um novo ciclo na monarquia espanhola, usando para isso as suas origens de classe média e promover assim uma maior identificação com a maior parte dos seus súbditos.

Essa mudança começa já quinta-feira, com os pais da princesa a marcarem presença na entronização do genro. Letizia vem de uma família de classe média, o pai é jornalista e a mãe é enfermeira, e antes de ser princesa, apresentava o jornal da noite na TVE. Os pais de Letizia são divorciados e ela própria também já tinha sido casada antes de namorar com Felipe. A princesa tem vindo a romper alguns dogmas da família real ao decidir amamentar as filhas e tem também passado por situações difíceis com grande atenção pública, como o suicídio da sua irmã Erika, em 2007.

Sofia e Letizia: descubra as diferenças

Em público, a Rainha Sofia e Letizia parecem ter uma boa relação e os cronistas da família real apontam que o casal e as suas filhas têm sido um apoio para mãe de Felipe nos momentos mais controversos, como o julgamento do genro Iñaki Urdangarin e os conflitos com o rei. Mas as diferenças entre as duas são grandes e assinalam as diferentes gerações em que nasceram e em que vivem.

Sofia é filha do rei da Grécia e foi educada para assumir um papel real. Vem de uma das famílias reais mais conservadoras e religiosas da Europa e isso teve repercussões na sua personalidade. É uma mulher serena e discreta, que não gosta de escândalos. É também uma grande desportista, praticando ski e vela. Gosta de arqueologia e música clássica. Já Letizia prefere bandas como Los Planetas, uma banda espanhola de música indie, vai com regularidade ao cinema e a sua cidade preferida é Nova Iorque.

Parecem acertar agulhas num tema: moda. As duas, cada uma à sua maneira, impõem tendências. Sofia tem um estilo clássico, recorrendo sempre aos seus estilistas de eleição Margarita Nuez e Alejandro de Miguel. Já Letizia usa nas ocasiões formais e atos oficiais roupa da autoria de Felipe Varela, mas fora dos olhares públicos não tem problemas em usar roupas de marcas de grande distribuição.