Em 2013, a Reiter Affiliated Companies (RAC), uma empresa americana de produção de fruta, lançou uma campanha internacional de recrutamento e contratou 40 portugueses. Metade desistiu depois do primeiro dia. Ao final da primeira semana já não havia nenhum português a trabalhar na quinta da RAC em Odemira. A empresa acabou por contratar 160 trabalhadores tailandeses, uma alternativa mais cara mas, aparentemente, mais segura. “Eles [os portugueses] queriam um trabalho mas acabou por não ser aquilo que estavam à procura. Basicamente, era trabalho a mais para o pouco que ganhavam (a empresa paga o salário mínimo nacional aos trabalhadores)”, explicou Arnulfo Murillo, o gestor de produção da quinta, citado pelo New York Times (NYT).

As razões pelas quais o trabalho agrícola não atrai portugueses “são complexas mas resumem-se a um simples facto”: não fazem sentido a nível económico. Esta questão, explica o jornal norte-americano, diz muito sobre os desafios que o país e a Europa enfrentam, especialmente no que diz respeito à promoção de oportunidades de trabalho para a geração mais jovem.

O setor agrícola representa 2,4% da produção económica nacional e o problema em relação à falta de oportunidades de trabalho na área agravou-se com os subsídios da União Europeia, que valorizam os níveis de produção em detrimento do valor dos salários, a combinação do valor do salário mínimo nacional e a existência de certos benefícios para desempregados e, por último, a questão da imagem ainda associada ao trabalho agrícola.

Para José Alberto Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, a falta de trabalho é um problema real para os agricultores locais. Os jovens preferem trabalhos de verão ou estágios internacionais do que trabalhar numa quinta, algo que “não é bem visto em Portugal, por ser um trabalho mais do passado do que do futuro”. “Portugal tem um sistema de apoio para os desempregados que os apoia financeiramente, trabalhem ou não. A nossa geração mais jovem foi educada de modo a esperar um lugar ao sol, não a ter que fazer trabalho duro nos campos”, acrescentou.

Com o objetivo de aumentar a taxa de empregabilidade entre os jovens, o Governo criou algumas medidas destinadas à camada mais jovem da população, entre as quais os programas de estágios profissionais, alguns na área da agricultura. Mas estas medidas não serviram de incentivo suficiente aos jovens portugueses. De acordo com Catarina Santos Ferreira, advogada do trabalho na empresa portuguesa ABBC, os subsídios agrícolas comunitários contribuíram para o problema que existe atualmente no setor. “Os subsídios comunitários deveriam ter sido utilizados para a reestruturação das atividades agrícolas, para que os agricultores pudessem pagar salários mais elevados, mas isso não aconteceu”, explicou a advogada ao NYT. “Se o salário for baixo e se as pessoas estiverem a receber subsídios de desemprego, não é de estranhar que prefiram ganhar o subsídio e ficar em casa em vez de fazerem um trabalho considerado pesado”, concluiu.

A contratação de cada trabalhador tailandês acaba por sair quase 2000 euros mais cara do que a contratação de um trabalhador português: implica o pedido de visto, um bilhete de regresso à Tailândia e alojamento. Mas, ainda assim, a RCA prefere fazê-lo. De acordo com Eduardo Lopes, o dirigente das operações da empresa em Portugal, o retorno desse investimento é bastante alto: os tailandeses trabalham rapidamente e são muito cuidadosos, já que não esmagam a fruta que apanham.

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