Isaura Rocha é a nova comandante da corporação de bombeiros de Entre-os-Rios, Penafiel, onde, diz, os homens aceitaram a sua liderança sem qualquer constrangimento.
“No seio da corporação não senti qualquer constrangimento”, afirmou à Lusa, acrescentando: “fui criada aqui e os homens sempre se habituaram a estar comigo”.
Com 33 anos, Isaura Rocha é a primeira comandante de uma corporação de bombeiros no interior distrito do Porto.
À Lusa disse comandar uma corporação com cerca de meia centena de bombeiros, a maioria homens,
O corpo ativo integra 10 mulheres e na escola de estagiários estão atualmente 19 alunas.
Isaura Rocha tomou posse como comandante, após sete anos como adjunta de comando. Entrou para os Bombeiros de Entre-os-Rios em 1994, depois de conseguir convencer o então presidente da corporação a abrir uma escola para mulheres.
“Cresci dentro do corpo de bombeiros. Iniciei o meu percurso pela fanfarra, onde era mascote e tocava um instrumento”, contou Isaura Rocha.
A comandante admitiu ter observado alguma resistência entre os homens de outras corporações.
“Quando entrei para adjunta de comando, há sete anos, notei alguma relutância e apreensão por parte dos homens, não tanto no meu corpo de bombeiros, mas em corporações de fora”, referiu.
No teatro de operações e nas reuniões de comando distrital, a comandante de Entre-os-Rios diz ter-se apercebido até de alguma “intimidação” de alguns operacionais.
“Eles sentiam-se um pouco intimidados e não gostavam da minha presença”, observou.
Apesar das dificuldades, Isaura Rocha desvalorizou a questão do género, destacando que “o importante é ser-se profissional e ter a formação adequada”.
“Existe alguma dificuldade enquanto elemento do comando, independentemente de se ser homem ou mulher, porque, acima de tudo, nós temos de tentar criar uma relação interpessoal com os bombeiros, de interajuda. Isso é, por vezes, é complicado”, considerou.
Isaura sublinhou, por outro lado, a dificuldade de conciliar a paixão pela atividade, o casamento e os dois filhos, numa vida profissional totalmente dedicada aos bombeiros.
“Só com um forte apoio familiar é possível conciliar esta paixão”, confessou Isaura Rocha, explicando: “Muitas vezes estou em casa e sou chamada e a família é que fica com os meus filhos”.
Os dois menores, de cinco e três três anos, até já têm farda e querem ser bombeiros, seguindo as pisadas dos pais.
“Os meus filhos querem ser bombeiros, mas não foi algo que lhes tenha transmitido”, explicou, observando ainda: “Penso que é algo que não se transmite, nasce connosco. Um bombeiro tem de ter a essência do voluntariado, não basta querer”.
A presença de uma mulher no comando é bem aceite pelos colegas de quartel.
Adrião Dinis, chefe na corporação, disse à Lusa ser um “orgulho” ter uma mulher naquelas funções.
“É a segunda mulher no distrito do Porto a assumir um cargo destes. É uma jovem com grandes capacidades, que nos conhece bem e não tenho problema nenhum em trabalhar com ela, enquanto comandante”, declarou.
A opinião é partilhada por Ana Rita, de 22 anos, e uma das 10 mulheres ligadas à corporação de bombeiros.
“Nota-se mais sensibilidade no facto de ser mulher e isso faz com que a sua mensagem chegue mais depressa do que se fosse um homem”, disse a jovem bombeira.