Paulo Portas falou esta sexta-feira, pela primeira vez, sobre o processo judicial que condenou o ex-cônsul honorário de Portugal em Munique por corrupção na venda de submarinos alemães a Portugal e à Grécia. “Da primeira vez que fui a Munique, onde todos os anos há uma conferência de segurança, o meu chefe de gabinete avisou-me que cônsul era uma pessoa algo maçadora e que não aceitasse ir jantar com ele”, respondeu ao deputado do PCP, António Filipe, que o questionou diretamente por um processo que já tem condenações.

Durante a audição na comissão parlamentar de inquérito a sete contratos de reequipamento militar, o ex-ministro da Defesa garantiu que só viu o cônsul honorário, Jurgen Adolff, no aeroporto e no carro que o transportou dali para o hotel e considerou mesmo que “o mundo está cheio de gente que pretende tirar proveito comercial de pretensões que não tem”.

Também o deputado do BE João Semedo questionou Portas sobre o mesmo processo, tendo o atual vice-primeiro-ministro recordado que o cônsul foi demitido quando se soube que estava envolvido num processo judicial. Isto aconteceu em 2010, já com um Governo socialista.

Numa segunda ronda de perguntas, e perante questões do PS, o ex-ministro da Defesa garantiu que “não houve ministro da Defesa que tivesse ido a Munique e não tenha encontrado o cônsul honorário”, voltando a reiterar “a escassez” de contacto com aquele representante do Estado português. Portas não gostou, porém, do tom da pergunta do socialista José Magalhães e respondeu-lhe que “hoje em dia é fácil difamar pela insinuação”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este, aliás, foi o único momento mais tenso durante a reunião, que decorreu de forma distendida. Houve mesmo tempo, ao longo das mais de quatro horas de audição, para bom-humor e até risos na sala.

“À vontade” no caso BES, diz Portas

O conflito de interesses de empresas do Grupo Espírito Santo no processo de compra dos submarinos esteve também em cima da mesa. Na quarta-feira, Castro Caldas criticou o facto de empresas-irmãs terem assessorado o fornecedor (GSC) e o comprador (Estado português) ao mesmo tempo. “Estou completamente à vontade”, respondeu o vice-primeiro-ministro a Semedo, recordando que a Escom assessorava o contrato de contrapartidas do GSC desde antes de tomar posse e que o consórcio bancário de que o BES fez parte foi escolhido pelo Estado português “por leilão transparente”.

Portas explicou que fez um leilão dirigido a dez entidades, recebeu seis propostas e escolheu entre duas. O PS queixou-se que os documentos relativos a esse leilão não foram entregues à comissão parlamentar de inquérito.

“Acharia bem que o financiamento fosse de um banco alemão? É que o segundo classificado era o Deustche Bank”, explicou.

As suspeitas de financiamento ilegal do CDS por causa do negócio dos submarinos acabou por entrar também na discussão pela voz do BE. Semedo falou mesmo em “teia de subornos e corrupção”. “Essa tese foi a julgamento e as pessoas foram absolvidas e é isso que conta”, respondeu, referindo-se ao caso Portucale.