Experiência em cargos governativos parece ser a tónica da próxima Comissão Europeia liderada por Jean-Claude Juncker. Os 18 países que já escolheram comissário nomearam governantes de topo ou optaram por manter a sua representação na Comissão por mais cinco anos – muitos deles com esperança de manter também a pasta. Mulheres é que há poucas, ao contrário do que foi pedido pelo novo presidente da Comissão. Em Portugal, o silêncio mantém-se, mas o país não pode arriscar perder a corrida e a solução será enviar também um peso pesado.
O primeiro-ministro adiou a decisão sobre o próximo comissário europeu português para o fim de julho – como disse após o infrutífero Conselho Europeu de há duas semanas – e assim deve continuar, já que Pedro Passos Coelho passará o resto da semana em Díli na Cimeira dos Países da CPLP. Mas o tempo escasseia e o nomeado tem de ser de topo – de preferência uma mulher, com experiência governativa e que conheça o país e que esteja habituada a representá-lo ao mais alto nível em Bruxelas. Entretanto os restantes Estados-membros tomam a dianteira e 18 já escolheram mesmo o seu candidato, ao passo que outros quatro estão a dias de o fazer. A experiência em funções governativas parece ter sido o critério comum.
Se estes nomes forem aprovados pelo Parlamento Europeu – os candidatos são ouvidos e questionados e só depois aprovados em conjunto -, haverá pelo menos três antigos primeiros-ministros como comissários. Finlândia, Letónia e Estónia vão enviar para Bruxelas antigos chefes de Executivo na esperança de conseguirem boas pastas – o ex-primeiro-ministro finlandês saiu mesmo do executivo para tentar manter a pasta do Euro detida por Olli Rehn, que agora é eurodeputado. Fala-se também em Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia, mas este já indicou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, para Alto Representante da União Europeia – um cargo do colégio de comissários dos 28, mas que tem uma importância acrescida já que faz a representação externa da União.
Este cargo está também a ser disputado por Itália, que já indicou a sua ministra dos Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, para o lugar. Esta opção não é unânime nos países e de Leste, o que causou um impasse no último Conselho Europeu. Os restantes ministros em funções de partida para Bruxelas são Phil Hogan, ministro do Ambiente da Irlanda, Vytenis Andriukaitis, ministro da Saúde da Lituânia, Karmenu Vella, ministro do turismo de Malta, Vera Jourova, ministra do Desenvolvimento Regional da República Checa, e Miguel Arias Cañete, atual ministro da Agricultura em Espanha – sendo as suas pastas atuais nos governos nacionais, uma indicação das suas aspirações na Comissão.
Quem também está na corrida para a pasta do euro é Pierre Moscovici, ex-ministro das Finanças de França, nomeado por Hollande. Já Cameron, anunciou no meio da sua remodelação via Twitter, que a aposta do Reino Unido é Lord Hill, ex-líder da Câmara dos Lordes. Esta escolha pode vir a afetar ainda mais as relações entre o primeiro-ministro britânico e Juncker, já que este lhe teria pedido uma mulher para dar um lugar de destaque ao país. Sendo assim, o Reino Unido arrisca-se a ficar com uma pasta de segunda linha.
Muitos ficam e outros tantos são candidatos ainda sem nomeação formal
Alemanha, Roménia, Bulgária, Áustria, Eslováquia e Croácia já anunciaram que querem manter as pastas e os comissários que têm atualmente na equipa liderada por Barroso. Assim fica mais díficil a outro país pedir a pasta da Energia, Agricultura, Ajuda Humanitária, Desenvolvimento Regional, Relações Inter-institucionais e Administração e Defesa do Consumidor (respetivamente), porque, mais um vez, a experiência conta nestas coisas e as várias comissões mostram que é vulgar um comissário permanecer dois mandatos na mesma posição. Embora ainda não haja anúncio formal, a Suécia parece querer seguir esta tendência, fazendo permanecer a sua comissária dos Assuntos Internos.
Na Holanda, tudo indica que o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças com ambições para a pasta do Euro ou outra com relevância para a economia europeia. Já a Hungria deve nomear o ministro dos Negócios Estrangeiros, Tibor Navracsics. A Grécia também ainda não tem certezas, mas Samaras estará inclinado a enviar Stavros Papastavrou, seu conselheiro para os Assuntos Europeus e que terá provado ao primeiro-ministro durante a recente presidência grega do Conselho da União Europeia.
Entre nomeações e estas previsões há apenas três mulheres. Um número que fica muito àquem da igualdade de género prometida por Jean-Claude Juncker. Ou o ex-primeiro-ministro luxemburguês pede aos países para trocarem os seus nomeados por mulheres ou não cumpre a promessa feita. Parece ficar em melhores condições de exigir melhores cargos quem à partida apresentar candidatos consonantes com as as características pedidas por Juncker.