O presidente da Associação de Investidores do Mercado de Capitais disse esta segunda-feira já ter recebido queixas de acionistas do BES que ficaram no banco “mau” e censurou o governador do Banco de Portugal por ter incentivado os investimentos.

“Há algumas queixas de acionistas, que compreendem a solução”, mas “sem dúvida nenhuma, outros acionistas vão começar a queixar-se”, admitiu à Lusa o presidente Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais (ATM).

De acordo com Octávio Viana, os acionistas que contactaram a associação “querem saber o que é que podem fazer” e têm-se queixado de ter confiado nas palavras do governador do Banco de Portugal.

“A única coisa de que se queixam é que investiram confiantes nas palavras do governador do Banco de Portugal”, adiantou o responsável, criticando também Carlos Costa em nome da associação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Há da nossa parte uma palavra de censura porque achamos que o governador do Banco de Portugal devia ter sido mais reservado e devia ter tido mais cuidado com aquilo que falou nos últimos tempos”, disse.

“De alguma forma, [Carlos Costa] alterou o juízo que as pessoas estavam a fazer do banco [BES], criou ali confiança, veio dizer que o banco estava solvente, deu uma série de indicações que levaram umas pessoas a comprar ações e outras a não vender”, acrescentou.

Ainda assim, Octávio Costa admite não ser possível apurar se o Banco de Portugal pode ser responsabilizado e reconhece que apelar aos tribunais pode ser pouco frutífero para os acionistas em causa.

“Estamos a analisar isso. Nós procuramos sempre situações que sejam eficazes e que resultem nalguma coisa. E muito sinceramente, apesar de acharmos que há matéria de facto para irmos a tribunal, achamos que não é eficiente”, afirmou o presidente da ATM, questionando a possibilidade de “alguém pagar a falência” do banco.

“Tomemos nós a ação que tomemos, é impossível recuperar as perdas dos investidores”, concluiu.

O até agora Banco Espírito Santo foi dividido em dois: um banco “bom”, chamado Novo Banco que será recapitalizado com 4.900 milhões de euros recebidos do Fundo de Resolução e que contará com os ativos valiosos que restam do banco e um banco “mau”, onde ficam os ativos tóxicos — como as dívidas do Grupo Espírito Santo e a participação maioritária no BES Angola — e que continua a chamar-se BES.

É deste BES que os acionistas passam a ter ações, cujo valor será nenhum ou quase.

A solução foi anunciada no domingo pelo governador do Banco de Portugal, tendo o Ministério das Finanças afirmado em seguida que os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com o financiamento do BES e que a Comissão Europeia aprovou a solução.

O Novo Banco será liderado por Vítor Bento, que substituiu o líder histórico Ricardo Salgado, e a quem coube dar a conhecer prejuízos históricos de quase 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre.